Paulo é o presidente e o irmão José é o treinador do último clube do Campeonato de Portugal presente na Taça. Transmontanos são semiprofissionais e sonham com a II Liga
Corpo do artigo
Estar na quarta eliminatória da Taça de Portugal já foi um feito histórico para o Centro Desportivo e Cultural de Montalegre, clube cujo melhor registo na prova-rainha datava de 1997/98 quando os transmontanos chegaram à terceira ronda. A vitória, por 1-0 frente ao Águeda, fez o clube presidido por Paulo Viage, alcunha herdada do pai, e treinado pelo irmão José Manuel Viage, alcançar os oitavos de final da Taça. Mas desengane-se quem acha que o clube dos Viage é o parente pobre entre os 16 resistentes da prova. O Montalegre tem uma estrutura semiprofissional, treina de manhã e quase todos os jogadores do plantel só têm o futebol como ocupação. A Taça é pródiga em elevar a heróis quem decide as partidas, mas o triunfo perante o Águeda foi conseguido à custa de um autogolo. À falta de protagonistas, O JOGO foi conhecer melhor o último sobrevivente do Campeonato de Portugal e, por consequência, dos escalões não profissionais.
Paulo Viage, proprietário de dois restaurantes e dois bares em Montalegre, preside os transmontanos há nove anos. José Viage leva seis épocas consecutivas como técnico. Ambos foram jogadores dos raianos e agora só pedem um grande a jogar... em Montalegre. "Todos os clubes querem o Montalegre e nós queremos um grande. Se assim acontecer, a AF Vila Real e a FPF é que têm que fazer uma vistoria, mas penso que temos todas as condições para que o encontro seja em nossa casa. Tudo faremos para que, se o sorteio assim o ditar, isso aconteça", esclareceu Paulo Viage. O grande apoio do conjunto do distrito de Vila Real é o município e a ajuda "de alguns empresários". Contudo, a moda das SAD não deverá chegar a Montalegre nos próximos tempos. "Temo-nos apoiado em empresários de confiança e não num investidor que prometa mundos e fundos. Lá diz o ditado, "quando a esmola é grande, até o pobre desconfia"", observa.
Todos os raianos estão a fazer figas para que o sorteio de sexta-feira traga um grande à vila de Montalegre. Se assim for, "há condições para jogarmos em casa", diz o presidente
A temporada no Campeonato de Portugal não está, segundo José Viage, "a correr como o previsto" mas Paulo sonha em voar mais alto nos próximos anos. "Somos ambiciosos e queremos tentar o sonho de deixar o Montalegre nos campeonatos profissionais", afiançou Paulo. O dirigente, 38 anos, chegou à presidência do Montalegre com 27 anos e confessa que essa foi a maior loucura que fez no futebol. "Deixei de jogar com 24 anos. Entretanto, fui diretor desportivo e aos 27 anos candidatei-me a presidente. É algo que me rouba muito tempo. Se soubesse o que sei hoje, tinha jogado mais alguns anos", graceja.
Antes de Paulo entrar, já José Viage, 44 anos, era o treinador. O técnico mudou o paradigma de equipa de amigos para um projeto sério. "O Montalegre ocupa-me a vida toda. Quando aqui cheguei, isto era uma equipa de amadores que se juntava à sexta-feira. Uns treinavam e outros não, não havia ambição e ganhar ou perder não fazia diferença para os jogadores. Mudei tudo, começámos a treinar quatro vezes por semana e, ao fim de dois anos, subimos de divisão sem derrotas", lembra.
Histórico: nunca os raianos tinham atingido os oitavos de final da prova-rainha
Apesar do laço fraternal que une os Viage, as ligações de sangue não passam da porta do estádio. "Pouco falo de futebol com o meu irmão e não me meto no trabalho dele", garante José. Curiosidades à parte, o momento é de festa na pequena vila de Montalegre e no clube dos irmãos Viage que esperam agora pelo sorteio de sexta-feira para saber contra qual adversário é que a história continuará.
José quis sair, mas Paulo não deixou
A época do Montalegre na Série A do Campeonato de Portugal começou com três empates e três derrotas. Depois de ser goleado, em casa, por 3-0, frente ao Vilaverdense, o treinador José Manuel Viage bateu à porta do irmão Paulo para colocar o lugar à disposição. O presidente, juntamente com a restante direção, rejeitou o pedido. "A vida de treinador é assim e tudo tem um fim", assumiu o técnico. Entretanto, as coisas melhoraram com três vitórias, um empate e dois desaires nos últimos seis encontros do Campeonato de Portugal.