Contratação sonante para 2020/21, tendo custado 20 milhões de euros, Everton tem menos centros, dribles, duelos ofensivos ou passes em profundidade. Porém, está a defender mais
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Único titular entre os jogadores de campo nos 11 desafios já disputados pelo Benfica em 2020/21, Everton está a sentir dificuldades para justificar os 20 milhões de euros da sua contratação, tendo mesmo sido substituído por duas vezes ao intervalo nos últimos três jogos, com Boavista e Braga.
"Registo defensivo? Está dentro do quadro das tarefas da função que tem. Toda a equipa participa"
Aliás, os registos nesse período, que inclui ainda o Rangers, são claramente negativos, levando a que os números no capítulo ofensivo sejam inferiores ao que apresentou no Grémio em 2020. Nesta fase, o extremo não rematou e não fez qualquer assistência, ficando em branco ainda nos passes em profundidade e falhando nos cruzamentos (só dois e errados). E em praticamente todos as categorias baixou o registo.
Com maior eficácia na relação remates/baliza e no total de passes pelo Benfica, Everton dispara muito menos de águia ao peito - passou de 2,9 tiros em média por jogo no Grémio para 1,6 -, destacando-se bem menos nos golos e assistências: tinha três de cada este ano no Grémio, contra um tento e dois passes decisivos na Luz. E apresenta agora menos cruzamentos, dribles, duelos ofensivos, passes em profundidade e até toques na área contrária, evidenciando também uma pior eficácia nestes itens.
"É só esperar um pouco que se adapte às realidades diferentes"
Um dos nove reforços que chegaram esta época, Everton está, na ótica encarnada, e como as restantes contratações, em período de adaptação e entrosamento, sendo que as águias admitem ser cedo para que este demonstre já todo o seu potencial, até porque já esteve, como agora sucede, ausente na seleção, algo que travou ainda mais a sua integração na Luz.
Mais em jogo pelo Benfica, recebendo mais passes (23,6 contra 19,8), é nas missões defensivas que Everton se afirma, ao contrário do que aconteceu no Grémio, mostrando outras valias, como sucede nos duelos ganhos, nomeadamente os defensivos, nas interceções e recuperações (ver quadros abaixo).
Jesualdo Ferreira, que orientou o Santos, tendo visto, por isso, Everton brilhar pelo Grémio, realça a contratação de um "jogador de grande talento e influente num clube com estatuto no Brasil". "É um jogador hábil, criativo, agressivo ofensivamente e capaz de grandes desequilíbrios e de fazer muitos golos. Mas jogava numa posição em que tinha maior projeção e menor participação em grande parte do jogo coletivo da equipa, nomeadamente defensivo", sublinha Jesualdo Ferreira a O JOGO, falando numa questão de adaptação, como "acontece com todos os jogadores brasileiros".
"A passagem de Everton para outro país, e outro continente, obriga sempre a adaptações inevitáveis, de natureza social, cultural e futebolística", refere, frisando: "Este Everton é diferente do que viu no Grémio, já na época passada ou até na seleção, porque o Grémio é diferente do Benfica, os campeonatos são diferentes... Está no clube há poucos meses, por isso é cedo para tirar conclusões. Está apenas numa fase de adaptação naturalmente a uma equipa nova, a tudo novo."
"É hábil, criativo ofensivamente, mas jogava numa posição em que tinha maior projeção e menos participação no jogo coletivo da equipa"
"As funções no Benfica e a forma como está a jogar não são as mesmas que eram no Grémio. Há questões de natureza tática e até física que são fundamentais para a adaptação do Brasil para Portugal de forma a que venha no tempo certo a apresentar as suas qualidades", afirma Jesualdo Ferreira, defendendo que Everton "mantém intactas as qualidades" que levaram o Benfica a pagar 20 M€ pelo atleta.
"É só esperar um pouco que se adapte às realidades diferentes", considera, frisando que "Everton já teve momentos muito bons" no Benfica.
E sobre as diferenças a nível defensivo, refere: "Está dentro do quadro das tarefas da função que tem. Toda a equipa participa. E se essa é a exigência no Benfica, então tem de ir atrás e defender."
Rafa dá "goleada" nos números
Se Everton tem sido sempre aposta à esquerda, no flanco direito é Rafa que tem merecido mais vezes a confiança de Jorge Jesus. E para já com melhores resultados do que o internacional canarinho. Rafa faturou por três ocasiões e contabiliza outras tantas assistências, contra apenas um golo e dois passes decisivos do camisola 7.
Menos eficaz nas ações, no total de passes ou na direção dos remates, Rafa mostra-se, contudo, mais produtivo do que o reforço canarinho em muitos aspetos ofensivos, mas também em algumas situações no capítulo defensivo, como é o caso das recuperações e interceções - tem 5,8 e 3,7, respetivamente, contra 4,1 e 2,3 de Everton.
Camisola 27 leva três golos e três assistências e superioriza-se ao colega no destaque ofensivo
Mais interventivo do que o reforço, Rafa mostra-se ainda melhor do que o companheiro em diversas situações como os dribles, os cruzamentos, os passes para a frente ou os duelos, entre estes os ofensivos.
Substituições passaram a hábito
Em 11 partidas realizadas em 2020/21, Everton foi substituído por sete ocasiões, tendo tal sucedido por duas vezes ao intervalo. E é preciso recuar mais de dois anos, até 6 de outubro de 2018, num 2-2 com o Bahia, para encontrar situação semelhante no Grémio. Aliás, nesse espaço de tempo, em 69 partidas como titular, Everton foi também substituído nas mesmas sete ocasiões, ele que nos últimos anos chegou a ter períodos consecutivos a jogar 90 minutos de quatro em quatro dias ou até com fases de três ou... dois dias de descanso.