A passagem de três anos pelo Salgueiros continua a ser recordada com carinho, bem como os dez anos em Barcelos. No Benfica trabalhou com Souness. Nandinho é agora treinador e vive experiência no Barém, ao serviço do Al-Muharraq
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Doze anos depois de ter iniciado a carreira de treinador, Nandinho já orientou jogadores de todo o género. Uns mais virtuosos, outros menos. Uns mais fáceis de gerir, outros mais complicados. O que nada o assusta, até porque, como confessa, ele próprio nunca foi um atleta fácil de ser conduzido.
Qual a melhor memória que tem dos tempos de jogador?
— Tive muitos momentos bons. Passei três anos fantásticos no Salgueiros, num ambiente muito familiar que caracteriza a tal alma salgueirista. Também estive num grande clube como o Benfica. E apesar das coisas não terem corrido bem profissionalmente, porque joguei pouco, tive a oportunidade de conhecer grandes profissionais, grandes craques, e de fazer muitas e boas amizades. Em Guimarães estive três anos e criei também grandes laços e em Barcelos quase dez anos, entre jogador e treinador, numa grande relação. Em todos os clubes tive momentos especiais, bons. E outros menos bons.
No Benfica não jogou muito...
— Não consegui impor-me, um pouco também por culpa minha, porque tive alguma falta de paciência. Se tivesse tido mais maturidade tinha aguentado mais tempo e as coisas até poderiam ter funcionado. Poderia ter-me imposto. Mas as coisas são como são...
Quem era o principal rival na sua posição?
— Na direita do ataque, era o Poborsky.
Teve azar nisso, porque era um grande jogador.
— Sim, era. Mas o problema não era esse. O problema é que, quando ele não jogava, por estar magoado ou lesionado, o Souness, que era o treinador, preferia pôr o Hugo Leal ou o Pringle. Punha vários jogadores ali à direita.
Nunca treinou jogadores com feitios complicados?
— Já, claro. Mas eu também era complicado como jogador, também tinha um feitio difícil e por isso entendo. O importante é haver coerência. Há regras e os seus jogadores sabem quais são os seus deveres e as suas obrigações. O que podem e o que não podem fazer. Mas há muito diálogo, comunicação, para que sintam que deste lado há um treinador que exige, mas que também dá liberdade, com responsabilidade.
Diz que tinha um feitio difícil. Em que aspecto?
— Porque era um jogador muito competitivo. Sempre o fui, mesmo nos treinos, porque não gosto de perder nem a feijões. Os treinos para mim eram como jogos. Para mim era tudo competição, era querer ganhar em tudo. E às vezes isso acaba por criar algum conflito porque depois encontrava outros como eu, que também não gostavam de perder. Não era fácil para os treinadores, às vezes, lidar com jogadores com essa forma de estar tão competitiva. Por vezes acaba por provocar algum ‘frisson’ e tem que se saber lidar com isso.
“Agora percebo melhor o Souness”
Proveniente do Salgueiros, Nandinho chegou à Luz no verão de 1998, após uma época em que o treinador Graeme Souness tinha conduzido as águias ao segundo lugar do campeonato. Só que o entusiasmo por estar a jogar pela primeira vez num grande cedo esfriou. O treinador escocês quase não lhe deu oportunidades na primeira equipa, o que ele, hoje, também treinador, já consegue compreender melhor.
“É difícil para mim falar do Souness, agora que estou deste lado. Na altura custava-me a perceber algumas decisões dele, mas se calhar hoje percebo-as um pouco melhor, porque estou deste lado de cá. Ele era um treinador que tinha um grande passado como jogador, um pouco na base daquela escola inglesa à antiga, com muito trabalho físico. Um tipo de futebol que hoje já não se pratica muito, nem mesmo em Inglaterra, que já tem imensos jogadores com uma grande capacidade técnica”, comenta Nandinho, descrevendo depois sobre si próprio, o estilo de liderança que pretende aplicar no trato diário com os jogadores que orienta. “O meu é um estilo de liderança tranquilo, em que tento criar empatia com os jogadores. Eles sabem que têm liberdade, mas que esta requer responsabilidade também. Tento percebê-los enquanto jogadores, mas também enquanto pessoas”, afirma.