ENTREVISTA >> Paulo Meneses, presidente do Paços de Ferreira, reconhece "competência e capacidade de trabalho" a Pedro Proença, mas aponta-lhe uma série de falhas na condução de medidas, sobretudo, no play-off
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Os clubes aprovaram um play-off entre o 16.º da I Liga e o terceiro classificado da II Liga, a disputar na próxima época. Paulo Meneses questiona a sustentabilidade do modelo e continua atento ao fair play financeiro.
O Paços de Ferreira, quando desceu, reclamou a legalidade da permanência do V. Setúbal. Como analisa os casos V. Setúbal e Aves?
-Vi uma notícia em que dizia que ninguém se recorda de ter visto o Paços de Ferreira alguma vez reclamar a legalidade de várias questões relacionadas com a descida do V. Setúbal. As pessoas mais atentas saberão que o Paços de Ferreira - não contra o V. Setúbal em particular -, tendo em conta as situações de incumprimento, fez uma participação à Liga que deu origem à instauração de um processo crime - ainda a decorrer - daí que não tenha gostado da tal notícia.
Durante o confinamento, o seu nome foi ventilado como potencial candidato à presidência do organismo, mas Paulo Meneses garante: "Não sou candidato à Liga. Nunca perderei a minha independência"
Acha que a Liga apertou o crivo?
-Porventura, por o Paços de Ferreira ter tomado essa atitude, percebi que o crivo da Liga, este ano, foi diferente daquele que tinha sido no passado recente. A Liga percebeu que ela própria estava a ser sindicada e esse é que é o problema. Estamos hoje perante uma Liga que toma medidas avulsas. Faço um parêntesis para dizer que este presidente da Liga é uma pessoa a quem reconheço capacidade de trabalho e competência. Mas a Liga está completamente perdida no que é a sua estratégia.
O seu nome foi lançado como possível candidato...
-Se calhar era importante que este presidente e a Direção da Liga percebessem que é mais importante que se focassem na resolução dos problemas do que verem fantasmas, porque não sou candidato à Liga. Nunca perderei a minha independência, não vivo do futebol e pago para ser presidente de futebol. Isto traz-me uma independência que ninguém percebe, e muito menos por quem está na Liga.
Onde é que a Liga falha?
-Não acho que falhe só a Liga. Os clubes que não cumprem são a maior falha. E falha quem não fiscaliza. Quem tem mais obrigação são os clubes em cumprirem; a Liga em fiscalizar e, depois, são os parceiros. Eu vejo o Sindicato dos Jogadores tantas vezes a fazer ingerência no que não deve... Em última análise, quem tem responsabilidade são os próprios atletas. Espanta-me que haja atletas que preterem o Paços de Ferreira em favor de clubes com contratos que sabem que não serão cumpridos.
O que lhe parece a realização de um o play-off em 2020/21?
-Copiar um play-off, que será o modelo de promoção e despromoção, isso é ser irresponsável.
O que quer dizer?
-O play-off é apenas para agradar a alguém. Não foi uma proposta da Liga. Foi quase uma exigência da II Liga e que a Liga pegou e apadrinhou. Eu não tenho nada contra o play-off. A Liga apresentou à assembleia um estudo que tinha feito sobre um modelo do play-off, alegando um estudo sobre as vantagens e desvantagens que foi feito durante três anos. Quando a Liga quiser ser responsável copia modelos, não copia dentro dos modelos uma medida avulsa.
Quer explicar?
-Sabem quanto custa um jogo do play-off? Antes dessa medida, deve haver um mecanismo que permita rescisões de contratos em determinadas circunstâncias e com determinados atletas e, depois, a possibilidade de o clube se poder financiar com um fundo - tipo efeito paraquedas - que permita usar uma determinada verba, que seja controlada de forma a que esse dinheiro não seja empregue noutras coisas.
Pode exemplificar?
-Quando descemos, dividiram 300 mil euros por duas equipas. Na II Liga, o Paços teve o mesmo orçamento do ano anterior, porque a maior parte dos contratos vinham da época anterior e estavam em vigor. No ano seguinte, a Liga distribuiu 800 mil euros por três equipas, numa medida excecional. Andamos constantemente em medidas excecionais, sem saber se vamos ter público na próxima época, mas a Liga está preocupada com o play-off. Esta Liga não tem estratégia e perdeu-a devida à má gestão na pandemia de covid-19.
Então, porquê?
-Nunca vi a Liga preocupada com os problemas internos e as soluções têm de ser imediatas. Estamos a caminhar numa estrada cheia de buracos. Toda a gente diz que os seus orçamentos são de três milhões, mas se fosse verdade, com o que recebem das televisões, então todos deviam dar lucros, por isso faltam de forma clara à verdade.
Acha que falta visão?
-A Liga tem gente competente e acho o seu presidente uma pessoa capaz e competente, mas, neste momento, não tem estratégia para o futuro imediato. Eu sempre fui um apoiante da Liga, embora crítico, como não vendo a minha consciência, quando tiver de dizer que a Liga está certa, direi sem qualquer problema.
"É mais importante que se focassem na resolução dos problemas do que verem fantasmas"
>> Reims pode ser uma boa parceria
Paulo Meneses, confrontado com a possibilidade de uma parceria com o Reims de França, esclareceu: "É verdade que o clube francês fez uma visita às nossas instalações e que ficou surpreendido com as condições de suporte que o Paços de Ferreira tem neste momento, não só ao futebol profissional, mas também aos escalões de formação. Levou alguns dossiês para analisar e vai em tempo oportuno receber uma delegação nossa no intuito de uma possível parceria, não só a nível dos escalões de formação, como mesmo ao nível do futebol profissional. Sem qualquer interferência financeira no clube, mas apenas e só desportiva."