"Não sei o nível atual do FC Porto, mas o Al Ahly não será um adversário fácil"
Abdelghani, primeiro egípcio em Portugal, um fora-de-série em Aveiro, reflete sobre o confronto que espera o FC Porto no Mundial de Clubes contra o poderoso emblema que um dia notabilizou Manuel José
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Autêntico contentor de títulos, maior músculo futebolístico do futebol africano, o Al Ahly será rival do FC Porto no Mundial de Clubes. O gigante egípcio exibe luxuosa prateleira de troféus, incomparável e deslumbrante capacidade de se renovar, sem nunca descurar a reputação, ostentando 44 campeonatos no universo dos faraós, somando 12 conquistas da Champions Africana.
Quem conhece os pergaminhos e este triunfante modo de existir é Abdelghani, o maior jogador egípcio a passar por Portugal, aterrando em Aveiro para ser cérebro do Beira-Mar a partir do final de oitentas, conseguindo mesmo patrocinar uma ida ao Jamor dos aveirenses, numa final perdida precisamente para o FC Porto. Homem forte no país, voz firme no espaço televisivo com recorrentes responsabilidades federativas, o antigo médio ficou encantado com o primeiro despique oficial entre um conjunto egípcio e um português, aprazado para junho.
Durante 11 anos ao serviço do Al Ahly, Abdelghani testemunhou essa força de um emblema de grandeza incalculável e paixão avassaladora, contando sempre com brutal assistência.
"O Al Ahly não será um adversário fácil para ninguém. Não sei o nível atual do FC Porto no Campeonato e na Europa mas, historicamente, é uma grande equipa e toda a gente no mundo, conhece a sua expressão. Será um grande jogo, certamente, e um jogo bonito para mim com muitos sentimentos. Vendo o clube onde cresci e um clube do país que me acolheu e onde adorei jogar. Tenho muitas recordações, estarei a torcer por ambas nesta competição", confessa Abdelghani, destacando as ambições que acompanham o Al Ahly.
"É um clube com uma história contínua, um passado riquíssimo, mas que apresenta as mesmas ambições de sempre, com um grande profissionalismo. Penso que vão querer mostrar tudo o que valem no Mundial FIFA", elogia, certificando um apetite, por norma, insaciável.
"Sempre disputou títulos e mantém sempre um nível de exigência máximo, porque os adeptos não aceitam menos que isso. Assim foi durante o meu tempo no clube, na era de Manuel José e as coisas nunca se alteraram", regista, medindo uma certa evolução.
"O clube tem-se atualizado também, no passado dependeu de jovens jogadores formados internamente, mas tem procurado cada vez mais jogadores noutros lados que se mostrem preparados para competir de imediato dentro das ambições traçadas", evidencia.
Jogadores em atenção também são facilmente identificados. "Não consigo visualizar um craque em particular, é uma equipa com vários bons jogadores, atletas muito comprometidos e com impacto sério na equipa. O êxito em jogos tão importantes dependerá sempre do esforço de todos e não de um homem em particular. No meu entender, entre os que se destacam, estão Rami Rabia na defesa, Marwan Attia no meio-campo, Hussien El Shatat e Wessam Abou no ataque", particulariza o antigo maestro do futebol dos aveirenses, que tem também noção da marca portuguesa no Al Ahly, deixada por Manuel José, com três etapas no clube, seis títulos egípcios e quatro Taça dos Campeões Africanos. "Será sempre uma pessoa amada no Egito, vem cá de vez em quando e sente isso. Ele sabe como o amam e apreciam cá", desvenda.
Abdelghani defrontou o FC Porto seis vezes, uma delas no Jamor, em que até marcou um golo infrutífero para impedir derrota numa final da Taça de Portugal. "Conheço perfeitamente o poder e popularidade do FC Porto pelo tempo que passei em Portugal. Cheguei pouco depois de terem sido campeões europeus, conquista que passou muito pelos pés do árabe Rabah Madjer, uma lenda. A partir desse momento, todos os jogadores desejavam jogar por um clube desse calibre. Lembro esses duelos, contra grandes jogadores, e ainda recordo muitos que eram de seleção brasileira. Defrontar o FC Porto era ótimo", admite.
"Houve um momento que se falou que se interessaram por mim, não sei ao certo se queriam ou não. Teria sido uma grande oportunidade jogar por um clube com tantas estrelas, em vez de jogares num em que tu és a estrela. Acho que teria atingido um nível mais alto se tivesse tido possibilidades de jogar lá", analisa.