TAP eliminou a taxa do desporto que permitia aos clubes pagarem 285 euros por passageiro para viagens para as ilhas e vice-versa. Madeirenses das mais variadas modalidades estão revoltados.
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Até pode estar a passar ao lado do continente, mas a Madeira está, neste momento, a atravessar um terramoto com a eliminação implementada pela TAP da taxa do desporto, algo que levantou ecos de contestação em clubes das mais variadas modalidades, nas associações e até na comunicação social regional.
Filipe Silva, do U. Madeira, esclareceu a O JOGO que a taxa no desporto se cifrava nos 285 euros
Passamos a explicar: até aqui, qualquer emblema que viajasse na TAP das regiões autónomas para o continente ou vice-versa beneficiava da taxa do desporto fixada em 285 euros. Ou seja, os clubes solicitavam a uma agência de viagens a marcação de um voo e as operadoras, mediante a disponibilidade dos voos, marcavam os lugares com o custo dos tais 285 euros por passageiro e com a possibilidade de confirmação ou alteração dos passageiros até horas antes da viagem.
A companhia aérea eliminou, portanto, esta tarifa, evocando que os clubes pagavam valores superiores em 60 por cento dos casos [ler mais abaixo]. Na Madeira, ninguém parece concordar e os clubes estão preocupados quando tiverem de marcar viagens para a época alta, como Natal, Páscoa ou verão.
Pedro Freitas, presidente do CAB Madeira: "Viajamos no Natal, Carnaval ou Páscoa e nessas alturas os preços aumentam"
O JOGO fez uma simulação de uma viagem com um número mínimo de elementos para as datas coincidentes com o arranque da I Liga de futebol e os valores apurados no site da TAP vão muito para além da tarifa do desporto. Convém, também, explicar que cada passageiro madeirense tem um subsídio de reembolso a partir de 86 até 400 euros. Acima deste valor, a diferença não é coberta.
Ora, na simulação feita por O JOGO considerou-se um voo de ida para Lisboa num sábado, tomando em conta que o jogo seria no domingo (o mesmo valor apurado para o Porto diferia em cerca de dez euros). A partida, num ensaio feito sem contar com a tarifa da taxa do desporto, seria feita às 7h00 da manhã por ser o horário mais acessível e sem possibilidade de alterações. Com a taxa, as horas dependiam da disponibilidade do voo.
Feitas as contas para o período referido, com a taxa cada passageiro pagará os tais 285 euros e a equipa um valor total de 6270 euros. Sem a taxa, a equipa pagaria cerca de 466 euros por passageiro e mais de dez mil para a comitiva. Note-se que este valor é referente a uma época alta, mas não invalida que possa ser uma realidade para muitos clubes assim que os calendários forem sorteados.
A possibilidade do valor a pagar ultrapassar o teto máximo dos 400 euros inerentes ao subsídio da mobilidade é uma preocupação transversal. "Viajamos em alturas criticas, Páscoa, Natal e Carnaval, e nessas alturas os preços aumentam exponencialmente. O aumento será significativo", defende Pedro Freitas, presidente do CAB Madeira.
Carlos Pereira, presidente do Marítimo: "Há risco de equipas desistirem devido a uma birra política"
Carlos Pereira, presidente do Marítimo e do Madeira SAD e que só nos maritimistas tem a cargo mais de 20 modalidades - muitas com participação nacional - coloca em causa a continuidade de algumas delas. "Há risco de equipas desistirem devido a uma birra política. Não é só o valor a pagar, é também a alteração da viagem que teremos de pagar. Há grupos que podem marcar com antecedência e outros não porque não se conhece o calendário nem as alterações do mesmo", refere.
Saturnino Sousa, diretor de comunicação do Nacional, clube que trouxe para agenda mediática o problema ao criticar duramente a TAP, alerta para as horas "impróprias" para se viajar. "Poderemos ter de viajar no sábado às 6h00 quando antes podíamos escolher desde que houvesse vaga. É um problema de todas as modalidades e associações. Em 20 deslocações, pode haver quatro ou cinco que sejam mais baratas do que a taxa, mas noutras não", garante. Filipe Silva, presidente do União da Madeira, tem, também, um olhar muito crítico perante a temática.
