ENTREVISTA (parte 1) - Theodoro Fonseca, acionista maioritário da SAD do Portimonense, conversou com O JOGO. O futuro da sociedade algarvia, o treinador e o plantel e até o divórcio de Hulk: assuntos para ler nesta entrevista
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Nesta primeira "grande entrevista" que dá desde que é acionista maioritário do Portimonense, como disse quando nos recebeu, Theodoro Fonseca assume que não vende a SAD tão cedo e, entre outras revelações, sai em defesa do "afilhado" Hulk (ler aqui), que deixou de representar em 2016.
"A exceção foi o Jackson: contratei-o pela mais-valia que tem para os jovens"
Quando começou a sua ligação ao Portimonense?
- Em 2011, quando trouxe uma série de jogadores e o clube subiu à I Divisão. Em 2013 caiu para o terceiro escalão, mas, como o Varzim não tinha cumprido todos os requisitos da Liga, o Portimonense permaneceu na II Liga. Fernando Rocha, que era o presidente, teve uma reunião comigo, disse que o clube ia acabar e convenceu-me a entrar no Portimonense; fiz uma SAD em 2014. Só que, até 2016, eu não mandava em nada, fiquei só para estudar, tinha jogadores que não contratei e uma administração do clube. Sempre falei que só assumiria o Portimonense quando tivesse uma visão plena de todas as estruturas, do estádio, do centro de treinos, jogadores meus, uma forma de trabalhar cem por cento minha. E foi de 2016 para 2017 que fiquei acionista maioritário.
Quatro anos depois não faltam interessados em comprar a SAD. Quantas propostas já recebeu?
- Já recebi propostas da China, do Catar, da Rússia, do México, de Espanha, do Brasil e do Japão. A mais recente foi do Japão. Com o êxito, na época, do Kanazaki e agora com o Nakajima, com o Gonda e com o Anzai, os japoneses despertaram e viram com bons olhos este país. Portugal é o melhor país do mundo para adaptação. Temos um clima tropical dentro da Europa, principalmente no Algarve. Os japoneses, e todas as pessoas, ficam fascinadas. O Algarve tem o melhor relvado do país, graças ao clima tropical que tem.
Mas a SAD está ou não à venda?
- Não, tenho uma paixão muito grande. Está fora de hipótese. Recebi propostas de 35 milhões de um grupo de investidores japoneses e não aceitei. E não foi pela totalidade, porque só tenho 89 por cento. Eu não, a empresa, eu sou um dos acionistas; um por cento é de Fernando Rocha e os outros dez do clube.
Qual o valor das propostas apresentadas pelos outros interessados?
- Recebi propostas desde cinco até 25 milhões. Um grupo de chineses ofereceu-me 25 milhões.
Trabalhou com Edilson, Zico, Hulk, Edmundo, Cafu e mediou as transferências de Danilo e Alex Sandro para o FC Porto
É só por paixão que não vende?
- Hoje não vendia por outro motivo: pela posição em que estamos na tabela. Já não vendia se estivesse em primeiro, estando em penúltimo é que não vendo mesmo.
Não tem um valor estimado pelo qual venderia?
- Por valor nenhum. Só vendo quando for à Champions ou à Liga Europa. Esse é o meu sonho. Vendo, não, saio.
Assume que o seu projeto é valorizar jovens jogadores desconhecidos?
- Sim, a exceção foi o Jackson. Contratei-o pela mais-valia que tem para os jovens, mas tivemos o Nakajima, o Paulinho, o Everton, o Manafá, o Fabrício, hoje o Lucas Fernandes, o Tabata... O nosso projeto é descobrir jovens e fazer com que sintam a cidade, o Algarve e o Portimonense, para dar frutos no futuro. Não quero nada de um dia para o outro. Se quisesse, vendia o clube.
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É uma questão de princípio?
- Exato. Ainda há dias, um vice-presidente disse-me: "Theo, você já percebeu que gasta entre 500 a 600 mil euros por mês com tudo isso, entra em stress por estar em penúltimo, porque é que não vende a sua parte e vai viver a sua vida?" É isso que me motiva, gosto desse tipo de cobrança.
Não lhe passa pela cabeça descer de divisão?
- Não. E, se descer, subo de novo. Não subi dois anos por um ponto e um golo e não me abalei. Acredito que não vão cair dois raios, e a primeira volta foi um relâmpago.
DADOS
1000 - Em 33 anos de profissão, Theodoro tem mais de mil transferências. Trabalhou com Edilson, Zico, Hulk, Edmundo, Cafu e, entre outras, mediou as transferências de Danilo e Alex Sandro para o FC Porto.
2003 - O ano em que começou a trabalhar em Portugal. "Foi Luís Filipe Vieira que me abriu as portas em Portugal", recorda o empresário, que também trabalhou nos mercados alemão, espanhol, brasileiro, japonês e dos países árabes.
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