Desde os Estados Unidos, Herrera vibrou com novo triunfo portista na Luz, que reabre a discussão pelo título. Numa entrevista com um momento de introspeção, o mexicano revela a importância de ter sido campeão antes de partir, bem como recorda a fase em que era contestado e assobiado pelos adeptos
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Herrera deixou o FC Porto há quase quatro anos e não esconde as saudades do clube onde diz ter passado os melhores momentos da carreira. Por isso, mesmo estando com 32 anos, alimenta o sonho de um dia regressar e escrever um novo capítulo numa história de sucesso que ajudou a construir com um golo no Estádio da Luz que valeu o título em 2017/18.
Agora, as circunstâncias eram outras, mas o médio esteve tento ao clássico do último fim de semana e depois de novo triunfo em casa do rival acredita que a sua antiga equipa está mais "fortalecida" para dar luta até ao fim ao Benfica. Desde Houston, nos Estados Unidos, o mexicano elogia ainda o trabalho de Sérgio Conceição.
"Foi em Portugal que passei os melhores anos e os melhores momentos da minha carreira. Sempre disse que seria um portista mais"
Desde a saída do FC Porto e estando por Madrid durante duas épocas de confrontos entre as equipas na Champions, que sentimentos geraram esses jogos e o seu passado de títulos nos dragões?
-Falar do FC Porto gera-me sentimentos de felicidade. Acredito que foi em Portugal que passei os melhores anos e os melhores momentos da minha carreira. Sempre disse a toda a gente, a partir da minha saída, seria um adepto mais, um portista. Toda a família se recorda do tempo passado no Porto, das canções dos adeptos, da cidade. Foram muitas amizades que ficaram. Somos todos portistas e temos uma ligação muito grande ao clube e à cidade.
Herrera cumpriu cinco épocas no FC Porto, onde chegou a ser capitão. Saiu ao fim de 245 jogos e 35 golos, acrescentando um Campeonato e duas Supertaças ao palmarés
Como resume essa história vivida com o FC Porto no que respeita a títulos, relação com adeptos, o poder da camisola e o que mudou com a chegada de Sérgio Conceição?
-Creio que a história que tenho com o clube e com o Sérgio é a melhor. E é mesmo em todos os sentidos! Quando ele chegou foi um grande clique, foi aquele voto de confiança que sentia que me fazia falta. Foi ainda mais além disso, mexeu com o meu foco, gerou-me índices de confiança que não conhecia. Foi o clique fundamental para chegar às minhas melhores épocas, conhecer os meus melhores anos e recursos. E conseguir, depois, somar a isso o ansiado título que tanto queríamos. Tenho de estar muito agradecido ao Sérgio, mantenho contacto estreito e frequente com ele. Vou estar-lhe sempre agradecido, bem como ao clube. Foi o FC Porto que me deu tudo, me fez vir jogar para a Europa, crescer como jogador e ter a carreira que tive.
"O FC Porto prova sempre que não há impossíveis, vai pôr as coisas difíceis para o Benfica e muita coisa pode acontecer"
O FC Porto acabou de sair de uma grande vitória na Luz, que devolveu alguma esperança na conquista do título. Animou o campeonato?
-Sempre disse, não podemos desistir, sempre se tem de lutar até final. Essa é a regra básica do FC Porto. Mais contra o Benfica. Viu-se a mentalidade certa de quem queria alcançar um resultado. Agora está fortalecido para lutar até final. O FC Porto prova sempre que não há impossíveis, vai pôr as coisas difíceis para o Benfica e muita coisa pode acontecer ainda neste campeonato português. Acredito sempre, acredito nos jogadores e nos técnicos. Ninguém pode dar o FC Porto como morto. E acredito nos adeptos que vão estar com a equipa em todo o lado.
"Clássico? Desde o primeiro dia da semana, toda a gente já andava metida no clube, nas ruas. Os jogadores só pensavam em jogar e ganhar"
Os jogos com o Benfica eram muito diferentes dos outros no sentimento dos atletas?
-Eram os jogos mais esperados do ano. Desde o primeiro dia da semana, toda a gente já andava metida no clube, nas ruas. Os jogadores só pensavam em jogar e ganhar. Havia muita pressão mas acompanhada de uma mentalidade profundamente ganhadora. Adorava o sentimento desses jogos, adorava o viver desses dias na cidade, a adrenalina na cara das pessoas, o stress do jogo, o tentar adivinhar se o ganharíamos. Sabias que não podias perder esse jogo. Era escaldante.
Herrera está a jogar no Houston Dynamo desde o verão de 2022, altura em que deixou o Atlético de Madrid
Imagino que ainda recorda o golo marcado nesse palco que permitiu ultrapassar o Benfica e praticamente garantir um título ao FC Porto?
-Creio que foi o melhor golo da minha carreira e, seguramente, o mais importante. Para o grupo foi uma injeção de energia, união e força. Era exatamente aquilo que necessitávamos a poucas jornadas do fim. Marcar esse golo foi uma explosão, o campeonato podia ter terminado nesse dia, teria sido o final perfeito. Para os jogadores e adeptos e para todos que faziam parte do clube. Foi o mais bonito que me aconteceu. É algo que ficará marcado para a historia do clube, pessoalmente não o esquecerei. Tenho a sorte de ter desfrutado de algo assim!
"Se não tivesse enfrentado vozes tão críticas numa temporada, podia não ter sido o jogador que fui. Agarrei a minha melhor versão e ultrapassei todos esses obstáculos"
O que pesa mais no balanço da sua ligação ao FC Porto, a fase de alguma contestação e assobios ou a última imagem de ídolo e capitão suplanta tudo isso?
-Claro que me recordo e recordo com carinho e não qualquer desprezo. Foram esses momentos que me fizeram ser mais forte, fizeram-me sacar o melhor de mim. Se não tivesse conhecido essas críticas ou se não tivesse enfrentado isso ou vozes tão críticas numa temporada, podia não ter sido o jogador que fui. Agarrei a minha melhor versão e ultrapassei todos esses obstáculos. Aliás, digo mais, hoje quando se fala fora do futebol sobre mim, tudo o que se diz não me causa qualquer impacto. Aprendi bastante, deu-me oportunidade de ir ao meu íntimo, de dar uma resposta que nunca tinha conseguido dar. Foi assim que me transformei e, então, nos últimos anos, essas críticas viraram carinho e agradecimento. Essa popularidade reverteu-se e foi das coisas mais bonitas que vivi.
"Quando se trabalha bem com Sérgio está-se mais perto de jogar"
Quanto a jogadores que ainda o aproximam deste FC Porto, de quem podemos falar?
-Vejo Pepe e Marcano do meu tempo. Também Otávio, agora mais experiente e jogador de seleção. Passam por bom momento e há outros que estão a fazer as coisas bem e a realizar bons jogos. Quando se trabalha bem com Sérgio está-se mais perto de jogar e não tenho dúvidas que ele vai mostrar o quanto vale a sua equipa até final.
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