<strong>ENTREVISTA - </strong>António Folha deixou para trás um passado de aprendizagem muito ligado ao FC Porto. Foi em Portimão que se estreou na I Liga como treinador principal. E com inegável sucesso.
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O Portimonense terá sido uma das equipas mais surpreendentes na última época, pelo bom futebol praticado. Uma marca do treinador, António Folha, que fica aborrecido quando as suas equipas não jogam bem. O treinador, natural de Vila Nova de Gaia, onde nasceu há 48 anos, e com uma vida profissional dedicada em grande parte ao FC Porto, dá hoje a primeira entrevista a um jornal desportivo desde que se estreou na I Liga, uma conversa que valeu a pena, aqui espalhada em três páginas.
Fez a época que desejava no Portimonense?
-Acabou por ser uma boa época, porque os objetivos foram cumpridos. Um treinador quer sempre mais, o objetivo era a permanência, para solidificar o clube na I Liga. Em dezembro também fizemos um bom encaixe financeiro com as transferências. Sim, foi uma época positiva.
Porque é que aceitou o Portimonense. Tinha outros convites, se calhar mais vantajosos?...
-Tive, mas os convites que tive surgiram depois de eu falar com o Portimonense. Dei a minha palavra e não preciso de ter nada assinado para seguir com a minha vida. Houve outras possibilidades, mas a palavra vale ouro.
Não se arrependeu?
-Nunca me arrependi, mesmo quando as coisas ficaram complicadas. Houve um momento de maior tristeza, naquela fase da perda de alguns jogadores importantes e é natural que um treinador se sinta mais triste, mas nunca me arrependi de ter ido para o Portimonense. Foi com muita alegria que fui para lá. Conhecia um pouco da equipa e achava que o Portimonense podia fazer um bom trabalho. Saíram uns jogadores, mas ficaram outros com muito valor e com capacidade para nos ajudar a atingir os objetivos.
"Gosto que as minhas equipas joguem bem. Quando isso não acontece fico um bocado aborrecido"
Você tentou utilizar o sistema que tanto gosta, o 3x5x2, mas teve que abdicar...
-Entrámos bem na pré-época nesse sistema, mas depois houve algumas lesões com os centrais e a partir daí tivemos que repensar o sistema a utilizar. Não tinha jogadores para o poder fazer. Também coincidiu com a chegada de jogadores para o meio campo. Não fazia sentido insistir no 3x5x2 e passámos para uma defesa a quatro.
Lá foi o seu sistema preferido...
-Sim, é o sistema que mais gosto, porque permite jogar de trás para a frente com um jogo rápido, em profundidade, com intervenções constante dos alas. É muito dinâmico. Tivemos que nos adaptar aos jogadores que tínhamos. Essa é a vida de um treinador.
Ao longo da época, mesmo após algumas vitórias, parecia aborrecido...
-Gosto que as minhas equipas joguem bem, não é que joguem bonito. Quando jogamos bem ficamos mais perto de poder ganhar, de poder fazer um jogo que nos permita ganhar. Mesmo ganhando nem sempre fiquei totalmente satisfeito. Não sentia solidez na equipa, às vezes não fiquei satisfeito.
"A saída de três jogadores influentes fragilizou-nos, mas já sabíamos que isso ia acontecer"
Ainda assim, fez uma primeira volta espetacular. Depois, as saídas do Ewerton, Manafá e Nakajima em janeiro fragilizaram muito a equipa....
-Claramente, mas sabíamos que tudo isso podia acontecer. É chato, quando se está tão bem, mas é a vida do clube. Com o tempo, conseguimos superar e atingimos os objetivos.
Já perdeu o Rúben Fernandes e o Tormena. Vai perder mais algum jogador?
-As pessoas que dirigem o Portimonense estão a fazer bem as coisas e no momento certo. Eles não vão vender os jogadores todos, conversámos, sabem que tem de ficar uma base para podermos continuar a crescer, como foi acontecendo ao longo da última época. Mas compreendo que um clube como o Portimonense tem que ser vendedor para ser vencedor.
Vai reforçar muitos sectores da equipa?
-Já identificámos o que é necessário. Para já, é fundamental sabermos o que vai acontecer com o Jackson. O clube está a tentar. Se não o tivermos, teremos de encontrar uma boa alternativa. A minha ideia é ter uma equipa competitiva, com dois jogadores para cada posição, de modo a garantir a concorrência que, quando levada salutarmente, traz qualidade à equipa. É isso que lhe vai dar o crescimento que todos desejamos, para que o Portimonense continue feliz na I Liga.