"O Jorge Jesus pensava: 'O Silas é bom, o Silas há de fazer alguma coisa com a bola"
José Pedro, antigo jogador do Belenenses, hoje treinador, destaca as sementes importantes deixadas pelo atual líder do Al Hilal, Jorge Jesus, não só nele mas também noutros colegas da altura, como Rúben Amorim.
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Entre 2006 e 2008, José Pedro, hoje treinador, fez parte de uma equipa do Belenenses que tinha Jorge Jesus como treinador. Um mestre que muito o influenciou para a carreira que mais tarde abraçou.
Silas, José Pedro e Rúben Amorim faziam parte da mesma equipa do Belenenses, com Jesus a liderar. De entre os três, que são hoje treinadores, Amorim é o que tem maior destaque. Identifica-se com os traços que ele vai revelando no Sporting?
-Sem dúvida. Aquilo que é o processo defensivo do Rúben é muito do que eu também faço no processo defensivo. E acho que nós os dois trouxemos isso do míster Jorge Jesus, que nos treinou no Belenenses. Muitos dos processos vêm daí, como o facto de haver um jogador referência da linha defensiva, com os outros a terem de jogar em função dele. Muito do que nós somos, eu e o Rúben, vem do que bebemos do míster Jorge Jesus.
E em termos ofensivos, o que aprenderam com Jorge Jesus?
- Jorge Jesus não dava tanta atenção aos processos ofensivos. Ele pensava muito assim: “O Silas é bom, o Silas há de fazer alguma coisa com a bola.”
Onde pode Rúben Amorim chegar? A um grande da Europa?
-Na minha opinião ele tem tudo, como nós costumamos dizer. Ele tem o pacote todo para treinar esses clubes de topo. Está num clube que não estava no topo e ele pô-lo lá, bem no topo. Acho que tem essa capacidade e tudo o que é necessário para chegar aí.
E o José Pedro, também tem o pacote todo?
-Eu ainda tenho de crescer. Tenho de passar por experiências que me façam estar depois noutro patamar. Mas acredito muito no meu trabalho e, depois, acredito muito em quem está à minha frente. Se tenho o pacote todo? Estou ainda a construir o meu pacote, digamos assim. O pacote está em construção, está a fazer-se, mas quero chegar, naturalmente, a outros patamares.
Voltando a Jesus, ele é confesso apreciador do chamado futebol total. E o José Pedro, também o é?
-Sim, gosto de equipas atrevidas, diremos assim. No Alverca, por exemplo, talvez tenha pago um pouco por isso, por querer ser audaz. Poderia ter sido um treinador igual aos outros, de baixar o bloco e de sair em contra-ataque só porque pode ser que dê. Mas eu gosto mais de ter bola. Já quando era jogador era assim. Preferia ter bola e não correr atrás dela durante muito tempo.
E que outras preocupações tem enquanto treinador?
-Procuro sempre um futebol positivo. Há equipas que jogam atrás e saem apenas em transição, mas não acho que isso seja um futebol positivo. Até pode ser aquela equipa que vai ganhar todos os jogos, mas eu não olho o futebol assim. Se bem que, caso entre num clube que precise disso, também vou montar a equipa em função disso e aceitar um projeto que esteja nesse nível. Mas é preciso olhar também ao espetáculo, porque o futebol é um espetáculo. Sempre preparando a equipa de maneira a que estejamos mais próximos de ganhar. Como? É estar mais próximo da baliza adversária, porque é assim que chego ao golo? É. A minha ideia é assumir o jogo e estar mais no meio-campo ofensivo.
Com 45 anos, está apostado em chegar longe?
-Sem dúvida. Quando tomei a decisão de ser treinador foi mesmo para ir o mais longe possível, para fazer o melhor trabalho possível por onde passe. No B SAD e no V. Setúbal, por exemplo, creio que fui o mais longe possível.