Ex-adjunto dos Wolves diz que o internacional sub-21 tem uma visão de jogo diferente dos demais e nota melhorias na rapidez na tomada de decisão. Portistas fizeram mais golos com ele.
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Peça-chave na dinâmica apresentada pelo FC Porto nos últimos jogos do campeonato, Vitinha tem protagonizado um conjunto de exibições que suscitam a questão: haverá um FC Porto com ele e outro sem?
A diferença entre os dois é residual na maior parte dos parâmetros analisados por O JOGO, pelo que a conclusão pode ser precipitada.
Contudo, os números não deixam margem para dúvidas de que os azuis e brancos fazem mais golos por jogo (3,2) quando o médio joga a maior parte do tempo do que o inverso (2,2). A definição do internacional sub-21 português está muito longe de ser goleador - só anteontem, com o Portimonense, é que se estreou a faturar pela equipa principal -, mas possui predicados que ajudam a equipa de Sérgio Conceição a atingir com maior facilidade aquele fim.
"O Vitinha tem uma visão de jogo e uma capacidade para decidir diferente", explica a O JOGO Rui Pedro Silva, que enquanto adjunto do Wolverhampton orientou o portista na última época. "É um jogador que mantém muito a posse de bola, raramente falha um passe e encaixou bem no momento do FC Porto. Mesmo no jogo anterior [com o V. Guimarães], foi a partir da altura em que entrou que a equipa passou a ter mais tempo a bola e, automaticamente, forçou o Vitória a recuar as linhas", acrescenta o técnico, sustentando que chega a "tornar-se irritante para o adversário vê-lo fazer 10 passes num espaço de 30 segundos". "Isso desorganiza as equipas, irrita-as e acaba por provocar faltas", enumera.
Para este desenvolvimento de Vitinha muito contribuiu a experiência - ainda que curta - em Inglaterra, de onde voltou com outro andamento. "Pelo estilo competitivo, pela exigência imposta em todos os jogos e mesmo durante os treinos, porque na posição dele existia muita competitividade - o Rúben [Neves], o João [Moutinho], o Leander [Dendoncker]... -, a passagem por Inglaterra ajudou o Vitinha a crescer. Fê-lo perceber que tinha de ser mais rápido na tomada de decisão, porque joga-se quase sempre contra equipas com pressão forte", lembra Rui Pedro Silva, que entende a comparação feita pelos adeptos portistas mais saudosistas com João Moutinho. "Em certo sentido são parecidos, porque têm uma inteligência de jogo que lhes permite perceber o que ele está a necessitar", aponta o treinador, lembrando, porém, que Moutinho já está num patamar de maturidade mais elevado. "O Vitinha está a crescer e ainda gosta um pouco de pausar, observar o jogo e tomar a sua decisão com mais tranquilidade. Ainda [ante]ontem isso foi notório no golo dele. Quase que podia ter finalizado de primeira e acabou por dar mais dois toques na bola. Não estou a dizer que foi errado, mas acabou por tomar uma decisão mais tardia", nota.
Embora Moutinho seja um ponto de referência mais próximo no tempo, Rui Pedro Silva recua um pouco mais na hora de comparar Vitinha. "Se conseguir ser um jogador que tem capacidade de manter a bola, encontrar espaços que mais ninguém encontra e tomar decisões que mais ninguém toma, podemos identificar um Deco ou um Maniche. Ou seja, jogadores que tiveram outra preponderância no FC Porto e que tinham um estilo semelhante", indica o ex-Wolves, desmistificando a ideia de que este tipo de jogadores têm cada vez menos espaço no futebol moderno, mais físico e intenso do que no passado. "Podem sobressair pela inteligência com que reconhecem o jogo. Em vez de irem ao duelo, identificam uma linha de passe e cortam-na. Muitas vezes antecipam jogadas, decisões e espaços que outros não esperam", explica. Vitinha é a prova disso.