"O treinador pedia ao Jorge Costa calma nos 'tackles' e ele respondia que sabia o que estava a fazer"
Kevin Lisbie, peça importante do Charlton, que teve Jorge Costa como colega, recorda as marcas do malogrado antigo capitão do FC Porto no clube com sede a sudeste de Londres
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Os meses passados por Jorge Costa no Charlton, na época 2001/02, revelam-se um manual de superioridade, combate e eficiência em prol do clube dos arredores de Londres. Com a raiva de jogar, de se reconciliar consigo próprio e fugir de uma relação conflituosa com Octávio Machado, o malogrado central encontrou conforto pleno no The Valley, brindando os colegas e os adeptos com exibições dominantes, mesmo quando teve de marcar as maiores feras da Premier League. Em conversa com O JOGO, o antigo avançado Kevin Lisbie, colega do Bicho em 2001/02, numa época em que o Charlton foi comandado pelo icónico Alan Curbishley, deu conta da importância que o central português cravou imediatamente na esfera do clube, passando por cima de qualquer tipo de adaptação mais espinhosa. Os adeptos rapidamente o celebraram, enleando cânticos num fervilhar da febre por um futebolista de verdade, seguindo códigos tão admirados em Inglaterra: valentia e postura sem subterfúgios ou vaidades.
"Lembro-me do Jorge ser uma pessoa muito humilde. Apesar de tudo o que havia conquistado, tinha sempre tempo para os mais jovens. Tornou-se rapidamente um exemplo para todos nós, no balneário. Lembro-me de como a postura dele ficou interiorizada em mim", relata Lisbie, hoje um porta-voz público de uma associação de antigos jogadores do Charlton. Jorge Costa registou aparições em 26 jogos, contribuindo para a permanência dos ingleses na Premier League, assinando imensos tackles celebrados como golos.
"Tornou-se um favorito das bancadas por causa desses desarmes incríveis, de carrinho, impunha-se de forma agressiva e com estilo intransigente com quem lhe aparecia pela frente. O nosso treinador explicava-lhe para ir com calma nos tackles, mas ele rapidamente devolvia o conselho ao Curbishley para não se preocupar. Ele sabia o que estava a fazer, sempre soube!", recorda Kevin Lisbie, descrevendo também a mentalidade do antigo capitão do FC Porto, naquela que foi a fase mais sensível da sua carreira com uma mudança de ares profundamente forçada.
"Foi dos melhores com quem joguei e todos os nossos defesas dessa altura compreenderam a sua importância para a equipa"
"Acho que ele queria voltar a jogar, sentir esse prazer para regressar à Seleção e ao FC Porto. Mas também o vimos agarrar-se imediata e emocionalmente ao Charlton. Os adeptos viram o grande jogador que ele era e o homem que estava ali. Nunca o esqueceram e, neste momento difícil, isso ficou provado com as manifestações que se viram no estádio", atesta Lisbie, reconhecendo que privou com um extraordinário e singular defensor.
"Não era o defesa mais rápido, mas lia o jogo na perfeição. Foi dos melhores com quem joguei e todos os nossos defesas dessa altura compreenderam a sua importância para a equipa", valida o antigo avançado do Charlton, atravessando também a notícia mais indesejada, quando se confirmou o falecimento de Jorge Costa, aos 53 anos, vítima de ataque cardíaco. A saudade segue misturada com a dor.
"Foi algo repentino e inesperado. Mantivemos sempre contacto nas redes sociais. Ao falar da sua morte, posso dizer que todos tivemos uma sensação de perda e tristeza, mesmo que tenha sido uma temporada com ele. Foi, definitivamente, uma parte importante da família do Charlton", louva.