"Para nós, cada jogo do Reisinho é uma apreensão. Estamos com o coração nas mãos"
O calvário de Reisinho viu o fim com 120 minutos frente ao Leiria. Em quatro anos passou por uma recuperação de dez meses e outra de ano e meio. Pai explica todo o sofrimento
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Chegou com 21 anos ao Boavista, hoje tem 24 e apresenta uma histórico de 23 jogos pelas panteras, divididos por quatro temporadas. Um pecúlio ingrato para quem entrou no Bessa disposto a encantar mas se viu martirizado por lesões, azar agónico de duas graves roturas de ligamentos do joelho esquerdo separadas por um ano - novembro de 2020 e outubro de 2021 -, que o obrigaram a dois processos penosos de recuperação física e anímica.
A crença nunca foi engolida pela dura realidade e a recompensa parece estar prevista para 2023/24, começando como titular e a durar 120 minutos frente ao União de Leiria, em jogo da Taça da Liga. Não cabia no onze desde novembro de 2020, numa vitória, por goleada, ao Benfica (3-0). É o adversário que se anuncia agora, também no Bessa. Reisinho é um jogador acarinhado como poucos no universo axadrezado, pelo que sofreu, obrigado a batalhar por uma segunda vida no futebol. Está a agarrá-la, agora, com unhas e dentes, procurando reviver o prazer do jogo, sem tormentos à espreita, fintando uma perseguição maldosa do destino. Herdou o nome do pai, que foi também profissional. O testemunho do sofrimento e superação vem de casa.
O próximo jogo do Boavista é uma receção ao Benfica e no onze poderá estar Reisinho, um dos mais azarados atletas nos últimos anos. A recuperação foi dura e os sorrisos voltam a colocar-se na cara
"Após ter sido tão determinado e dedicado, até otimista, numa recuperação de dez meses, voltar a sofrer a mesma lesão no mesmo joelho foi terrível. O mundo parecia que tinha acabado ali. Era uma tristeza enorme, vista por nós. Recebeu mensagens de conforto de muita gente e lá voltou mais forte do que nunca, a centrar-se no que precisava de fazer", relata Miguel Reisinho, documentando uma espera sofredora, marcada por inevitáveis interrogações. "Fez tudo direito, com apoio incrível do fisioterapeuta do Boavista, o Tiago Pizzi, e houve um aconselhamento do doutor [José Carlos] Noronha sobre a importância de todas as etapas", descreve.
Há cerca de 32 meses que o médio não era titular em jogos oficiais. Encontrou a alegria contra o Leiria e aponta agora ao Benfica, contra quem foi titular na Liga pela última vez, em 2020/21
"Agora está a iniciar a época limpinho. Queremos que seja de vez! Está a aparecer como opção, foi titular com o Leiria e foi crescendo com o jogo. Acredito que com uma sequência de cinco ou seis jogos ganhará confiança e moral. Mas, para nós, cada jogo é uma apreensão. Estamos com o coração nas mãos. Chega a ser desesperante", desabafa o progenitor, analisando a desenvoltura progressiva do filho.
"Acho que o medo e o receio já lhe passaram. A desconfiança igualmente. Importante é fisicamente estar bem. A parte desportiva vem depois. Acredito que vai muito a tempo de valorizar-se. Quando chegou ao Boavista, sempre pensou em chegar a um grande de cá e, por sequência, um grande da Europa. Tinha objetivos pessoais altos e as lesões fizeram-no repensar as coisas, mas ainda acredita que vai estar no topo", finaliza o ex-jogador.
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