O JOGO fez uma viagem aos primórdios da carreira de Zé Luís no futebol português. A forma como foi descoberto pelo Gil Vicente, o início da vida em Portugal, o primeiro jogo e até o primeiro golo.
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Zé Luís, o jovem franzino e acanhado que há dez anos entrou em Portugal por Barcelos com o sonho de ser futebolista volta a jogar para a I Liga este sábado, frente ao clube que lhe abriu as portas do futebol lusitano.
Zé Luís regressa este sábado à I Liga frente ao clube que lhe abriu as portas em Portugal
Descoberto num jogo-treino efetuado pelos juniores do Gil Vicente contra uma equipa de jogadores cabo-verdianos, o então galo cresceu e virou dragão. Um salto que desde muito cedo lhe perspetivaram nos minhotos. "Tinha um grande potencial, mas precisava de ser polido", recorda a O JOGO António Fiusa, o presidente dos gilistas em 2009.
Sá Pereira foi o primeiro a "deitar-lhe as mãos", nos sub-19, pelos quais viria a fazer mais de 20 golos, mas nesse ano já teria a primeira experiência nos seniores. "Treinava connosco com regularidade e era de uma grande disponibilidade.
Notava-se que tinha uma ilusão e uma paixão enormes", conta Rui Quinta, que o lançaria durante 11 minutos num encontro da II Liga com Chaves. O primeiro golo, contudo, surgiu já sob o comando de Paulo Alves (entrou a meio dessa época), que se lembra desse momento como se fosse hoje. "Lancei-o contra o Beira-Mar, num jogo em que estávamos a perder, e ele fez um golo fantástico, de cabeça, de fora da área", descreve o técnico.
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O futebol levou-o para Braga e, mais tarde, para Moscovo, pelo que só aos 28 chega a um dos denominados três grandes do futebol português. Mas todos concordam que "ainda vai a tempo de fazer coisas importantes". "Está no FC Porto com muito mérito e acredito que terá outra projeção", antevê Rui Quinta. "Pode demorar um bocadinho, porque esteve num país diferente, mas com o tempo vai vingar", sustenta Paulo Alves.
Marca sempre em "casa"
Depois de cortar em definitivo a ligação ao Gil Vicente, na época de 2012/13 - na de 2011/12, ainda o representou por empréstimo do Braga -, Zé Luís defrontou em três ocasiões a equipa de Barcelos... e marcou sempre. Os galos são mesmo uma das vítimas favoritas em Portugal do avançado, que lhes marcou quatro golos. Curiosamente, três destes quatro tiros certeiros foram disparados em casa dos minhotos, onde jogará hoje novamente, quatro anos e meio depois da última vez.
"Chegou a consoar com a minha mãe", conta António Fiusa
"Descobrimos o Zé Luís num jogo-treino dos juniores. Notámos logo qualidade, porque se elevava e finalizava bem. Procurámos sempre acarinhá-lo e, na altura, ficou a morar num apartamento T3 com mais dois colegas. Tinham fruta, leite, água e iam almoçar e jantar a um restaurante com o qual tínhamos um protocolo. Também ia muitas vezes à minha mãe, que mora na avenida do Adelino Ribeiro Novo. Acho que até chegou a consoar lá uma vez."
"A primeira vez que vi o Zé Luís foi num jogo dos juniores do Gil e fiquei logo com a sensação de que estava ali um jogador com um potencial tremendo"
Paulo Alves: "Disse-lhe que era jogador de grande"
"A primeira vez que vi o Zé Luís foi num jogo dos juniores do Gil e fiquei logo com a sensação de que estava ali um jogador com um potencial tremendo. Disse-lhe muitas vezes que tinha condições para ser um jogador de clube grande. Inclusive, recordámos isso num jogo-treino entre o FC Porto e o Varzim, na pré-época. É um ponta de lança muito bom a quem só falta ter um pé direito um pouco mais apurado."
Rui Quinta: "Seniores eram um mundo novo"
"Era um bom menino, que se integrou muito bem nos seniores, apesar de ser um mundo novo para ele. Nem sempre podia ir aos nossos treinos, porque os horários nem sempre o permitiam, mas era de uma grande disponibilidade. Pelo percurso que teve, demonstrou que sempre teve as ideias bem arrumadas na cabeça e que nunca perdeu o foco. Ainda hoje exibe o entusiasmo e a alegria da altura."