Revelações sobre Vicens e exaltação de uma mente que fervilhava já enquanto jogava. A busca determinada do seu mundo e o encontro de duas paixões em Manchester: a mulher e o técnico catalão
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Carlos Vicens já deixou a sua expectativa quando foi oficializado, debitando o orgulho por abraçar uma história em andamento do clube minhoto, mas, de facto, é alguém que pode ter uma palavra a dizer num trabalho de longo alcance.
Visto como homem adequado a ter em mente um projeto desportivo de envergadura, mas também corresponder às pretensões de um inédito título, Vicens, mesmo algo desconhecido, traz um lastro invejável, por ser durante quatro anos o número dois de Guardiola, vivendo ao lado do catalão três títulos ingleses e uma Champions.
E, nesta aventura, de entender e traçar o registo do técnico escolhido por Salvador para um certo pico de ambição na Pedreira, há pormenores reveladores, há uma paixão colossal pela arte de definir um jogo no banco, mas absorve-se, sobretudo, o culto e a obsessão por Guardiola, uma lógica de perfecionismo e exigência.
Com Nico López, carismático treinador das Baleares, descobre-se quase tudo, foi ele que puxou Carlos Vicens para seu adjunto na Segunda Divisão B, a partir do Llosetense.
Era um jovem que jogara futebol, sem grande sucesso, mesmo com início de formação no Maiorca. A bagagem do agora técnico do Braga vinha ganhando peso, era uma inquietude que fervia e um futebol de posse que o encantava a partir de Barcelona.
“Era doente por Guardiola, estava completamente enamorado do que ele representava para o futebol. Posso dizer que era uma obsessão que tinha. Quando ele começou comigo já tinha percorrido um pouco de tudo na ilha, tinha-se feito professor também. Fez um belo trabalho no Ses Salines e, depois, esteve bastante bem no Santanyi. Perdi um pouco de tempo com ele porque Carlos já sabia mais do que eu, limitei-me a ilustrar uma coisa ou outra”, recua Nico López, relatando a paixão que Vicens soube desenvolver, embora com um certo auxílio determinante.
“Teve alguma sorte porque eu fiz cursos de treinador nacional, de III Nível, da UEFA,
com Juanma Lillo, um mentor de Guardiola. E quando Lillo vai como adjunto para Sevilha, conseguimos ter conversas com ele, fomos ao balneário. Era a fase sagaz dele, cada semana que podia ia ver o City a Inglaterra”, conta Nico López.
Não demoraria a Vicens entrar no universo dos citizens, após mandar um currículo para o clube. “Ele queria muito estar perto de Guardiola, sentia-se isso. Depois também se apaixonou por uma catalã que trabalhava no clube. Começou na formação, foi subindo degraus e depois foi campeão sub-18 no período do Covid. Ele estava tão ciente do destino que esteve ano e meio sem receber”, rebobina.
Vicens começa no City em 17/18, como adjunto dos sub-13, ganhando a Premier League sub-18 em 20/21. “Tornou-se a partir daí um nome sério no clube. Tinha conhecimentos vastos, muito inteligente, dominador do inglês, porque viveu e concluiu um curso de economia em Austin, nos Estados Unidos, quando aí jogava”, apoia Nico López. A etapa norte-americana ainda faz com que jogue, aos 24 anos, na equipa universitária Texas Longhorns.
“Carlos é esperto, muito inteligente e sabe muito de futebol. Quem o contrata tem
um grande treinador pela certa. E também um romântico, que gosta de bom futebol. Além do que sabia, aprendeu muito com dois fenómenos: Lillo e Guardiola. Tem um nível fantástico de estratégia”, resume o técnico, de 59 anos. “Nem todos podem ter essa chance de conviver com os génios. Ele teve, aproveitou, mas também aguentou. Nem muitos podem aguentar, porque a exigência é impressionante”, revela.
Nico López e Vicens respondem pela ligação às Baleares e pelos afetos construídos entre as respetivas famílias. “Haverá um maiorquino, ou muitos, com uma equipa favorita em Portugal. Vai ser uma experiência fantástica. Carlos é um grande amigo, ofereceu-me viagem para o ver em Inglaterra, estive em sua casa. E é alguém que tem a ilha sempre na sua cabeça, não tivesse nascido num paraíso, que é Colonia de Sant Jordi”, relata.
O êxito em Braga está à vista. “É um orgulho que tenha estado comigo e que esteja a viver este sonho. Sabe muito de futebol, é um homem da estratégia, das bolas paradas, dos detalhes. Foi por isso que encaixou com Guardiola, um animal a treinar. Está superiormente preparado”, garante.