De amor à camisola se faz a história deste clube, que milita nos escalões amadores da Bélgica. E não é nada fácil: "Até os cartões se pagam!"
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Quase 100 quilómetros separam Bruxelas de Brugge, cidade que, esta quarta-feira, será palco de mais um jogo do FC Porto na Liga dos Campeões. E é na capital belga que, a cada fim de semana e com equipamentos semelhantes aos do campeão português - provenientes de Portugal -, o FC Porto Brussels transporta para dentro de campo uma verdadeira história de amor à camisola.
"Inscrevemo-nos na União Belga de Futebol com este nome porque não aceitavam "Bruxelas", por questões linguísticas. Em 2021/22, fomos campeões da Provincial 3, conhecida por P3, e agora competimos na P2 [competição amadora]. Este projeto subsiste à base da nossa paixão e carinho", conta, a O JOGO, Alexandra Rodrigues, portuguesa radicada na Bélgica que é uma das dirigentes do clube, como correspondente qualificada.
"O meu marido [Carlos Azevedo] é o presidente. Eu faço as inscrições, trato de transferências, troco emails com a federação, trato das faturas... E depois há o nosso capitão, o Sérgio Costa, que também faz parte da gestão", explica Alexandra, enaltecendo o papel de quem entra em campo. "Os jogadores também estão connosco por amor. Alguns trabalham nas obras, outros em empresas de limpeza. E ao domingo estamos todos ali para o futebol", diz.
A sobrevivência, apesar do estatuto amador, não é tarefa fácil. Até porque não faltam escalões de formação, em parceria com o Racing Anderlecht. "Condições para as crianças, equipamentos, aluguer de campos, jantar para os jogadores, inscrições... Temos de angariar, pelo menos, 15 mil euros por época. Até os cartões amarelos se pagam! Somos nós que investimos durante o ano e recuperamos no final da época, nos torneios que organizamos e com a participação nas comemorações do 10 de Junho. Todos os anos envio emails ao FC Porto a explicar que ganhámos, que continuamos aqui, na esperança de ter uma ajuda simbólica para ajudar no planeamento e para podermos andar de um lado para o outro. Somos pequeninos, mas sabem que existimos. Temos amor a isto e, enquanto durar, faremos tudo por seguir em frente", garante Alexandra, o incansável motor nos bastidores da versão belga do FC Porto.
"Brugge? Quem me dera..."
"Não é todos os dias que o FC Porto vem cá, mas não nos é possível ir a Brugge", relatou Alexandra Rodrigues a O JOGO. O sonho de assistir a um jogo dos dragões em solo belga fica, por isso, adiado para a "família" do FC Porto Brussels, porque a logística não era fácil. "Tentámos arranjar bilhetes através de conhecidos, mas faltou um clique, um passo em frente. Tive a hipótese em cima da mesa, mas era complicado... Sei que o Sérgio [Costa], o nosso capitão, vai lá estar. Quem me dera poder organizar um autocarro e levar toda a gente", desabafou sobre uma vontade que, aparentemente, foi comum a muitos emigrantes. "Até fui obrigada a fazer uma publicação no Facebook a explicar que não vendíamos bilhetes. Nem imagina a quantidade de pedidos que recebemos", contou Alexandra, sem se estender em lamentações. Pelo contrário: logo depois, recuperou o tom de determinação que assumiu ao longo da conversa com o nosso jornal. E, a terminar, até revelou outro sonho: "Nem que fosse por uns segundos, queria poder dizer olá ao míster Conceição." Quem sabe se não acontecerá na próxima visita portista à Bélgica.
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