Filho de pai angolano e mãe grega, o novo camisola 22 começou como médio mas passou por todas as posições menos a baliza e o centro da defesa. Fora de campo, gosta de roupas caras, tatuagens e música.
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Valentino Lázaro chegou ao Benfica cedido pelo Inter e disposto a exibir em Portugal todos os talentos que foi evidenciando desde jovem, quando pisava as ruas e os pelados em Graz, na Áustria.
O percurso de Lázaro, além do Inter e agora do Benfica, também já o levou à Alemanha, onde jogou no Moenchangladbach e Hertha, e a Inglaterra, onde esteve no Newcastle
Filho de pai angolano e de mãe grega, o agora ala foi um verdadeiro "faz tudo" na sua fase de crescimento, ele que teve como principal inspiração Ronaldinho Gaúcho, craque brasileiro que, como o novo camisola 22 das águias, começou por brilhar fora dos relvados com uma bola nos pés.
Palavras como excentricidade e polivalência encaixam como uma luva quando se faz uma primeira apresentação de Lázaro. A primeira ficou evidente logo quando o ala aterrou em Lisboa, para assinar pelos encarnados: a roupa e o penteado são imagens de marca do internacional austríaco, ele que também tem gosto por tatuagens e pela música. A segunda deriva dos seus verdes anos, onde jogou em todas as posições menos a guarda-redes e a defesa-central.
Ainda nas escolas do Grazer, onde deu os primeiros pontapés e no Red Bull Salzburgo, onde teve os palcos de estreia profissional, Lázaro jogou na posição "10", alinhou a ponta de lança, passou pelas posições "6" e "8" mas foi nas alas que se estabilizou no futebol profissional. "Instinto", foi assim que Lázaro justificou toda a polivalência desses tempos. "Quando me colocavam numa posição estranha, fazia o que me parecia melhor e, normalmente, era o melhor", referiu na apresentação ao sítio do Moenchangladbach em fevereiro deste ano.
Família e religião vincadas no corpo
Atrás de um perfil descontraído, Lázaro mostra também uma faceta tranquila fora de campo. Crente, o ala ostenta uma tatuagem num ombro com a imagem de Jesus... Cristo, entre outros desenhos que vão ilustrando boa parte da sua pele, quase todos relacionados com a sua vida: uma imagem do pai a levá-lo com uma bola debaixo do braço, os olhos da mãe num antebraço, cruzes. A família e a religião são, de resto, a base da vida do jogador para lá dos relvados, ele que recebeu o nome de uma das figuras que a religião católica identifica como tendo sido alvo de um milagre de Jesus, Lázaro. Pedro Lázaro, pai e treinador, foi o grande motor na vida do agora atleta do Benfica, como contou este à chegada ao Borussia Moenchaglandbach.
"Quando tinha três anos foi o meu pai quem me levou a treinar pela primeira vez. Aos quatro ou cinco já jogava na sua equipa de juniores. Eu passava a vida na rua, com uma bola", recordou em entrevista Lázaro. Apesar da mistura de sangue angolano com grego, Lázaro sempre se sentiu austríaco. "Ter diferentes culturas é sempre bonito e divertido. Mas jogar por outro país que não a Áustria nunca foi opção", disse antes do Euro"2020, ele que entende "ser normal ser especial".
Talhado para o 3x4x3 na direita ou... na esquerda
Lázaro foi descoberto pelo Red Bull Salzburgo no Grazer aos 15 anos, onde jogava ainda a médio ofensivo. Foi aí que deu os primeiros passos nas seleções jovens da Áustria e do Salzburgo, antes de começar a ser lapidado como ala, tanto na direita como na esquerda. Quem o conhece, aponta que as suas apetências ofensivas superam as defensivas, daí encaixar melhor em sistemas de três centrais. Como o 3x4x3 que atualmente Jorge Jesus prefere. A estreia na equipa principal do Salzburgo deu-se com apenas 16 anos e 224 dias, um recorde no clube mas, apesar disso, na época seguinte foi emprestado ao Liefering, da segunda divisão austríaca, antes de voltar à base para se afirmar definitivamente, em quatro épocas consecutivas.
Emprestado ao Hertha em 2017/18, assinaria em definitivo pelos alemães na época seguinte antes de, em 2019/20, o Inter pagar 22,4 milhões de euros para o levar para San Siro. Antonio Conte, quis apostar no jovem nos seus 3x4x3 e 3x5x2 mas o seu encaixe na equipa falhou, acabando cedido ao Newcastle e ao Borussia Moenchangladbach. Neste último, Lázaro reencontrou o sorriso perdido, alinhando em 28 partidas e fazendo dois golos. De regresso ao Inter, acabou por não entrar nas opções de Simone Inzaghi mas, em contraponto, teve no Benfica uma porta aberta, seguindo o ex-colega dos nerazzurri João Mário até ao ninho das águias.