"No FC Porto tens de ser intenso até ao último segundo. Se tiveres de desmaiar em campo, desmaias"
ENTREVISTA, PARTE I - Representar o FC Porto foi "um desafio bom" para o guineense, que se deixou contagiar pela exigência da equipa técnica liderada por Sérgio Conceição, ao ponto de apostar, sem dúvidas, na conquista do título.
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Foi durante a viagem de autocarro para um dos aeroportos de Dallas, de onde partiria rumo a Foxborough, para defrontar os New England Revolution, que Nanu conversou com O JOGO. O lateral-direito, que deixou o FC Porto em janeiro com destino à MLS, abordou a fase dos dragões, o trabalho com Sérgio Conceição, a evolução de João Mário e os momentos mais pessoais, como o choque que o deixou inanimado com o Belenenses, em 2020/21, no Jamor.
Nanu Lateral do FC Dallas não perspetiva quebras até ao fim e justifica a convicção em O JOGO com a forma como os dragões encaram os desafios
Depois de sobressair no Marítimo, a passagem pelo FC Porto ficou aquém das expectativas?
-Nós queremos sempre jogar. Mas concretizei um grande sonho de representar o FC Porto e de ser treinado pelo Sérgio Conceição, porque é um treinador que todos conhecem e que capta a atenção de toda a gente. Foi um desafio bom e fiquei muito feliz por ter representado o clube. Mas nem tudo na vida e no futebol é como queremos. Temos de arranjar soluções para que as coisas aconteçam. No Marítimo também não tive sucesso imediato, mas a partir do momento em que comecei a jogar na equipa principal foi sempre a progredir. E por isso é que me fui destacando no tempo que passei lá, ganhei quatro prémios de melhor do jogo e fui o segundo jogador com mais dribles completos na Liga. Na altura tinha confiança e por isso é que as coisas também me corriam bem. Não fiquei totalmente satisfeito [no FC Porto], porque não jogava, mas temos de perceber que existem outras pessoas a lutar pelo mesmo. Uma coisa é querer, outra é poder. Talvez não estivesse ao meu nível, mas precisava um pouco mais de confiança para isso. De resto, foi tudo muito positivo. Desfrutei bastante e acho que, pelo que fizemos, merecíamos muito mais a nível de títulos.
Este ano a equipa parece lançada na Liga e em boa posição para atingir a final da Taça de Portugal. Qual é a principal diferença para 2020/21?
-Não acho que existam muitas diferenças, porque a identidade é a mesma. A identidade do clube é uma coisa fora do normal, como se percebe pelo nível que apresentámos contra as grandes equipas da Europa. Não o digo por ter sido jogador do FC Porto. É a realidade. Tenho um orgulho enorme de ter feito parte de um grupo que mostrou que é muito forte.
Como se explica então o desempenho atual?
-O FC Porto está a demonstrar um futebol, como se diz, incrível. É um futebol bonito e agressivo. Mas o que conta é ganhar. Se não ganhas, estás tramado. Espero que continue assim, que seja campeão e que o Marítimo faça um bom resto de campeonato.
A equipa vem de uma vitória em Alvalade, para a Taça de Portugal. Como viu o jogo?
-Apesar de ter começado a perder 1-0, o FC Porto é uma equipa capaz de dar a volta a qualquer momento e foi isso que aconteceu. Não é nada que me surpreenda.
Esta época já são sete reviravoltas. De onde vem esta capacidade?
-É um conjunto de coisas: a mentalidade, o ADN Porto, os adeptos... O FC Porto tem uma coisa que mais nenhum clube tem, como demonstrou no jogo de Alvalade. A equipa técnica incute-nos coisas muito positivas para conseguirmos esses objetivos.
Que coisas?
-No FC Porto tens de ser intenso até ao último segundo; não dá para facilitar nada. Se tiveres de desmaiar em campo, tens de desmaiar. Se chegares ao fim de 50 minutos e disseres ao míster que não aguentas mais, tudo bem, desde que tenhas dado tudo nesse tempo. Isso é que é o espírito do FC Porto. E no treino é exatamente igual. Damos as mãos uns pelos outros e mais nenhuma equipa consegue ser assim, pronto. Pode até ser bom, mas nunca assim.
Até que pormenor vai a preparação de um clássico?
-O míster passa-nos muita informação, quer no relvado, quer através de vídeos. Mas depois disso está o que é o FC Porto, a exigência que a equipa técnica nos incute. É isso que faz com que a equipa seja assim, fora do normal. Claro que os adeptos gostam sempre de um jogo perfeito, mas nada é perfeito na vida. Será que as pessoas que gostam de criticar são tão boas no seu trabalho? Será que nunca erram? Nós erramos, mas tentamos dar sempre a volta por cima. Ao fim e ao cabo, o que conta é ganhar. Podes jogar muito bem e não ganhar, mas o contrário também.
Foi suplente na última vez que o FC Porto perdeu para na Liga, em Paços de Ferreira. Que impacto teve a frase de Sérgio Conceição de que tinha sido o pior jogo que havia orientado?
-Em primeiro lugar, o míster Sérgio não gosta de perder. Depois, quem joga no FC Porto sabe que existe uma mentalidade de que não se pode facilitar em nada. Muito menos ver equipas fazerem a mossa que o Paços de Ferreira fez.
Seis pontos para o Sporting é uma vantagem confortável a dez jornadas do fim?
-Só digo uma coisa: se o FC Porto continuar a jogar desta maneira, será campeão. Não tenho a mínima dúvida.
É uma convicção forte...
-Não estou a ver o FC Porto ter uma quebra que o faça perder este campeonato. A equipa encara os jogos de uma forma que a faz massacrar os adversários. Cria muitas oportunidades e, por isso, não tenho dúvidas de que será campeã.