O administrador financeiro das águias falou na 3.ª conferência Bola Branca, promovida pela Rádio Renascença
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Lesa o futebol e o projeto para o futebol, nomeadamente a intenção da centralização dos direitos, esta suspensão do Benfica? Ou é estratégico? "Queremos trabalhar para a valorização do futebol português como um todo. O objetivo principal é valorizar o Benfica, mas valorizar o Benfica implica valorizar o futebol português. Queremos um melhor espetáculo, que as pessoas queiram ver pela justeza dos resultados, o mérito conta bastante. E queremos fazer a promoção produto, mas sem darmos um passo atrás, e temos de fazer uma reflexão sobre vários elementos essenciais, não apenas o tema da videoarbitragem, mas também os quadros competitivos. Temos de pensar se ao darmos um passo em frente não estamos a dar um passo para o precipício. Temos de dar um passo atrás, refletir sobre como tornar o produto melhor e depois dar dois passos em frente."
O Benfica nunca foi um clube muito alinhado com a centralização dos direitos televisivos… "Sempre estabelecemos princípios básicos que me parecem razoáveis. O Benfica tem as condições comerciais que tem e que construiu. Correu riscos que mais nenhum clube correu na altura, a criação de um canal de subscrição, e tem investimentos de monta feitos nesta área. Estamos disponíveis para participar num projeto de valorização do futebol português e que crie valor, mas que comece no valor que o Benfica tem hoje e vai ter no futuro. A partir daí, se for para melhorar e distribuir melhor por todos, muito bem. Mas temos de começar pelo valor que os clubes têm hoje em dia."
A distribuição de valores deveria ser em que sentido, no ponto de vista do Benfica? Classificação…? "Vamos mercado a mercado. Cada mercado tem as suas regras de distribuição, com base no passado e nos diferentes mercados. A forma como se distribui é talvez o menos importante. Passamos demasiado tempo a pensar como é que vamos distribuir coisas que ainda nem sequer criámos. Temos de criar primeiro um produto melhor, há condições para isso. Os nossos jovens têm um talento nato para jogar futebol, e em boa verdade beneficiamos do facto de o resto do desporto não ser tão forte como em outros mercados. Mas devemos pensar como é que vamos criar o produto melhor. Isso vai ser melhor para todos. Temos alguns exemplos, as apostas desportivas começou tudo ao contrário. Era para o dinheiro ser investido em infraestruturas, mas o único investimento em infraestruturas que vemos em Portugal é feito por poucos clubes. Quando o Benfica vai jogar fora, não encontra estádios e balneários em condições. Podemos perguntar para onde vai esse dinheiro? Já é pouco, mas para onde vai esse dinheiro? Quando construímos uma casa, começamos pelas fundações e não pelo telhado. Se começamos pelo telhado podemos não encontrar o chão. O nosso alerta é que temos de encontrar um chão."
É o caminho que o futebol português está a seguir, do ponto de vista do Benfica? "Temos uma nova liderança da Liga, que tem de ter o seu tempo. O nosso alerta é que temos de ter um passo na valorização do produto. A partir daí deve construir-se. Agora, sem fundações…"
Quanto vale o futebol português? "Trabalhei 25 anos como consultor de negócios e há uma regra básica: as coisas valem o que as pessoas pagam por elas."
Podemos ir longe nesse número? "Podemos ir longe nesse número e podemos não ir."
A ambição da Liga é demasiada para a realidade do futebol português? "É possível, é desejável, vai requerer inovação a nível do produto, coragem e determinação, o que não tem acontecido. Recordo que o Benfica, na altura em que se criou a BTV, foi buscar os direitos da liga inglesa, com a Benfica TV1 e Benfica TV2. Foi criado um projeto em que toda a gente dizia que era uma loucura e que não iria funcionar, mas o que é certo é que funcionou. Se não tivermos o arrojo de pensar diferente e só discutirmos chaves de distribuição de uma coisa que não está criada vai correr inevitavelmente mal. O Benfica não está muito disposto para contribuir para discussões estéreis."
A BTV deixará a sua realidade atual com a centralização de direitos? "Não sei. Porquê?"
É possível continuar? "O nosso projeto de comunicação tem de ser reformulado e teremos desenvolvimento no futuro nesse sentido. Temos muitas ideias sobre isso, mas a reformulação é inevitável, e estaremos cá para evoluir, mas não descarto nada. Porquê? Se for o que melhor valoriza o produto… Se fizermos uma lista dos 20 jogos mais vistos em Portugal da Liga, 17 são do Benfica. E são 17 porque só há 17 jogos. Temos de colocar isto em valor. É a realidade, mas tem de ser valorizado e visto pelo valor que traz."