Presidente foi o principal rosto de uma Direção que tudo fez para ir a jogo nas duas últimas jornadas da época passada. Contudo, o líder sentiu-se "usado pela SAD" e sem "ajudas" posteriores da Liga
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O CD Aves separou-se da SAD, que entretanto desistiu do Campeonato de Portugal, e começa amanhã o campeonato da II Divisão da AF Porto. Os processos que correm na FIFA fizeram com que António Freitas criasse o CD Aves 1930, presidente que, se fosse hoje, não teria movido mundos e fundos para evitar falta de comparência às duas últimas jornadas da I Liga de 2019/20.
Inicialmente foi contra a ideia de refundar o clube. O que o fez mudar de posição?
-Eu não fui contra, foi mais um desabafo que tive em reunião de Direção, mas posteriormente vi que era a única saída.
Era a única saída ou a melhor saída?
-Foi simultaneamente a única e a melhor. Claro que quando esta Direção se candidatou não estava minimamente preparada para lidar com uma série de problemas que ainda continuam. Todos os dias resolvemos uns, só que depois aparecem outros.
Esta decisão de criar o CD Aves 1930 foi bem aceite pelos avenses?
-Há oposição, o que é perfeitamente normal, mas a massa associativa vai entender quando explicarmos tudo em assembleia geral.
O Aves vai conseguir, um dia, voltar à I Liga?
-Não sei. Vamos começar do zero e temos de subir vários degraus até lá chegar. Porém, o Aves também nos habituou, ao longo dos anos, a conseguir coisas muito positivas. Espero que quem me suceder neste mandato possa fazer mais e melhor e que daqui a seis ou sete anos possamos estar no futebol profissional.
Só vai ficar dois anos no Aves?
-Acho que sim. Tem sido muito desgastante e tenho vários vice-presidentes jovens que me poderão suceder, se o clube estiver financeiramente equilibrado.
Quanto gastou do seu bolso para terminar o campeonato?
-Isso não interessa muito. 50 mil euros? Não chegou a tanto, talvez 40 e tal mil.
Sabendo o que sabe hoje, tinha lutado tanto para terminar o campeonato?
-Diziam-me sempre "presidente tome conta do barco, senão vamos para o Distrital". Onde estamos hoje? No Distrital. Não valeu a pena porque fizemos isso para evitarmos vir para os Distritais, mas é lá que estamos. Sinto que fui usado pela SAD e a Liga também ajudou a isso. Conseguimos acabar o campeonato, a Liga enviou-me umas cartas bem redigidas, mas que mandei arquivar, porque nenhuma me ajudava e eu não precisava de agradecimentos.
O Aves "está vivo", assegura António Freitas, mas manietado por um colete de forças do qual não se libertará tão cedo. "Financeiramente estamos muito mal. As receitas são tremendamente insuficientes para o que o clube precisa. As verbas camarárias estão bloqueadas por causa dos processos que correm na FIFA, em virtude das dívidas da SAD, o que nos impede de conseguir a certidão de não dívida, ainda que o clube não deva nada, e a nós bastava-nos uma prestação para aliviar a tesouraria. Vamos ver se dentro da lei conseguiremos desbloquear esta situação até ao final do ano. Contamos os cêntimos todos os dias", explicou.
Silêncio para Estrela e Wei Zhao
Surpreendeu-o a desistência do Aves SAD do Campeonato de Portugal?
-Não, de todo. Nem quero falar dessas pessoas porque destruíram o clube.
Voltou a falar com Wei Zhao ou Estrela Costa?
-Não. Tirando as reuniões que tive na Liga e uma num escritório de advogados, nunca mais falei com essa gente, nem quero falar. Também acho que falar deles neste momento não resolvia nada.
E com Pedro Proença?
-Não. Depois de o campeonato ter acabado não tivemos nenhuma ajuda nem da Liga nem da FPF. Fizemos tudo para que a I Liga terminasse com dignidade, mas também não estou para mendigar.
Ganhou muitos cabelos brancos neste verão?
-Eu já tenho muitos, por isso não se nota tanto. Nestes meses nunca tive tantas reuniões com todos os órgãos sociais como nos outros anos em que fui presidente. E sem a restante Direção já tinha desistido.