Neto: "Muitas vezes temos que acalmar os demónios aqui dentro. A história não acaba aqui"
Declarações de Neto numa entrevista à Sporting TV
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Papel de líder: "O míster tinha-me dito com antecedência que acontecesse o que acontecesse... e o míster visitou-me no hospital quando eu tive o pneumotórax, tanto o míster como o Viana visitaram-me quando eu estava numa situação difícil. E o míster, de antemão, disse-me que acontecesse o que acontecesse, ele queria que eu continuasse no próximo ano. Ou seja, foi algo também que me deu muita força para enfrentar aquilo que seria um ano como o de 2024. Agora, eu teria dois caminhos: ou ia viver todos os dias na academia com o desejo desportivo e aquela fome de algo que eu tenho cá dentro que é... a gente só dá valor quando joga, e ia obrigar-me a pensar só e somente naquilo que era o plano desportivo; ou então poderia ter outro tipo de papel e poderia ser alguém positivo, alguém com energia boa todos os dias na academia, com todos os departamentos, ser alguém atento a tudo, ao pequeno detalhe, ao pequeno pormenor, a ajudar quem joga, a acalmar quem não joga, a ser alguém influente, até pela equipa técnica, uma boa influência, porque no futebol às vezes basta um mau feedback, basta uma cara mais cerrada, basta uma energia mais negativa no ar e consegue às vezes espalhar-se por outros."
A mudança em janeiro: “Principalmente a partir de janeiro, em que foi talvez o momento mais difícil que eu tive da época a nível emocional e mental, que foi eu próprio já quase a aceitar a minha posição, a partir daí, muito com estímulos exteriores, de casa, familiares, do meu filho... mas muito da ligação que eu tinha com todos os jogadores e perceber que eu nunca me iria perdoar, e eu tinha muito isto presente na minha cabeça, eu pensava sempre existe alguma coisa que eu nunca me vou perdoar é se eu chegar ao final, o Sporting não for campeão, e eu sentir que não dei tudo. E eu sei que aquilo ia comigo para o resto da minha vida. E, ou seja, exigiu de mim muito a nível emocional, muito a nível mental, muito a nível motivacional, mas cada dia que eu estacionava o carro, cada dia que eu entrava na academia, eu pensava podemos não ganhar este título, porque é algo coletivo, mas eu quase colocava algo de responsabilidade individual nisto porque dependia de mim. Se eu entrava na academia sorridente, se eu entrava na academia para abraçar toda a gente ou se eu entrava na academia com cara fechada e a pensar jogo ou não jogo, sou opção ou não sou opção, então o que será para o meu próximo ano? E eu acho que muito do orgulho que eu senti no final foi um bocadinho por isso, muitas vezes temos que acalmar os demónios aqui dentro, temos que dizer calma, relaxa, isto agora é entre mim e a minha cabeça e isto é a minha decisão, é este o caminho que eu tomo e não poderia no final estar mais orgulhoso disso porque percebemos que quando também aceitamos a nossa posição, também existe valor na nossa posição e conseguimos ver que no final é retribuído, no final acredito, também tenho um carimbo meu da mentalidade, da crença, de ter sido. Eu poderia ter aparecido só, por exemplo, em maio, quando estivemos perto de ganhar, mas eu tenho a certeza que o melhor Neto surgiu e existiu o melhor de mim durante todo este ano. Consegui-me colocar numa posição em que eu ia sofrer muito se eu não tivesse escolhido este caminho de dar o melhor de mim todos os dias na academia, qual fosse o resultado."
Saudades: "Vou ter mais saudades do meu trajeto na Ponte Vasco da Gama, as coisas que ia pensando sobre o que é que era bom para melhorar sempre o nosso dia a dia. Vou ter saudades de todas as pessoas que tive o prazer de partilhar muitos momentos, muitas histórias, muitas conversas. Eu sou muito de falar, gosto de saber como é que estão as coisas. Terei muitas saudades de Alvalade, de todas as vitórias, de todos os momentos que me lembro que ganhámos, terei saudades dos adeptos, de fazer parte desta grande família. Vou dizer sempre que serei sempre Sporting, mas o estar cá, caminhar na rua e as pessoas associar-nos ao Sporting, agradeço ter feito parte de algo tão grande. Faltam-me palavras, foi uma grande aventura, foi uma história feliz… Não gosto muito de falar em despedidas, tudo o que é história fica gravado na memória e no coração… nunca acaba."
Mensagem de despedida: "Amei o Sporting desde o primeiro dia e, genuinamente, vou ter muitas saudades de toda a gente. A semente ficou cá, as raízes estão aqui. Serei agora mais um leão de fora a torcer por mais vitórias. É como diz a música, juro ser fiel ao Sporting, o meu sangue é verde e branco, corre nas veias."
Últimas semanas de trabalho: "Vesti a camisola do Sporting como se fosse a minha pele desde o primeiro dia que cá cheguei, com muita crença, com muita vontade de fazer as coisas diferentes do que ia acontecer no clube, conseguir encurtar estas 'gaps' a nível temporal de ganhar consistentemente e ganhar mais vezes. E se há algo que me apazigua aqui um pouco a alma, passados cinco anos, acredito que o clube está num caminho de crescimento contínuo, um clube estruturado, um clube muito, muito forte, robusto, com muitas ideias para ainda evoluir cada vez mais, mas com uma série de recursos humanos muito capazes, quer na liderança quer na estrutura, jogadores com muito potencial, um grande treinador e uns adeptos fantásticos que nestes cinco anos provaram que são o melhor que tem o clube e que colocam o Sporting, parece-me a mim, neste momento, numa rota de forma mais contínua, acho que o Sporting está mais preparado para ganhar e acho que é um bocadinho por aí um orgulho naquilo que acho que deixo cá, a mentalidade, o legado, a exigência, um bocadinho tudo o que era e o que está agora e o que acredito que vai ser. Mas claramente com saudade já, ainda tenho alguma dificuldade em digerir, desde o dia da despedida aqui em Alvalade com o Chaves, o próprio significado da Taça de Portugal, essa última semana foi assim um bocadinho forte a nível emocional. É quando se percebe que as coisas estão a chegar ao seu término, por tudo, não só por nós, também pela família. Mas, é assim, temos de seguir. É um ciclo que se fecha, mas é uma história que acredito que não acaba aqui."