Central fez uma retrospetiva da carreira ao podcast "ADN Sporting", falando da Póvoa de Varzim, da vodka russa, da poncha da Madeira e do jejum às gomas no confinamento
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Ao podcast "ADN Sporting", Neto abriu as portas do lado mais pessoal e foi detalhando cada momento da vida. Desde a infância na Póvoa de Varzim até à mãe que lhe apertava os calos na escola: "O meu avô foi guarda-redes do Varzim, mas o meu pai foi o mais inteligente, porque teve uma fase em que teve de optar por jogar futebol ou ir para o banco trabalhar - foi para o Banco e hoje é reformado, vivendo de rendimentos. O meu tio ainda hoje é adjunto do Varzim, tenho um primo guarda-redes lá, o meu outro primo, o Francisco Ramos, joga no Nacional e tenho ainda o meu primo Hernâni e o meu primo João. Na Póvoa há a mística de 'aqui ninguém passa'. Às vezes, o árbitro assinala uma falta e os adeptos começam logo 'hoje vais ao mar!'. Conheci os meus amigos todos no Varzim aos sete, oito anos. Seguimos até aos juvenis e, depois, até à estreia pela equipa principal. Se não estivesse ao pé de casa, estava na rua dos meus primos... Não havia GPS. Olhávamos para o sol, para a igreja... Éramos bem felizes. Pela minha mãe nunca tinha jogado à bola. Pelo meu pai sim, pelo historial. A minha mãe, bastava eu ter um satisfaz menos num teste, e na sexta-feira não ia ao treino. Tinha o meu pai de pegar em mim e levar-me. Nunca levou a sério e ainda hoje me diz: não é por mim que estás aí. Cortei o cordão quando fui para o Nacional [2011/12] e encontrei lá alguém que hoje é família, o Márcio Madeira. Éramos só cinco portugueses."
De seguida, o defesa do Sporting explica os passos na carreira. "Adoro a Madeira, por tudo, pois foi ali que senti que cresci muito. O clima espetacular. A poncha de maracujá, a tradicional... Não sou de beber muito, mas depois de uma vitória, com amendoim", afirma, lembrando os saltos para o estrangeiro: "Siena continua a fazer parte do crescimento. Tinha o sonho de jogar na Serie A, o que aconteceu. Queria jogar numa equipa melhor, mas acabei por ir para a Rússia. Fiquei seis meses em Itália e quando penso que já não vou sair, o Zenit contrata-me. São Petersburgo é uma cidade que adoro, é a minha favorita na Europa. Deu para aprender a língua. Na Rússia passei muito frio, o início foi difícil. Tinha, porém, o Bruno Alves e o Danny - ninguém me tocava. Os russos metem uma travessa de fruta e um copinho de vodka. Parece que não se passa nada. Nunca vi um russo embriagado. Na Turquia [Fenerbahçe] deu para descansar um pouco mais. Falava-se muito bem de Istambul e foi incrível."
O pai russo, como é tratado no Sporting, diz ter recebido uma farda de polícia soviético e fala da boa relação com os colegas. "Tenho uma relação boa com toda a gente. Acho piada ao grupo dos miúdos, gosto de me meter com eles; aliás, saí do meinho dos "cotas" e fui para o deles. Sou o pai daquele meinho. Há o Antunes, que conheço da Seleção, damo-nos muito bem e fomos cultivando a nossa relação. Ele é de Freamunde, eu da Póvoa, falamos da mesma maneira... O João Mário também, o Palhinha... Conheci o Nuno Santos e o Pote, que são duas peças... Temos um grupo porreiro acima dos 30. Temos um grupo muito saudável. Ainda no aniversário do Max, teve de ir ao corredor, com todos alinhados... Sofreu. Por exemplo, chamam-me cota, mas é carinhoso, são miúdos respeitadores. Sabem o que podem e o que não podem fazer. A maioria tem 18, 19 anos e nós também os queremos ajudar, como me ajudaram a mim. Não pode ser tudo fácil. Têm de sentir que há uma diferença entre jogar na formação e equipa principal, para mais tarde poderem rumar a outros sítios", conta o central, que teve Quim Barreiros a atuar no seu aniversário e que tem um vício secreto: "No Varzim comia dois sacos de gomas. Fui tentando fazer o desmame. Na quarentena, estive a contar três meses sem comer uma goma, que foi uma grande vitória. Às vezes numa folga, numa bomba de gasolina."
Quanto aos conselhos ao filho é muito claro: "Digo-lhe sempre: se quiseres ser jogador, só do meio-campo para a frente. Não se passa nada e provavelmente ganhas mais. Ali atrás, cuidado. Agora começa a pedir mais bola, joga mais, mas gosta mais de plasticinas, carros dos bombeiros."
Pedindo para 2021 saúde para a mãe e que o grupo continue amigo, Neto acredita que quando deixar os relvados pode continuar na modalidade: "Acho que irá ser um futuro ligado ao futebol. Eu gosto do campo, mas ainda não percebi se será por aí. Acho que posso ter competências fora, mas gostava de estudar primeiro, aperfeiçoar as línguas. Desligar um, dois anos e perceber, depois, a área. Gostava de aprender melhor o russo."