Pareceres da FPF sobre o número de títulos geram discórdia no Sporting: "injustiça" e "aberração"
José Quintela, vogal nos tempos de Bruno de Carvalho, recorda como a reivindicação se iniciou. Soares Franco foge à norma e afirma que a discussão dos títulos nacionais "não faz sentido". No cenário mais otimista, o Sporting terá mais dois títulos de campeão, que se referem aos Campeonatos de Portugal de 1923 e 1934. FPF faz uma assembleia-geral no dia 29.
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A Assembleia Geral Extraordinária da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai decidir, a 29 de junho, como irá reescrever a história dos títulos nacionais de futebol.
O certo, para já, é que a proposta do Sporting de amealhar mais quatro títulos de campeão foi rejeitada, como se pode perceber no quadro que O JOGO hoje retifica: no parecer 1, elaborado por três investigadores da Universidade do Porto e um da Universidade de Lisboa, os leões seriam campeões mais duas vezes, devido a dois dos Campeonatos de Portugal conquistados (22/23 e 33/34).
No parecer 2, do especialista em História do Desporto, Francisco Pinheiro, nomeado pela Universidade de Coimbra, todos os Campeonatos de Portugal (e não só os de 1934 a 1938) equivalem às Taças de Portugal da atualidade. Ora, assim, não se alteraria a contabilização dos campeonatos atuais, tendo o Sporting 19 ganhos.
O JOGO solicitou uma reação do Sporting à notícia da passada segunda-feira, mas o clube prefere aguardar até à conclusão do processo, não fazendo qualquer comentário neste momento.
Entretanto, o JOGO contactou ainda figuras ilustres do Sporting, sendo que a maioria se insurge com o facto de não haver, em nenhuma das possibilidades, uma visão que entregasse os quatro títulos aos leões.
"Conseguimos provar que temos os títulos. É a história. Não nos conformamos", afirma Menezes Rodrigues, ex-presidente do Conselho Fiscal dos tempos de Sousa Cintra.
"Há duas propostas, admito que devesse existir um terceiro parecer, que seria do Sporting. Não se chegou a uma conclusão única, o que mostra como o tema é controverso. Não acho que seja uma derrota, mas é injusto", responde José Quintela, vogal da Direção de Bruno de Carvalho, presidente que moveu esta questão dos títulos para o centro de muitos discursos, luta que foi prosseguida por Frederico Varandas.
"O Sporting fez uma argumentação válida e mostrou como, na altura, independentemente do formato, os vencedores do Campeonato de Portugal eram tidos como campeões. Foi um assunto em que não se quis mexer muito tempo. O presidente Bruno de Carvalho deu corpo, mas os adeptos já sentiam a injustiça", adianta, confiando que a decisão que vier a sair da AG é "mutável" e que o "Sporting não deve desistir", seja qual for o desfecho.
Filipe Soares Franco, ex-presidente do clube, não precisou a sua visão quanto aos atuais pareceres, porém assinalou o porquê de não ter levado esta discussão à ribalta na sua presidência. "Não percebo, reivindicarmos um competição que hoje não existe. Querer integrar campeonatos em Ligas ou em Taças não é histórico e não faz sentido nenhum. É mais importante a forma como se ganha".
À margem dos estudos feitos pelos investigadores credenciados vindos das universidades, dois inquiridos criticam a votação em Assembleia-Geral. "A história não é passível de votação. É uma aberração", dispara Menezes Rodrigues. "Acho inconcebível isto ser votado em AG. É um ato cobarde", assevera Dias Ferreira, ex-dirigente e ex-candidato à presidência.