ENTREVISTA (parte 2) - Orgulhoso pela conquista do campeonato e da Youth League, Mário Silva explica o que mudou, sem ter de olhar para as academias dos rivais.
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Mal conquistou o título nacional disse que só no dia seguinte é que iria perceber a dimensão da dobradinha. Afinal, como foi o despertar?
- Foi um acordar feliz. Estava realizado depois de conquistarmos dois títulos importantes, um dos quais que nunca tinha sido conseguido por nenhum clube português. Na hora de festejar o título nacional estávamos todos muito excitados, porque conquistámos algo que parecia difícil para muitos, mas nós sempre acreditámos. Percebi que conquistámos algo inédito e que os nossos nomes ficaram gravados para sempre na história do clube. Já estávamos na história do FC Porto pela conquista da Youth League, mas depois da dobradinha foi ainda mais especial. Por isso é que só no dia seguinte é que percebemos a dimensão daquela conquista.
"A nossa grande vitória é ver quatro jogadores no plantel principal"
Na manhã seguinte, estava ansioso para ir comprar logo os jornais?
- Sim, o que é normal, porque é sempre bom ver o nosso trabalho exposto de uma forma positiva. Nesse dia senti-me realizado. Estive sete anos na formação do FC Porto, um ano como adjunto dos sub-17 e fomos vice-campeões nacionais, depois estive quatro anos nos sub-16 e no primeiro ano em que me deram um escalão para ser treinador principal, nos sub-17, lutámos pelo título até à última jornada. Isto com uma geração que nos sub-15 nem tinha estado na fase final.
Quando começaram a acreditar na dobradinha?
- A vitória na Youth League deu-nos mais confiança para lutar pelo título nacional, sabendo que o campeonato seria muito difícil, até porque tivemos muitos jogos. Desde o dia 26 de abril, data da meia-final da Youth League com o Hoffenheim, até 29 de maio tivemos nove jogos. Mesmo para jogadores de 18 anos é desgastante, com a obrigação de não facilitar um milímetro porque o nosso adversário direto [Benfica] também era muito forte.
Como reagiram depois da derrota com o Benfica?
- Foi um momento marcante e uma deceção para a equipa, para a estrutura e para os adeptos. Foi duro, mas no dia seguinte, quando nos reunimos no balneário, todos acreditaram que, se fizéssemos o nosso trabalho, seríamos felizes.
Temeu que o título podia escapar?
- Sim, porque o Benfica tinha uma equipa de sub-19 muito forte. Se virem os pontos que conquistámos e que o Benfica conquistou, percebem que as equipas que lutaram pelo título nunca perderam tão poucos pontos.
Ao longo da época, muito se falou das academias do Seixal e de Alcochete. Isso mexeu com vocês?
- Não, porque sempre pensei que o melhor é olharmos para nós próprios. O que dizem das outras academias tem de passar-nos ao lado. Temos de acreditar em nós, no nosso trabalho, na nossa identidade e naquilo que é a nossa cultura.
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Esta equipa de sub-19 tinha jogadores de grande nível. Acredita que muitos vão chegar à equipa principal?
- Alguns vão chegar e outros vão ficar pelo caminho. São, de facto, jogadores com qualidade, mas se estivéssemos a falar no início da época se calhar não estaríamos a falar da mesma forma, porque eram jogadores que ao longo do trajeto na formação do FC Porto nunca tinham ganho nada. Houve um crescimento enorme da parte deles.
Sentiu assim tanto a diferença?
- No início era uma equipa e no final era uma equipa transfigurada. Foi uma luta muito grande para tentar convencê-los que éramos capazes de conseguir algo importante este ano e apontávamos muito ao campeonato nacional, tentando ainda fazer uma boa figura na Youth League.
Deve ser gratificante para um treinador ver quatro dos seus jogadores subirem à equipa principal...
- Todos queremos ser campeões, levantar as taças e receber as medalhas, mas mais gratificante é ajudar os jogadores a crescer para estarem preparados para o alto nível. Ver quatro jogadores no plantel principal do FC Porto é motivo de orgulho para nós, treinadores, mas também para todos os departamentos, nomeadamente para a nossa psicóloga, a Dr.ª Sara, que fez um trabalho fantástico com os atletas. Também para os departamentos médico e de análise, e para os meus adjuntos, que insistiram para que eles evoluíssem. Fomos chatos, exigentes e rigorosos. Todos nós, desde o míster Frasco, Tiago Moreira, Zé Miranda, míster Fernando e Rui Teixeira. A nossa grande vitória é ver quatro jogadores no plantel principal e mais alguns na equipa B.
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"Mensagens? Uff, não tenho ideia"
O treinador admite que não tem ideia do número de mensagens e de chamadas que recebeu no dia em que conseguiram a dobradinha. "Uff, não tenho ideia", reconhece, com ar sorridente. "Depois da vitória na Youth League, foi impressionante. Precisei de muito tempo para responder a todos. Foi algo que não sentia há muitos anos e, mesmo enquanto jogador, não teve a mesma dimensão, o que é normal, porque quando somos jogadores fazemos parte de um coletivo, mas como treinadores principais somos o foco, seja nos bons e nos maus momentos. Logicamente ajudados por uma equipa técnica", destaca.
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