Pepa: as barracas no futebol português, o candidato Braga e um "campeão justíssimo"
ENTREVISTA, PARTE II - Treinador nomeou os bracarenses como a equipa que mais dificuldades criou ao Paços em 2019/20. "Deram-nos um chocolate suíço", atira. Casos de V. Setúbal e Aves "são ridículos".
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Pepa já queria, por esta altura, ter um calendário para preparar a época, e afirma que o futebol português está a passar "uma imagem de amador".
Em condições normais, o sorteio da Liga já se tinha realizado. Qual é a sua opinião sobre os casos V. Setúbal e Aves?
-É ridículo. O que é que eu posso dizer? É mau para o nosso futebol. Estamos a falar da sexta melhor liga da Europa e temos estas barracas. Sinto-me envergonhado. Somos tão competentes em tanta coisa e não percebo o que é que custa despromover um clube que não cumpre com isto, isto e isto. Depois, temos clubes onde dez jogadores rescindiram, onde está a verdade desportiva? Que plantel é que o V. Setúbal vai fazer? E o Portimonense? Só vamos ter calendário duas semanas antes do início do campeonato? E quem vai ao sorteio, o Arouca, o Vizela? Não consigo compreender. Mas, prefiro comer a minha pescadinha e fazer o meu, só que quando me perguntam não deixo de dar a minha opinião e isto é passar uma imagem de amadores, como é uma vergonha o que se está a passar no Novo Banco.
Qual foi a equipa mais difícil que anulou o Paços por completo?
-O Braga. Quer tenha sido o do Sá Pinto ou os restantes. Fomos ganhar a Braga, mas levámos um chocolate suíço... foi chocolate, foi queijo, foi tudo. Tivemos nesse dia o São Ricardo na baliza e um super-Tanque na frente. Pelo meio, tivemos nove heróis que no final quase que desmaiavam de cansaço. Na Taça da Liga fomos atropelados e na segunda volta fomos goleados.
E que avaliação faz deste Braga que já contratou, entre outros, o Nico Gaitán?
-O Braga para mim é um sério candidato ao título. Os ovos fazem as boas omeletes, ou seja, têm um treinador competente, um presidente que pôs o Braga num patamar de topo e aliado ao facto de o terceiro lugar na próxima época dar acesso à Liga dos Campeões, julgo que será o ano de carregar as fichas todas. O Braga tem tido plantéis incríveis e agora com os reforços que está a contratar... é impressionante.
Um dia vai chegar a um grande?
-A cada ano que passa sinto-me mais preparado, não para um grande, porque grande é o Paços de Ferreira, o Moreirense ou a Sanjoanense dentro da sua dimensão. Vou a São João da Madeira e a Sanjoanense é gigante. Portanto, sinto-me preparado para vir a treinar um clube grande aqui ou lá fora.
"O FC Porto foi um campeão justíssimo"
A vitória do FC Porto no campeonato não merece contestação, na opinião de Pepa. "Se estivéssemos a falar de uma corrida de 100 metros, em que às vezes é preciso o photo-finish ou em que há falsas partidas... agora numa maratona quem chega ao fim em primeiro é sempre justo. É justíssimo", avalia, nomeando Vítor Oliveira como o melhor treinador do ano. "Aí já não vou para quem foi campeão. Votaria em primeiro lugar no Vítor Oliveira, porque o Gil Vicente veio do Campeonato de Portugal diretamente para a I Liga, como um patinho feio que não tinha hipóteses, e em segundo no João Pedro Sousa, do Famalicão", explicou.
Enterrado depois de morto
Pepa aceitou o desafio de contar uma história por cada clube onde passou. "Na Sanjoanense era a união. Havia carga policial nos adeptos? A malta também ia [risos]", recorda. "No Feirense, perdemos em casa um jogo-treino com o Varzim por 5-0. No final, o Quim Berto, meu amigo e então treinador do Varzim, disse-me que com aquela equipa eu estava f*** ao que respondi que íamos ganhar os dois jogos para o campeonato. E ganhámos", acrescenta. "No Moreirense, o Boateng faz um golo ao V. Setúbal (1-0), tira a camisola onde se lê a minha hora chegou. Levou o segundo amarelo, foi expulso e perdemos 2-1. Dias depois, fui despedido. No Tondela recordo sempre a vitória na Luz e no Paços posso partilhar que temos um jogador que demora a recuperar. Houve uma fase que andávamos a jogar domingo-quarta-domingo e perguntámos-lhe se estava morto, ao que ele nos respondeu que ontem é que estava morto, pois hoje estava enterrado."
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