A FIFA decidiu impor limites no número de emprestados, que serão de oito de e para um clube na próxima época, até se fixar num máximo de seis daqui a dois anos. No entanto, atletas sub-21, bem como formados sempre no clube com o qual têm contrato, não entram nas contas e ajudam os clubes a "fintar" as normas
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O mundo dos empréstimos de jogadores de e para um clube vai mudar radicalmente já na próxima temporada.
Contextualizando, a FIFA anunciou um limite - que até então não existia - e que na próxima temporada será de oito atletas cedidos pelos clubes, que também só poderão contar com o mesmo número de futebolistas nas mesmas condições, nos respetivos planteis.
Em 2023/24, a regra passa para sete e, depois, para seis, em 2024/25. No que toca ao futebol português, o máximo permitido pela Liga é três jogadores emprestados entre clubes da mesma divisão, mas não há limites para quem for oriundo de emblemas estrangeiros. Ou seja, as alterações divulgadas pelo organismo que rege o futebol mundial terão que ser levadas a assembleia geral para alteração dos regulamentos. As normas, que devem entrar em vigor a 1 de julho, contam, no entanto, com duas exceções: jogadores até aos 21 anos não entram nesta contabilidade, bem como os que fizeram toda a formação no clube com quem têm contrato.
Ora, a Liga Bwin está, em geral, preparada para as mudanças e os casos fora da caixa acabam por beneficiar das tais exceções elencadas pela FIFA. No entanto, Sporting e Benfica vão ter que cortar no número de jogadores a rodar noutras paragens. Os leões têm 14, contudo quatro deles são sub-21. Assim sendo, são dez os atletas cedidos, o que já ultrapassaria o limite de oito da próxima temporada. O mesmo acontece no Benfica, com 11 emprestados, entre os quais dois sub-21. Contas feitas, havia um emprestado a mais nas águias se as normas da FIFA já estivessem em vigor. À parte disso, os restantes estavam dentro dos limites que serão estabelecidos em 2022/23, sendo que FC Porto e Braga, com oito jogadores a rodar noutras paragens, encontram-se no limite. Na outra face da moeda, o Tondela tem no plantel oito atletas que pertencem a outros clubes, mas Eduardo Quaresma e Tiago Dantas são sub-21.
Atalanta tem três planteis a rodar...
Em Itália não há limites quanto aos emprestados e a há números estratosféricos no que toca aos atletas a rodar noutras paragens. A Atalanta, por exemplo, tem 66 (!) cedidos. Destes, 32 são sub-21 o que não impede, contudo, que o clube de Bérgamo tenha que fazer um corte considerável para se adequar às normas da próxima temporada. Aliás, todos os 20 emblemas da seire A têm mais do que oito emprestados. O menor número verifica-se na Juventus, com dez, sendo quatro sub-21, o que deixa a Vecchia Signora preparada para o que aí vem. Por outro lado, Genova (38) e Sassuolo (30) são os que ficam relativamente perto da liderança incontestada da Atalanta. Por exemplo, a Salernitana, lanterna vermelha da prova, tem 17 jogadores a rodar. Quanto aos futebolistas que os clubes têm emprestados nos planteis, só a Salernitana e o Empoli estariam em incumprimento.
Ingleses com poucos ajustes a fazer
Em terras de Sua Majestade, a Premier League é, entre os cinco principais campeonatos europeus, a que tem regras mais definidas. Permite que os clubes tenham não mais que dois jogadores emprestados por emblemas ingleses, sendo que o máximo por temporada é quatro. Além disso, não é permitido ter mais do que um futebolista cedido pelo mesmo clube britânico. Todavia, não há restrições no que toca aos jogadores a emprestar para outras paragens. Como tal, Norwich, Manchester City, Wolverhampton, Watford, Brighton, Chelsea e Arsenal têm, todos, mais do que oito jogadores a rodar, porém, a exceção prevista para os sub-21 deixa, apenas, Watford e Wolverhampton em incumprimento atualmente.
Na Alemanha, França e Espanha, os restantes campeonatos que compõem o big-5, não há limitações claras e só o Getafe (Espanha) tem nove emprestados atualmente e precisaria de cortar. De resto, há vários emblemas que contam com mais do que oito futebolistas noutras paragens, mas todos eles beneficiariam da tal exceção dos sub-21.
Opiniões
"Os clubes vão ser mais ponderados"
"Sinceramente, acredito que as coisas não vão mudar muito, até porque as regras têm exceções. Por norma, quem empresta os jogadores, é numa perspetiva de potenciar o jogador jovem, de os fazer rodar, como existe estas nuances, não vai mudar muito. O que poderá mudar é que os clubes vão contratar ainda mais jovens para estarem ao abrigo destas exceções. Os clubes vão ser mais ponderados na contratação de jogadores acima dos 21 anos."
Nuno Correia, empresário
"É bom para não dar o monopólio"
"É uma boa medida para não dar o monopólio a quem tem o poder. Acaba por dar mais hipótese a quem tem menos poderio financeiro para ter jogadores de qualidade. Dá mais hipóteses aos clubes mais pequenos de fazer os seus negócios. Os clubes assim gastam menos dinheiro, têm que olhar para jogadores jovens para fazerem os planteis e quando vão contratar jogadores, têm que ser mais criteriosos para não correrem o risco de ter jogadores que queriam emprestar e já não podem."
João Henriques, treinador
"Vejo com bons olhos as limitações"
"Os empréstimos são uma forma de se manter os jogadores em atividade, quando não são muito utilizados, seja por uma questão de adaptação ou por opção técnico. Vejo com bons olhos esta limitação, mas discordo que na nossa Liga haja a restrição de um jogador emprestado pelo mesmo clube. O ideal seriam três. A limitação é coerente e obrigarão os clubes a escolher melhor os jogadores pela qualidade e não pela quantidade."
Rodiney Sampaio, presidente da SAD do Portimonense