O dérbi de 1981/82 visto por Francisco Barão: "Oito a defender e três a atacar"

Francisco Barão foi um dos pilares da equipa do Sporting que venceu o campeonato nacional na época 1981/82. O antigo lateral-direito foi titular na vitória do Sporting por 3-1 no dérbi lisboeta da segunda volta da liga (23.ª jornada), que acabou por ser decisivo para os leões conquistarem o título. Barão explicou, em declarações a O JOGO, que espera um Sporting destemido no próximo sábado, à semelhança da equipa que levantou o troféu nacional em 1982.

“Tínhamos uma equipa muito forte, e um treinador muito bom, que nos dava uma confiança extrema, e que punha toda a gente a correr para o mesmo lado. Tínhamos três jogadores na frente que resolviam os jogos, por isso, o nosso lema era 'oito homens a defender, três a atacar'. Com Manuel Fernandes, Oliveira e Jordão na frente, era lógico que, desde que a bola chegasse a eles, eles resolviam grande parte dos jogos, pela sua genialidade e ligação. O importante nessa altura foi o campeonato que fizemos, e a chegada de Malcolm Allison, que nos deu uma forma de jogar em que nunca pensávamos no resultado, mesmos nos clássicos com o Benfica e o FC Porto. Este ano, o empate serve ao Sporting, mas, nessa época, uma certeza que eu tinha era a de que o Sporting não ia jogar para empatar, mas sim para procurar marcar golos, e ganhar o jogo, em qualquer sítio. Espero que o Sporting faça isso no sábado, mesmo sabendo que um empate pode ser favorável, e que não vá para o dérbi amedrontado. É um jogo que marca duas épocas, porque o Sporting procura ser bicampeão há muitos anos, este jogo pode resolver esta questão. Estes são os grandes jogos que definem os grandes jogadores, quem estiver ao seu nível, nestes jogos, prova a sua qualidade. Se os jogadores conseguirem ter uma mentalidade vencedora, e não acusarem o peso da responsabilidade, estou convencido de que o Sporting será campeão no sábado”, resumiu.

O antigo jogador destacou o ataque leonino, e deixou vários elogios ao atual treinador, Rui Borges: “O Rui Borges foi muito inteligente, nestes últimos jogos, na utilização gradual do Pote, e ao aproveitar alguns aspetos da equipa de Rúben Amorim. Se o Trincão conseguir estar ao nível que tem apresentado, penso que o tridente Pote-Gyokeres-Trincão pode resolver o jogo. São jogadores totalmente diferentes de Manuel Fernandes, Oliveira e Jordão, mas penso que este trio tem condições para resolver uma grande parte dos jogos, se houver, atrás, uma segurança da parte da defesa, para servir os jogadores da frente".

Francisco Barão descreveu, ainda, o cenário que espera os jogadores leoninos na visita à Luz: “Vamos jogar fora, num estádio que vai estar esgotadíssimo, frente a uma massa adepta do Benfica muito grande. Do outro lado, vai estar uma equipa que também procura o título, para poder ser campeã. Como adeptos do Sporting, queremos que a equipa esteja igual a si própria, e que vá à Luz sem medo, sem temores, com uma responsabilidade grande, mas, acima de tudo, com uma vontade de disputar e vencer o jogo”.

Allison trouxe responsabilidade

O ex-atleta do conjunto verde branco explicou como Malcolm Allison incutiu um sentimento de responsabilidade no plantel: “Fomos aos Estados Unidos fazer uma digressão. Depois do jantar, queríamos ir dar uma volta, mas estávamos com receio de ir pedir autorização aos dirigentes. O Manuel Fernandes pediu-me para ir com ele à mesa da direção, mas nós nem conseguimos olhar para o Allison, ele tinha uma figura estrondosa. Perguntámos a Allison, o que podíamos fazer. Ele, com um sorriso maroto, disse 'holidays' (férias), com treino às 9h00'. Foi a nossa primeira lição de responsabilidade”.