ENTREVISTA, PARTE II - Jorge Fernandes admite as dificuldades sentimentais na despedida de Guimarães e enaltece a resposta da equipa dentro das mudanças. O central reflete sobre o tempo passado em Guimarães, acentuando elogios para o espírito de grupo e para o agora técnico dos leões.
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Rebobinando emoções ao rubro no castelo, o defesa do Al Fateh analisou comportamentos, fintou saída repentina de Daniel Sousa e as marcas que ficaram do 4-4 com o Sporting.
A saída do Vitória teve contornos custosos?
— Foi uma decisão difícil, nunca seria fácil, pois foram quatro épocas e meia, e ficou uma ligação grande a muita gente e à estrutura. Colegas que deixei, rotinas que perdi, isso mexe connosco. E ainda há os adeptos. Passei vários momentos no clube, entre lesões, jogos não tão bons e outros ótimos. É uma despedida difícil, mas um dia aconteceria. Nunca estamos preparados para sair, nem vale a pena dizer o contrário. Nunca resulta. Há um misto de emoções, a alegria de abraçar algo novo, de um sonho alcançado, mas, ao mesmo tempo, invade-nos a tristeza e mágoa de abandonar um clube, deixar amigos e um clube para trás.
Como analisa os desempenhos do Vitória?
—Tem sido uma boa época, dentro do que são os objetivos. Acabou a aventura da Liga Conferência, mas não apaga o que foi feito, uma caminhada incrível, que se traduziu na valorização de toda a gente. O momento mais negativo da época foi a eliminação da Taça de Portugal em Elvas. Sabemos o carinho dos adeptos pela prova e nós não conseguimos corresponder às suas ambições. É uma grande época, cheia de mudanças, onde sobressaiu sempre o espírito de grupo, a capacidade dos jogadores se assumirem nos momentos certos e trazerem resultados positivos, atravessando mudanças de hábitos. Só podem ser valorizados.
O Jorge apanha ainda a fase conturbada com Daniel Sousa. Surpreendido por essa passagem efémera?
— São coisas que nós, enquanto jogadores, não conseguimos controlar. Tentamos adaptar-nos o mais rápido possível a novos treinadores, respeitando as ideias deles e, no fundo, toda a gente quer ganhar. Não me cabe comentar decisões tomadas por quem pensa o melhor do clube. Aos jogadores não pode faltar espírito e abnegada maneira de trabalhar. Temos de ser fiéis à nossa imagem com qualquer treinador.
No seu último jogo para a Liga registou-se um 4-4, já vendo Rui Borges do outro lado. Momento e tanto?
— Esse jogo foi bastante emotivo. Sentimos que tínhamos vitória nas mãos, escapou-nos nos últimos minutos pela qualidade individual dos jogadores do Sporting, particularmente do Trincão, com uma excelente ação técnica. Foi um bom jogo, bem disputado, sentimo-nos capazes e superiores ao Sporting. Do outro lado estava um treinador bem conhecido da nossa parte, tínhamos noção das suas ideias e sabíamos como podíamos contrariar essas ideias. Fizemos isso muito bem, foi um jogo com bastantes golos. Para os defesas foi complicado, mas faz parte, vou guardar na memória este jogo, como muitos outros no Afonso Henriques.
Custou ver sair o Rui Borges? E torce por ele no Sporting?
— Falando de Rui Borges, a chegada dele ao Sporting é mérito seu integral, do seu trabalho, do que foi deixando para trás. Destaco sempre a equipa técnica no seu todo, é muito forte, muito bem organizada e o treinador acaba também por ter uma ligação forte aos jogadores, na sua maneira de ser e trabalhar. Desejo-lhe as maiores felicidades, a ele e à equipa técnica. Nessa luta com o Benfica torço sempre pelo sucesso dele, menos contra o Vitória. São todos seres humanos incríveis, com uma capacidade e postura acima da média. Foi um salto merecido pelo que têm feito. A saída acho que foi um processo natural, tanto um treinador ou jogador ao ver-se confrontado com uma oportunidade dessas, assim como qualquer pessoa na vida, vê a mudança como inevitável. É um sonho a alcançar. O plantel sempre soube a resposta e a reação a dar nessa situação.