<strong>ENTREVISTA (PARTE 2) - </strong>Em conversa com O JOGO; António Folha mostrou-se muito feliz porque a corajosa aposta no colombiano resultou e é para continuar.
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"Jackson Martínez foi uma das grandes vitórias de todos, de quem o contratou, de quem trabalhou com ele, dos colegas. Foi mesmo uma grande vitória". Folha regozija-se porque o homem que fez história no FC Porto, e que alguns deram como perdido para o futebol, reencontrou um caminho em Portimão...
"O Jackson foi uma das grandes vitórias de todos"
"Ele foi muito sincero comigo. Quando se colocou a hipótese de ele vir par cá, disse-me: "míster, olhe que eu só estou a 50 por cento". Eu conhecia-o muito bem, do tempo em que trabalhámos no FC Porto com o Luís Castro. Conhecia bem as suas qualidades futebolísticas e humanas, e disse-lhe que mesmo a 50 por cento nos ia ser muito útil, como veio a ser. Marcou muitos golos e fez várias assistências, para além da importância que teve no grupo. Os colegas aceitaram-no muito bem. Acho que todos aprendemos com ele..."
Folha teve que fazer uma gestão muito delicada com o atleta. "Acontece que ele não podia treinar muitos dias (por vontade dele treinava todos os dias...) mas também não podia estar muito tempo sem treinar. Tivemos de fazer essa gestão. Foi também um desafio para todos nós, atendendo a que foi uma situação muito especial".
António Folha considera que é muito importante poder contar com Jackson Martínez. "Os responsáveis do Portimonense estão a fazer tudo para o termos de volta. Será muito importante poder contar com ele. Tenho esperança numa boa notícia".
Na pista de Bobby Robson
Vários treinadores marcaram a vida de futebolista de Folha e há coisas que ainda hoje guarda e tenta passar aos seus jogadores.
"O primeiro treinador que me marcou muito, porque era metódico e muito avançado para aquele tempo, foi o Carlos Queiroz, que apanhei na Seleção Nacional. Isso foi no início da minha carreira e recordo-me de muitas coisas que nos disse".
Saudoso treinador inglês é quem mais inspira António Folha, que destaca também a influência de outros na sua carreira de futebolista, como Carlos Queiroz, António Oliveira e Fernando Santos
Há um outro treinador que marcou imenso António Folha. "Foi o António Oliveira. Era muito forte no balneário, tinha um poder de motivação extraordinário, que nos levava a fazer grandes coisas. Também o Fernando Santos me impressionou pelo rigor e pela disciplina que impunha"... Mas os olhos de Folha sorriem quando fala de um treinador muito especial: Bobby Robson... "E depois apanhei aquele com quem mais me identifico, que é o sr. Bobby Robson. Era fantástico! A maneira como ele liderava, como agia com os jogadores e como geria os conflitos eram admiráveis. O entusiasmo que ele colocava em tudo o que fazia era incrível e contagiante, ao ponto de o ir para os treinos ser, para nós, jogadores, uma festa, um prazer diário, muito mais do que uma obrigação, porque sabíamos que íamos estar felizes com ele. Juntávamo-nos no balneário, falávamos de futebol, e em cada um de nós havia essa satisfação diária de irmos fazer o que gostávamos, o prazer adicional de trabalhar com um enorme treinador". Folha confessa que procura inspirar-se em Bobby Robson (bicampeão pelo FC Porto) em momentos das suas tarefas e principalmente na relação com os jogadores."Aprendi com ele e, sim, tento passar essa alegria aos meus jogadores, como ele fazia a nós".
Folha termina a dizer. "Gosto de ver os meus jogadores a trabalharem com prazer. Se eu puder fazer alguma coisa por isso, fico com certeza um treinador mais realizado".
"Dirigentes deram-me absoluta tranquilidade"
Folha veio de baixo como treinador. "Estava no Penafiel quando terminei a carreira de futebolista, tive uma primeira experiência como adjunto, mas depois fui uma espécie de diretor desportivo, e não tinha jeito nenhum para aquilo. De modo que no final dessa época disse ao António Oliveira, que era o presidente, que a minha vida era no relvado. E, pronto, foi um clique. Depois vieram os cursos, comecei como adjunto no Padroense... "Não tive a sorte de outros companheiros meus que começaram mais por cima", recorda Folha, que acabou por fazer um trabalho meritório nas equipas de formação do FC Porto. Alguns dos jovens que venceram a Youth League foram pupilos do treinador... "Mas essa conquista é mérito do Mário (Silva) e dos miúdos. Eu não tive nada a ver com isso. O meu passado é passado. Há uma coisa muito estranha no futebol. Quando um treinador sai, aquele que entra, quando chega ao fim e alcança o objetivo, diz para o mérito ser repartido com o seu antecessor. Mas isso é de uma grande hipocrisia. Para já, se o treinador saiu é porque algo estava mal e não teve nada a ver com o que entretanto se fez de bom... Temos de ser sinceros nesta vida, porque todos conhecemos esta hipocrisia".
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António Folha diz-se de bem com a vida no futebol e garante que não tem problemas com ninguém... "Nem mesmo com aqueles treinadores que ligam para o meu presidente, estando eu ainda empregado, a oferecerem os seus serviços. Veja bem, desempregados a gastarem dinheiro assim"... Os telefonemas terão acontecido no pior período do Portimonense, mas Folha não quer dizer quem foi o autor e garante que nunca sentiu o lugar em risco: "Nunca! Os dirigentes do Portimonense deram-me todas as condições de trabalho, deram-me absoluta tranquilidade, do primeiro ao último dia época".
Para quem tem um passado largo ligado ao clube, é natural que treinar um dia o FC Porto seja um sonho. Até pode ser, mas nunca será uma obsessão de Folha, que só tem os olhos no Portimonense
Uma tranquilidade que é fundamental para um treinador fazer um bom trabalho. Folha tem ambições, mas descarta qualquer obsessão por treinar o FC Porto. "Isso é uma ilusão. Conheço muitos colegas que já treinaram muitas equipas, que sonharam em treinar o FC Porto, mas nunca aconteceu... Se um dia tiver capacidades para treinar um grande, cá estarei, mas esse não é o sonho da minha vida. Claro que como qualquer treinador gostava que isso acontecesse um dia, como gostava de treinar o Liverpool, que é um clube que sigo desde pequenino. Se eu subir na carreira, sefizer um bom trabalho, o patamar também pode ser mais alto ao nível dos clubes que posso treinar". Para já, o foco de António Folha é o Portimonense, uma equipa este ano mais enriquecida com um novo complexo desportivo, que dará "mais referências de qualidade de trabalho para todos nós".