Costumes e gastronomia variada de muitas nacionalidades revelados pelos jogadores do Rio Ave
Corpo do artigo
Com 17 nacionalidades no plantel, o Rio Ave é um exemplo de integração de jogadores estrangeiros que, nesta altura do ano, por força do campeonato português não parar - ao contrário do que acontecia há uns anos - sentem mais a distância de casa. Mas muitos deles querem manter as tradições natalícias dos países de origem para matar saudades de casa.
Entre atletas de diferentes continentes, com crenças variadas e religiões distintas, nem todos celebram o Natal, como é o caso de Zoabi, israelita muçulmano que, ainda assim, elogia o espírito da festividade. “Respeito muito o Natal, por ser uma época em que as famílias e os amigos se juntam. Isso é muito importante seja qual for a religião”, sublinhou o avançado, lembrando que há “várias religiões em Israel”. “As ruas têm muitas decorações. Nem os muçulmanos nem os judeus celebram a data, mas é normal juntarmo-nos aos amigos cristãos nesse dia e irmos jantar a um restaurante”, contou o israelita a O JOGO.
Já Olinho vai passar o Natal pela primeira vez fora da Alemanha, longe da família, suportando as saudades na companhia da namorada. “Sei que a minha avó, especialmente, vai ficar muito triste, mas não posso fazer nada. Na Alemanha, há uma pausa dos campeonatos para o Natal, mas aqui não”, constatou o médio germânico de 23 anos, que está habituado, na terra natal, a ver “muita animação de rua, com diversos mercados de Natal”. “Celebramos na casa da minha avó que cozinha para todos. E também costumamos ir à igreja na noite de Natal”, revela Olinho, que em 2024 não vai comer as habituais iguarias. “Ao jantar, temos uma sopa típica, depois um prato de carne, com batatas e vegetais. Como sobra sempre comida, a família volta a reunir-se para almoçar dia 25”, partilhou o avançado.
Do outro lado do Atlântico veio o argentino Toto Medina, que terá a companhia do irmão para atenuar na distância de casa. “Já percebi que em Portugal vive-se de forma mais intensa, com muita gente nas ruas e muitas decorações. Na Argentina festejamos em família, com comidas típicas numa festa para desfrutar das pessoas que nos são queridas”, revelou o avançado que promete provar “o famoso bacalhau” português em detrimento do vitel toné, “um prato de carne argentino que tem um molho especial”, assim como o pão doce de sobremesa”. “Jantamos no dia 24 e depois celebramos até à meia noite”, acrescentou Medina.
De regresso à Europa e para conhecer os costumes natalícios dos gregos, falamos com Vrousai, um cristão ortodoxo, cuja tradição manda fazer o jantar de Natal no dia 25. O lateral conta com a presença da mulher e do filho de 18 meses para passar o Natal em Vila do Conde, onde identificou já que, “tal como na Grécia, há uma tradição muito grande nesta altura do ano”. “É muito interessante ter várias nacionalidades no balneário e conhecer as tradições de cada um. Na Grécia temos as músicas de Natal e as crianças vão, de casa em casa, cantar para as outras famílias”, contou o grego que ficou com água na boca ao abordar a gastronomia desta época na Grécia e uma tradição curiosa. “Temos os melomakarona [biscoitos moles, encharcados em xarope de mel e cobertos com nozes] e os kourabiedes [biscoitos de amêndoa cobertos com açúcar]. Temos ainda o vasilopita, que significa pão de São Basílio, onde metemos uma moeda no interior e cortamos em várias fatias. Quem ficar com a fatia da moeda vai ter muita sorte no próximo ano”, explicou Vrousai.
Capitão não deixa ninguém sozinho
Vítor Gomes, na condição de capitão do Rio Ave, tem responsabilidades acrescidas na gestão de um balneário multicultural, facilitando o facto de dominar bem o inglês e o espanhol, as línguas reinantes na comunicação com os estrangeiros. Para lá de dez jogadores portugueses e quatro brasileiros, há atletas de todos os cantos do mundo, pelo que gerir tantas nacionalidades “tem sido desafiante”, reconheceu o médio, que hoje celebra 37 anos. A comunicação “é feita em inglês e espanhol” para os argentinos Petrasso e Medina, dado que “não percebem português e dizem que nós falamos muito rápido”. “Enquanto o treinador fala, por vezes alguém da equipa técnica traduz”, explicou Vítor Gomes que tem experiências em países como Itália (Cagliari), Hungria (Videoton), Turquia (Balikesirspor) e Chipre (Omonia). “Aprendemos os costumes de cada nacionalidade e, como capitão, tenho de estar atento aos pormenores e estar perto”, revelou o capitão, que garante “respeito” de todos pelo “espaço que cada um precisa” por questões religiosas.
Neste Natal, todos deverão ter por cá “as famílias ou as namoradas”, mas, caso isso não aconteça, e tal como sucedeu quando convidou para sua casa Christian Atsu, um antigo companheiro já falecido, “ninguém ficará sozinho”. É que Vítor Gomes teve essa experiência quando jogou em Chipre, por alturas da pandemia de covid-19, confessando, com muita emoção à mistura, que passou “o pior Natal” da vida. “A minha mulher foi dizendo à minha filha que eu vinha, depois não autorizaram e ela ficou muito triste. Foi complicado gerir as emoções”, disse Vítor Gomes, que teve “a felicidade” de ser convidado para jantar pelos colegas Fabiano Freitas e Thiago Santos. “Mas, quando liguei à minha mulher por videochamada, a família estava toda reunida e eu estava sentado no sofá sozinho. Foi um momento muito difícil. Temos a melhor vida do mundo, conseguimos ter salários bons, mas há coisas que o dinheiro não compra e esta é uma delas”, assegurou o jogador vila-condense.
Nas Caxinas come-se no chão, mas família numerosa complica
Segundo a tradição das Caxinas, no dia de Natal come-se no chão, mas Vítor Gomes revela que lá casa, onde recebe uma “numerosa família”, isso já não acontece. “Mas todos já sabem que têm de trazer mantas e travesseiras para estender no chão num canto. Depois de comer, enquanto se aguarda pelas prendas, quem quiser vai descansar um pouco, enquanto outros dançam e fazem jogos”, disse o caxineiro que no dia 25, depois de comer o bacalhau, tem uma ementa variada com “polvo, farrapo velho e rojões”, sempre acompanhada por um “bom vinho...”