As transferências terão características bem diferentes das dos anos anteriores. Jogadores de elite irão manter o valor original e os clubes vão retrair-se. Os outros serão revistos em baixa.
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Ninguém escapa à crise mundial provocada pela covid-19. No futebol, fazem-se contas e os clubes que perspetivavam alterações profundas nos plantéis começam a encolher-se com as muitas dúvidas que pairam no ar. Este mercado de transferências será, naturalmente, diferente e os empresários de jogadores aguardam pelos primeiros sinais para avançarem. Ninguém tem certezas. Ligas suspensas, competições europeias bloqueadas, Europeu e Copa América adiados. As montras internacionais estão fechadas. Enfim, um quadro surpreendente e inesperado para todos.
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O JOGO ouviu a opinião de alguns empresários sobre as perspetivas do próximo mercado de verão e as opiniões dividem-se em alguns aspetos, embora todos concordem que será um período mais pobre do que noutros anos. Curiosamente, acreditam que o valor dos supercraques, o lote dos melhores do mundo, não vai baixar e isso afastará também eventuais interessados da corrida. Mbappé (200 M€), Neymar (160 M€), Messi (140 M€), Salah (150 M€), Mané (150 M€), Van Dijk (100 M€), Ronaldo (75 M€) e pouco mais (avaliados pelo "Transfermarkt" nos valores acima referidos) serão imunes à crise em termos de valor. Ou seja, o preço destas estrelas não irá flutuar em função do quadro económico frágil. Os outros, nos patamares inferiores, serão revistos em baixa. A porta fecha-se aos grandes negócios, os chamados negócios de "champanhe e caviar", de três dígitos.
"Na próxima janela de transferências não se farão muitos negócios, muito menos negócios de valores muito avultados, como em anos anteriores. Agora, há poucos jogadores de qualidade e a qualidade tem um preço alto... logo, o preço de alguns deles continuará a ser elevado. Pensar em saldos nestes jogadores é um erro. Além de que a concorrência é muito grande na Europa", começou por assinalar Giuliano Bertolucci, empresário brasileiro, reconhecendo que "Neymar inflacionou muito o mercado" quando se transferiu para o PSG. "A partir dessa altura, os valores dispararam e ficaram um pouco fora dos parâmetros normais. Houve um exagero no pós-Neymar. E digo isto mesmo sabendo que foi bom para a nossa atividade." Ulisses Santos acredita que haverá dinheiro apenas para um "Mbappé". "Os grandes negócios, como um Mbappé, um Cristiano Ronaldo, um Neymar, um Salah, um Mané, não estarão dependentes do dinheiro que os clubes consigam. Quem quiser esses jogadores, ou tem dinheiro ou não tem. Acredito que haverá uma transação dessas, mas será muito isolada", esclareceu o agente FIFA.
Mais reservada é a visão de Diogo Henriques. "Existirão sempre clubes com capacidade para o fazer, embora este seja um mercado de contenção. Se nos focarmos num Neymar, num Messi ou num Ronaldo, estaremos a falar de um campo financeiro numa outra perspetiva, uma ideia que admite também patrocinadores e público. Se formos falar do jogador de futebol normal, mesmo dos clubes maiores, penso que vão baixar significativamente os valores. Aliás, acredito que, neste mercado, não se irão fazer negócios de três dígitos", atirou o empresário de Tiago Dantas, entre outros jogadores.
"Os grandes negócios, como um Mbappé, um Cristiano Ronaldo, um Neymar... não estarão dependentes do dinheiro que os clubes consigam"
Parte decisiva neste processo são os direitos televisivos, assegura Bruno Carvalho, da Team of Future. "Não sabemos ainda como será o mercado de transferências, mas essa questão será decisiva", diz. "Se os direitos televisivos forem pagos, a crise não afetará de forma muito vincada os grandes clubes europeus. Agora, se a televisão decidir cortar pagamentos, aí irão viver uma situação muito grave", acrescenta Bertolucci.
Em termos desportivos, entendem que o primeiro passo para voltar à normalidade será o "retomar do campeonato". "Mesmo que se entre por julho e embora haja algum sofrimento a nível económico, haverá mercado e o inevitável efeito dominó: quem vende, fica com dinheiro para comprar...", reitera Ulisses Santos, numa visão mais otimista do problema, aliás partilhada por Bruno Carvalho, que considera: "É possível que, este ano, o mercado de transferências não seja tão ativo como nos anteriores, mas o desporto e o futebol continuam e cabe também a nós, agentes, e a todos os intervenientes deste sector encontrar soluções."
Caso esta crise seja ultrapassada, Diogo Henriques entende que será determinante para o êxito do mercado que os clubes flexibilizem as suas posições: "Será preciso promover o bom senso das pessoas para travar um pouco os valores das transferências."