Pedrinho, 33 anos, não quer a equipa à defesa, finta qualquer culto pelos jogadores do Benfica, foca-se apenas em Di María e pede-lhe ajuda para o único sonho que desejava concretizar. Médio atesta que a emoção de defrontar o “maior clube português” será grande, mas afasta qualquer temor.
Corpo do artigo
Uma história no futebol do Pevidém sem igual, um amor sem precedentes, o primeiro, só por isso arrebatador, de berço, de casa e de envolvência. Ainda tentou o sonho de ser algo mais no futebol quando jogou na formação do Vitória mas o caminho da realização e do conforto sempre o trouxeram a uma vila regada de paixões, laços indestrutíveis que fortalecem a mente e o jogador. Aos 33 anos, Pedrinho cumpre já a sétima época seguida desde que voltou ao Pevidém Sport Clube, fundado das cinzas do Grupo Desportivo, em 2006.
Veste a camisola dez, é mago com a bola nos pés, e com simpatia generosa é anfitrião do clima de excelência no humilde clube de Guimarães. Olhar carregado de malandrice, uma careca e um bigode que o distinguem como atrevido, e um ritmo de palhaçadas num treino que contagiam os companheiros. Ninguém fica indiferente a um jogador com aroma da região, acentuação própria e descaramento maior. Nem vai ele à conferência de Imprensa. Dizem que tem falta de filtros.... Num dos últimos treinos do Pevidém antes da receção de hoje ao Benfica, ouve-se um sonoro “é 4x3x3 e fé em Deus”. Voz de Pedrinho, pois claro... longe de tentar diminuir o trabalho estratégico que imperou para este jogo.
“O 4x3x3 é verdade. O ‘Fé em Deus’ foi um exagero! Temos um plano definido pelo treinador que não vai fugir ao que fazemos nos outros jogos. Há diferenças grandes para os adversários que habitualmente enfrentamos, sejam físicas, individuais, mas vamos adaptar-nos e mostrar o nosso valor e qualidade. Temos de jogar à nossa imagem, se assim não for, é uma oportunidade perdida para todos os que entrarem em campo”, sustenta, reforçando a mensagem, pois não há lugar a autocarros para aliviar o desnível de Champions para o Campeonato de Portugal.
“Não quero, e espero mesmo que não sejamos colocados a defender. Não quero ver medo, temos de ter coragem. É como fazemos na nossa competição, a pressionar alto, aproveitando a qualidade técnica de jogadores que podem chegar a outros patamares”, avisa Pedrinho. Sem papas na língua, já se vê brincando até com os argumentos contrários. “São jogadores bons, de muita qualidade, mas alguns não queria, nem dados! Admirar não admiro nenhum, só o Messi! Mas aprecio o Di María, é o único jogador em Portugal que pode ser visto como figura ou astro do futebol mundial”, atira sem hesitar, cabendo-lhe logo outra provocação... porque é grande a paixão pelo agora craque do Inter de Miami. “Quero uma videochamada com o Messi, espero que isto chegue aos ouvidos do Di María e Otamendi”, brinca o médio-ofensivo, desafiado a pensar como seria uma semana de trabalho com o Benfica como prémio da Taça, ou prévio, se envolvesse algum plano de sabotagem. “Isso seria fantástico, era certo que ia ganhar a camisola do Messi. Ou acontecia mesmo a videochamada. Seria esse o sonho. Sabotar não, espero o Benfica na máxima força e que venha com intuito de nos respeitar”, afirma o jogador, sempre capaz de subir o astral a cada resposta.
Figura no clube e na terra, Pedrinho é também rececionista de uma clínica de fisioterapia e ginásio, pelo que a semana foi marcada por jocosos diálogos com clientes. “Levei com muitos pedidos. Eram quase todos para que partisse as canelas a jogadores do Benfica. Daqueles que não torcem por eles no campeonato. Eu só respondia ‘espero é que ninguém me passe por cima’”.
Emoção vem logo no aquecimento
Apesar do jeito para a palhaçada, há uma parte sentimental que invade o âmago de Pedrinho. “É um jogo com significado especial, por ser o maior momento da história do Pevidém contra o maior clube português. Eu jogo mas também sou adepto e sócio, o Pevidém faz parte das minhas origens. Quem me rodeia ficou mais contente, sentem que merecia um jogo destes. Também acho que sim, poderia ter tido outra carreira e ter tido mais oportunidades destas. Mas sou muito feliz, não trocaria o Pevidém por quase nada”, atesta, tentando manter distante o nervoso miudinho. “Isso será só às 19h30, aí virá o clique quando entrarmos para o aquecimento. Será um jogo grandioso, vou emocionar-me muito aí, durante e no fim. Espero que todos se envolvam nesta onda positiva”, destaca, resumindo ainda a alegria pela oportunidade de colegas numa montra. “Quem é conhecido, que passe a ser mais conhecido. E quem não é, que passe a ser! Com futebol positivo. É essa a imagem que devemos defender para que os jogadores e a equipa técnica sejam valorizados”.
Memória de Rui Costa no calcio
Tatsuya Ishizuka é o jovem investidor do Pevidém, detentor de 80 por cento da SAD, que chegou a Portugal por aceno de compatriotas na Oliveirense. Ferrenho do clube, acompanha diariamente a equipa. Quando viaja para o Japão, equipa toda a gente com as cores do clube do concelho de Guimarães. O filho também joga no Pevidém. O momento, com esta receção ao Benfica, é celebrado pelo japonês, que já espera o lugar na bancada ao lado de Rui Costa.
“Eu amo o Pevidém. Em cada treino sinto-me como um pai a olhar para 24 filhos. Estou confiante que o treinador e os jogadores vão meter muito alma neste jogo”, expressa, vendo a grandeza rival no saldo da bilheteira. “Obrigado, Benfica! Mas vamos ganhar! É uma honra defrontar o clube que tem Rui Costa como presidente, era um ídolo! Não esqueço o dia, em 1998, em que estive no estádio, vendo-o brilhar com a camisola da Fiorentina contra a Juventus do Del Piero”.
Pedrinho solta histórias a um ritmo elevado e em semana de jogo com o Benfica o humor dispara. “Disse ao Sardinha, que é lateral-direito, que pagava para o ver no mesmo metro quadrado com o Di María. Incentivei-o com uma picardia: apesar de se chamar Sardinha, quem ia ser apanhado na rede era o Di María. Dou-me bem com ele mas, provavelmente, nem vai jogar”.
Se Pedrinho tivesse uma varinha mágica, se calhar punha a andar um plano diabólico para o Pevidém derrotar o Benfica. “Temos as melhores pizzas do mundo na Napolitana, aqui em Pevidém. Podia empanturrar os jogadores do Benfica com pizza e pão de alho e já iam entrar no jogo numa situação difícil. Usava a gula deles para depois os ‘matar no campo’”. Uma mente fértil.
Trabalhando como rececionista de um ginásio, Pedrinho partilha a sua sorte. “É um emprego tranquilo, é fácil de conciliar porque quem manda é meu amigo. Facilitam-me muito a vida, não se importam que saia do trabalho às 16h30 e só volte às 18h30. E compreendem que falte de manhã para fazer um jogo amigável. Devo-lhes muito essa compreensão”, atesta.
O Pevidém tem três atletas japoneses e Pedrinho faz por integrá-los. “Já vieram almoçar a minha casa, o Araki passou lá o Natal. Há uma boa integração. Eu faço questão de mostrar-lhes Pevidém e tento conquistá-los pela boca. Também me cobiçam um carro de 250 euros mas não o sabem conduzir. Só percebem de carros com mudanças automáticas”, brinca.