Filipe Silva, presidente do União: "Acabando esta tarifa nem sabemos o que vai acontecer"
"O princípio da continuidade territorial está previsto na Constituição. Isto não é bom para a unidade nacional. A partir de janeiro, já começámos a ser obrigados a depositar o valor da viagem com 15 dias de antecedência, acabando esta tarifa nem sabemos como isto vai acontecer. Não é possível dar uma comitiva com muita antecedência", avisou.
A alternativa das companhias de baixo custo também não é viável. "As low-cost têm preços semelhantes", relata Pedro Freitas. Segundo o dirigente do CAB, a Federação de Basquetebol irá falar em julho com a secretaria dos Transportes. Carlos Pereira, Pedro Freitas e Filipe Silva apelaram, ainda, à intervenção governamental para mudar o panorama.
Fonte da TAP garante que a nova fórmula é "mais favorável aos clubes e demais agentes"
TAP defende o novo modelo
A TAP refuta as críticas de clubes e associações madeirenses. Fonte da transportadora aérea portuguesa garantiu a O JOGO que o novo modelo é "mais favorável aos clubes", repetindo a tese já propagada após o Nacional se ter atirado à companhia. "Deixando o preço da tarifa de ser fixo e passando a ser disponibilizado em função da disponibilidade de lugares em cada voo, verifica-se que em 60 por cento dos casos o preço agora praticado é inferior ao que seria com a taxa fixa anterior", respondeu a TAP.
A empresa afirma, até, que a anterior tarifa chegava a causar mal-estar entre clubes. "Nos casos em que se verificava que a tarifa fixa de desporto ficava mais cara do que a tarifa comercial mais baixa disponível para o voo em causa, a situação causava desconforto junto dos clubes e agentes desportivos. Com o novo modelo, o produto mantém todas as características especiais: todas as flexibilidades foram mantidas atendendo ao tipo de tráfego nomeadamente ajustes nos nomes dos jogadores, inclusão do nome de árbitros cujas nomeações são conhecidas em cima da hora, alterações das datas de jogos, ajustes nos horários de voos para acomodar os horários dos jogos, etc...", referiu a mesma fonte.
Saturnino Sousa, diretor do Nacional: "Em 20 deslocações pode haver quatro ou cinco que sejam mais baratas. Nas outras não"
Filipe Silva, presidente do União da Madeira, rebateu os argumentos utilizados. "A fundamentação sobre as viagens serem mais baratas em parte é verdade, mas no caso do futebol mal se aplica pois há sempre alterações. Se um clube de I ou II Liga já soubesse até ao fim do campeonato que joga na sexta, sábado ou domingo, conseguiria viagens a pouco mais de 100 euros, mas isso não acontece", referiu. "Diz a TAP que as flexibilidades mantêm-se, mas não temos qualquer comunicação nesse sentido. Só temos o conhecimento deste problema e a questão que deixo é: quem é que o vai pagar?", questionou o líder do clube que disputa o Campeonato de Portugal.
Albuquerque critica: "Pouca vergonha"
As críticas em relação a esta polémica têm vindo de vários quadrantes e de personalidades madeirenses, como Miguel Albuquerque, líder do Governo Regional, que já se pronunciou. "A TAP continua com uma administração desastrosa e é mais um tiro no pé desta companhia", afirmou Miguel Albuquerque a 9 de junho, à margem de uma visita à Feira das Sopas.
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"O governo tem 50% do capital [social da empresa] exatamente para a TAP continuar a ser uma companhia gerida em consonância com aquilo que são os interesses nacionais", disparou, apelidando o caso de "pouca vergonha". Para o presidente do executivo madeirense, os interesses das regiões autónomas estão a ser "gravemente afetados", tendo-se queixado dos preços "exorbitantes" alegadamente praticados pela companhia aérea.
SATA distingue açorianos
O JOGO também procurou inquirir clubes açorianos acerca deste caso, mas há um aspeto que difere os emblemas dos Açores em relação aos da Madeira. É que nos Açores boa parte dos conjuntos utilizam quase exclusivamente a SATA e, portanto, esta polémica acaba por lhes passar ao lado. Tanto é que dos Açores não surgiram ecos de contestação...
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