Avançado Rodrigo Freitas quebrou jejum de golos com o Vilaverdense e marcou entretanto mais dois ao Ferreiras, na Taça
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Rodrigo Freitas, 22 anos, nasceu no Pragal, Almada, dando os primeiros pontapés na bola num bairro onde “muitos se perderam na vida”. Escapou a esse destino pelo suporte familiar que sempre teve, e hoje persegue o seu sonho de singrar no futebol com a camisola do Varzim. Sem pensar muito no futuro, porque já viu colegas saltar para grandes clubes e outros, que muito prometiam, ficarem desempregados, Rodrigo só olha para o presente.
Com tradição familiar no futebol, já que o pai e o avô jogaram no Cova da Piedade, o ponta-de-lança de 22 anos quer afirmar-se nos lobos do mar e aproveitar uma experiência que nunca tinha vivido.
Como foi que tudo começou para si no futebol? Tem raízes familiares na modalidade?
-Comecei por jogar num campo de pedra, com muitos amigos, mas o futebol sempre esteve presente na minha vida. Temos tradição familiar no futebol, porque o meu avô e o meu pai chegaram a jogar pelo Cova da Piedade, mas nunca foram profissionais, ainda que o meu avô tenha passado pelo Benfica. Aos sete anos fui para o Cova da Piedade por influência de um primo e por ser um clube que tinha ligações ao Sporting, já que eu era sportinguista. Antes, alinhava por um clube, penso que se chamava Brejoeirense, patrocinado pelo Benfica, mas saía dos treinos a chorar por treinar com os equipamentos da escolinha do Benfica e quis sair para o Cova da Piedade.
Como foi o percurso no Cova da Piedade?
-Foi muito bom porque treinava mesmo ao lado de casa e tive a felicidade de começar nos benjamins e acabar nos seniores. Tenho uma enorme gratidão ao clube. Sempre fui avançado, no entanto, no primeiro treino levei luvas e fui para guarda-redes, mas como agarrei a bola e tentei fintar os jogadores, o míster tirou-me as luvas e colocou-me na frente. Depois de todo este percurso assinei contrato profissional, mas as coisas não aconteceram como esperava.
Após o episódio que quase o tirou do futebol, destacou-se na equipa B do Alverca e foi contratado pelo Varzim. Qual a realidade que encontrou?
-Nunca experienciei o que me está a acontecer no Varzim. Vou aos restaurantes e as pessoas reconhecem-me, no fim dos jogos os miúdos querem fotos, estou em casa e recebo mensagens de incentivo dos adeptos. Nunca me aconteceu nada disso no Alverca. Lembro-me que tivemos menos pessoas a festejar o título de campeão do Alverca do que no jogo de apresentação do Varzim. Aqui sentimo-nos jogadores com a paixão que os adeptos nos transmitem.
Marcou quatro golos na pré-época e, mesmo jogando bem, nos primeiros cinco jogos não marcou, fazendo agora três golos em dois encontros. Ficou stressado quando esteve sem marcar?
-A questão dos golos tem muitos fatores. Sabia que estava a jogar bem, mas que me faltava o golo. E depois pensava, quero lá saber se jogo bem, quero é marcar golos. Aprendi muito nestas semanas e penso que já estou mais bem preparado. Há três semanas não era o pior do mundo e agora, por ter marcado três vezes, não sou um craque. Apenas estou focado em fazer as coisas bem e terminar os jogos de consciência tranquila. Os golos dependem de muitas coisas que acontecem, mas não posso estar a pensar nisso.
O que pode fazer o Varzim esta época?
- Esta equipa é nova e jovem, mas tem muita qualidade. Apesar de a equipa técnica ter o trabalho condicionado por ter que trabalhar novos fundamentos, temos mostrado muita vontade. Por querermos estar sempre a provar o nosso valor, podemos chegar longe, pensando jogo a jogo numa prova extremamente exigente, mas claro que todos queremos estar na fase de subida.
Que sonhos tem para a sua carreira? Onde se imagina daqui a cinco ou seis anos?
- Sonhar todos sonhamos, mas, pelo que já vivi, não penso muito no que pode acontecer a longo prazo para não ter desilusões. Gostava de poder dizer que vou estar a jogar a Liga dos Campeões, mas basta uma lesão e já ninguém se lembra de nós. Dou como exemplo alguns colegas, caso do Nuno Santos, que chegou a estar no banco de suplentes dos sub-23 do Estoril e agora joga no Lille, em apenas ano e meio. Por outro lado, vi um colega de profissão fazer uma digressão de pré-temporada num grande clube europeu e, entretanto, estava a jogar pela equipa do Sindicato. Para já, quero fazer as coisas bem no Varzim e logo veremos o que acontece .
Deixou o futebol por desilusão, mas o amor falou mais alto
Aos 17 anos, Rodrigo Freitas chegou a desistir do futebol, mas o amor pela bola acabaria por falar mais alto e regressou à modalidade pela porta do Alverca. Após assinar contrato profissional com o Cova da Piedade, onde se formou, e estando a treinar com o plantel na pré-época, partiu um pé e percebeu que “nada estava contratualizado e nem havia seguro”.
“Fiquei duas semanas com o pé partido, sem ser operado, e foi difícil. Tinha muitas expectativas e, sendo um miúdo, estando num clube da II Liga, com contrato, ao lado de casa e a treinar muito bem, ao lado do Edinho, do Carvalho e de outros, já projetava o futuro noutros patamares. Depois já ninguém queria saber e isso abalou-me muito”, contou o avançado que “não queria sequer ouvir falar de futebol”. Mas nunca desistiu dos seus sonhos.