"Os fatores conjunturais têm peso. Benfica tem muito mais a perder do que o FC Porto"
Em dia de FC Porto-Benfica, Ricardo Gomes Porém, psicólogo do desporto, disseca o impacto de um jogo grande na mente dos jogadores. Antigo elemento do departamento de alta performance do Sporting explica, em O JOGO, que o cenário ideal é encontrar, juntamente com os atletas, um ponto de equilíbrio no que toca ao stress
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FC Porto e Benfica têm encontro marcado para as 20h30 de hoje, no Estádio do Dragão, onde será escrito novo capítulo no livro da histórica rivalidade. As águias, de olhos postos no título, procuram arredar definitivamente os azuis e brancos da contenda, enquanto estes, para lá da honra, tentam reacender a labareda por debaixo da esperança matemática. Contas à parte, clássico é clássico e O JOGO quis perceber que tipo de trabalho é feito a nível psicológico na preparação para jogos deste calibre. Para isso, consultou Ricardo Gomes Porém, psicólogo do desporto, que, na hora de definir a tão badalada “pressão”, falou num fenómeno “multidimensional”. “Dentro da complexidade natural, estes jogos são os mais simples de preparar. O trabalho psicológico não é feito a curto prazo. Conhecemos os atletas e sabemos que alguns podem incorrer em fenómenos de hipostress e de hiperstress. Há que desenvolver uma estratégia para gerir esse stress, de forma a que esteja na zona ótima”, explica o especialista.
A influenciar a mente dos protagonistas, explica Ricardo Gomes Porém, há os “fatores individuais” e os “fatores conjunturais”. “O Benfica, por exemplo, tem muito mais a perder neste jogo do que o FC Porto”, explica o antigo membro do departamento de alta performance do Sporting. “E, nos fatores individuais, encontramos os fatores de contingência envolvente. Imaginemos um jogador que saiba de antemão que vai ter o olheiro de um grande clube a anotar tudo o que faz. Isso tem impacto. Há atletas com menos competências para gerir o empresário que lhes liga antes do jogo, ou até questões familiares. O que temos de gerir nestas situações é perceber em que fatores é que temos de ajudá-los durante aquela semana”, detalha.
Puxando pela experiência pessoal, o psicólogo recorda um episódio gravado na memória. “Conseguimos perceber mudanças de comportamento. Se não vão tanto ao choque, se não dão tudo nos testes físicos… Sem revelar nomes, lembro-me de um jogo em que um atleta que tinha feito uma primeira parte má disse-me: 'Isto não está a correr bem. Nunca passei por aquele lateral-direito, nunca jogo bem contra ele.' E só soubemos isso no intervalo”, relata Ricardo Gomes Porém, voltando ao ponto central. “A influência da pressão e o desempenho dos atletas são questões multidimensionais. Há atletas que não precisam de nada. Têm um nível de motivação elevado, concentração alta e estão na tal zona ótima de stress. Nos outros casos, se os conhecermos bem, podemos perceber que mistura há ali e o que podemos tentar controlar”, remata.