"No FC Porto, o Lucho González é um ídolo e o Alan Varela tem muitas coisas dele"
Jorge Raffo descobriu Varela e faz-lhe um raio-x: das semelhanças com um ídolo do clube ao que lhe falta aprimorar; O JOGO falou com o responsável por levar o miúdo a uma academia do Barcelona, testemunho do primeiro grande teste europeu. Não saiu do radar dos culé, mas o FC Porto "é um grande passo", frisa.
Corpo do artigo
Pé ante pé, mas de forma sólida e assertiva, Alan Varela acelera no entrosamento no FC Porto. A passada quarta-feira trouxe-lhe a primeira grande apresentação na montra europeia, se atendermos às diferenças entre Shakhtar Donetsk e Barcelona, num desempenho marcadamente positivo e reconhecido lá fora, inclusive pelos seguidores blaugrana.
Curiosamente, foi numa academia do Barça na Argentina que o médio começou a dar pontapés numa bola e poucas pessoas estarão mais habilitadas para falar sobre o desenvolvimento de Alan do que Jorge "Coqui" Raffo, o treinador que o foi buscar a Isidro Casanova, a região que alberga a maior comunidade portuguesa da Argentina.
Já parecia destinado e este mentor de Varela, que depois o conduziu à formação do Boca Juniors, vê uma ligação perfeita. "No FC Porto, o Lucho González é um ídolo e o Alan tem muitas coisas dele. Gestos técnicos em que se assemelham", analisa Raffo a O JOGO. Mas, claro, há diferenças e caminho para trilhar. "Ao Varela falta chegar ao golo, mas a visão de jogo, a forma como participa, o passe curto e longo... É muito bom a distribuir a bola através de passes verticais", indica.
Se desde tenra idade Varela mostrava que podia chegar longe, o técnico crê que "Portugal é um grande passo para entrar no futebol europeu", mesmo que Alan tenha de "habituar-se a outro tipo de jogo na Liga dos Campeões", porque "são outros voos e outro nível". Os primeiros sinais, como dissemos, foram positivos e Raffo também vê no FC Porto "uma equipa que joga muito bom futebol". "Encontram o Varela num momento de maturidade e qualidade futebolística. No futebol português há mais espaços do que no inglês, por exemplo, e isso será benéfico para o Alan; não é tão físico", acrescenta um dos formadores de futebolistas com maior currículo na Argentina.
Independentemente das etapas de crescimento de um jogador de 22 anos, para Jorge Raffo "o importante" já está lá. "Alan tem qualidade técnica e visão de jogo. Evoluiu nas tarefas de jogar sozinho no meio-campo, com espaços amplos para fazer recuperações. Esta última etapa no Boca, com o Jorge Almirón, correu muito bem, porque ele introduziu-lhe novas ferramentas no seu jogo", sustenta o argentino.
E como foi o caminho do "chiquito" Varela até ao homem que pouco demorou até agarrar um lugar no sempre exigente meio-campo do FC Porto? "Tinha uma maneira de posicionar-se para receber a bola e de fazer receções orientadas. Por isso, o Barcelona tinha-o bem referenciado e queria-o. Sempre foi um jogador de classe. Também o fazíamos jogar a número 8 para que fosse mais dinâmico. O último passe era bastante bom, mas queríamos que acrescentasse dinâmica e fosse ainda mais interventivo no jogo", recorda "Coqui", a propósito de um talento que se "destacava muito na sua geração de 2001". "Era talentoso, muito agressivo e, apesar da idade jovem, tinha muito andamento. Agora é um futebolista mais completo, cresceu nisso e no trabalho defensivo", fechou Jorge Raffo.
Passe e intensidade sobressaem na Champions
O Barcelona foi o primeiro colosso europeu que Alan Varela defrontou e o médio pôs-se à altura das circunstâncias, liderando vários itens entre os dragões: passes certos (37/40); passes no meio-campo adversário (23); passes longos bem sucedidos (8/8)... O argentino não fez faltas, somou seis recuperações de bola e o vídeo com os melhores momentos na partida correu pelas redes sociais, até nas afetas aos catalães. Um utilizador do "X" (ex-Twitter) garantia mesmo ter enviado há algum tempo um relatório sobre o jogador ao departamento de scouting dos catalães. Na Champions, Varela é ainda o segundo jogador da equipa com mais quilómetros percorridos (23, atrás de Eustáquio, com 26,7) e, excluindo centrais e jogadores com utilização reduzida, é quem tem mais acerto de passe: 90,5%.