Pandemia colocou jogadores a distribuírem refeições e a cozinharem para os colegas
Em Vila Real e São João da Madeira há dois cozinheiros improváveis, que trocaram a bola pelo avental, e, em Condeixa, Mateus Silva transforma-se em motorista para entregar refeições
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Muitos clubes do Campeonato de Portugal têm acordos com restaurantes para fornecer alimentação aos seus atletas. Mas a pandemia trocou-lhes as voltas quando o estado de emergência ditou o isolamento social e o encerramento dos restaurantes.
Alguns clubes substituíram a ida aos restaurantes pelos serviços take-away. Também há quem não tivesse qualquer acordo deste género, como o Alverca, por exemplo, mas, face à situação atual, tratou de providenciar que 13 atletas recebessem a comida em casa. Depois há histórias de soluções improváveis, como a dos atletas do Vila Real substituírem os restaurantes do almoço e do jantar por um cozinheiro: Prince "safa-se bem" na cozinha, agora o presidente do clube faz as compras para o nigeriano cozinhar.
Mateus Lima não foi propriamente para a cozinha, mas o brasileiro de 25 anos tem responsabilidade idêntica. O presidente do Condeixa pediu-lhe para fazer a distribuição de comida a sete dos seus companheiros, em duas casas, usando a carrinha do clube. "Ligo por voltas das 11h30 para o Intermarché para saber o que têm para o almoço e o jantar. Depois mando mensagem no grupo e eles decidem. Volto a ligar para fazer a encomenda e às 12h30 vou entregar nas casas. Levo o almoço e o jantar", conta o central, satisfeito com o cuidado do presidente em ter deixado "uma caixa de luvas e máscaras".
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Em São João da Madeira, também há um presidente que literalmente trata da despensa dos atletas, aviando a lista de compras que Marcão lhe envia uma vez por semana. O guarda-redes dos juniores, de 18 anos, cresceu, no Brasil, a ver o pai e a mãe como cozinheiros de profissão. "Não estava habituado a comprar e a cozinhar para oito pessoas. Não sabia as quantidades. Precavi-me e sobrou bastante. No terceiro dia, as quantidades foram automáticas, não sobrou nada", diz.
Marcão divide a casa com mais quatro elementos e outros três juntam-se a eles às refeições. Contudo, a partir de hoje mais um elemento vai chegar: é que Elder, companheiro de clube, e Lorena foram pais. "Ele já me disse que vou dormir muito menos, vou ser pai junto", brinca o jovem, que saciou os desejos da grávida dos temperos de Terras de Vera Cruz. Mesmo preferindo "fazer o churrasco à moda do Brasil e feijoada", limita-se a "comida normal", porque não quer "aumentar cinco quilos".