Confiante, Noronha Lopes só pensa na vitória nas eleições e em quebrar o ciclo de Vieira. Mas também assume que se tal não acontecer, sai de cena: "Se não ganhar, não voltarei a candidatar-me à presidência do Benfica", revela a O JOGO.
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Descontraído, animado e otimista, João Noronha Lopes fala em "dinâmica de vitória" capaz de derrotar Vieira.
Tem como lema "Voar mais alto". É para voar mais alto? Acredita que vai ganhar?
-Acredito. Não estou nestas eleições para me posicionar para qualquer outro ato eleitoral. Entrei para ganhar, não gosto de perder nem a feijões. Há uma dinâmica de vitória, com sinais que são muito positivos. Estamos a crescer.
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Caso não vença, volta em 2024 ou sai de cena?
-Nunca na minha vida me posicionei para ser segundo ou uma reserva. Estou nestas eleições para ganhar, vou ganhar e, se não ganhar, não voltarei a candidatar-me à presidência do Benfica. A mudança é agora, o Benfica não aguenta mais quatro anos da liderança de Luís Filipe Vieira. O que está em causa não são 17 anos, é o último mandato.
Perdeu-se o rumo?
-Perdeu-se o rumo no futebol, nas modalidades e na gestão, como se viu com a OPA. Gratidão não significa que não se avalie objetivamente o último mandato. Se o que temos hoje é o que querem, então votem Vieira; se querem um Benfica que ganhe mais, mais competente, que respeite os sócios, então irão votar em João Noronha Lopes.
Falou de gratidão. Já votou em Luís Filipe Vieira no passado?
-Nunca, até porque estive muitos anos no estrangeiro. Agora, já reconheci a obra que foi feita. Mas isso não significa que não se faça uma avaliação objetiva do último mandato, desastroso. Vieira não consegue aprender com os próprios erros e não consegue fazer o Benfica ganhar mais, sobretudo na Europa.
"Vou ser um presidente em 'full-time', não vou estar preocupado com outros temas que não o Benfica"
Falta uma nova alma?
-Faz falta ambição, alma, energia e uma mudança geracional que leve o Benfica para onde o clube já esteve. Estudamos o clube há vários meses e estamos preparados para no dia seguinte às eleições assumir o clube. Depois de Vieira não virá o caos, virá Noronha. Vou ser um presidente em "full-time", não vou estar preocupado com outros temas que não o Benfica.
Vai conseguir quebrar o ciclo do poder instalado?
-Não é a primeira vez que me candidato contra os poderes instalados. Em 2000 fiz parte da candidatura de Manuel Vilarinho num momento decisivo para a história do Benfica, que estava em risco de deixar de estar nas mãos dos sócios. Fiz parte de um grupo que foi dos primeiros a incentivar Manuel Vilarinho a avançar e, nessa altura, toda a gente dizia que era impossível ganhar e derrotar Vale e Azevedo. Sei bem o que é começar este debate contra os poderes instalados e contra alguém que se acha o dono do clube e que nada pode mudar.
Tem na sua lista elementos com provas dadas a nível profissional, mas não ligados ao futebol. É um ponto negativo?
-Vejo como ponto negativo é haver uma lista em que são sempre as mesmas pessoas, pessoas que já estiveram e vão voltando ou outras que foram muito críticas de Luís Filipe Vieira. Dá ideia de que é sempre o mesmo carrossel. Temos dois projetos, o projeto de Luís Filipe Vieira, que só fala do passado, não apresenta nenhuma ideia, que está tudo muito bem assim, para quem parece que este mandato vai ser um fardo, um sacrifício. E depois temos um projeto novo, o meu, que reconhece o que de bom foi feito mas que projeta o futuro.
"VIEIRA SENTE QUE O CLUBE É DELE"
Disse que recusou o convite de Vieira para vice. Foi mesmo convidado? Porque recusou?
-Quero um Benfica diferente, com uma nova geração e uma nova forma de olhar para o futebol e para o clube. Tudo isto é incompatível com um modelo em que um homem decide tudo sozinho e não ouve ninguém.
Vieira disse que a sucessão precisa de ser preparada. É uma prova de que pensa que o Benfica depende dele?
-É uma prova de que sente que o Benfica é dele e é um enorme desrespeito pelos donos do clube, que são os sócios. Estas afirmações são graves, mostram a forma como vê o Benfica, traduzem uma ideia de quase monarquia absoluta, em que só ele sabe, só ele pode dirigir o Benfica e só ele pode escolher o seu sucessor.
Apontando o que diz ser um "enorme desrespeito pelos donos do clube", face à recusa em debater, Noronha Lopes vê no atual líder encarnado "um homem cansado, que já não consegue mudar"
A pandemia é desculpa de Vieira para não debater?
-Não, tem medo de debater.
Existe ruído, como diz o atual presidente?
-Isso é uma desculpa de mau pagador. Ao recusar debater, está a revelar falta de cultura democrática.
Luís Filipe Vieira tem destacado a obra feita e o projeto para o clube...
-Vieira é um homem cansado, já não consegue mudar. E a permanência no cargo cria sobranceria, excesso de confiança e vícios que não vão desaparecer. Ele já disse tudo e o seu contrário; a sua palavra vale hoje muito pouco, quer a nível desportivo quer a nível de promessas. Sou gestor e sei a importância de ter contas certas e da sustentabilidade financeira. Vieira não me dá lições, já geri orçamentos de seis mil milhões de euros. O que se passa no Benfica atual é que está a construir a casa pelo telhado. Quando oiço que vamos mudar o emblema para vender mais camisolas na China, estamos a raciocinar ao contrário; vamos vender mais quando tivermos mais sucesso desportivo.
Uma das bandeiras do atual presidente é o sucesso das contas. Isso é pouco?
-Obviamente. O Benfica tem de ganhar títulos e, para isso, tem de ter contas certas. Mas o que se perdeu neste último mandato foi a noção do equilíbrio. No ano do penta tínhamos perfeitas condições para investir mais e entregámos o título de bandeja ao FC Porto, no ano passado exatamente a mesma coisa.