Bujanda, o jogador do Aparecida, da distrital da AF Porto, teve um momento de inspiração.
Corpo do artigo
Numa equipa em estado de graça, esmagando a concorrência na Série 2 da Divisão de Honra da AF Porto, com 34 golos e pleno de vitórias em oito jornadas, João António, conhecido por Bujanda, entrou nos noticiários globais como candidato ao prémio Puskás, após um golo extraordinário assinado no 4-0 do Aparecida ao Campo.
O médio de 25 anos matou no peito com receção orientada centro largo do lateral Bacar Baldé, ajeitou ainda melhor o esférico, adornando ainda fora da área, e com a bola no ar aplicou um remate indefensável descaído sobre a esquerda. Golo de antologia e um daqueles lances só ensaiados por Van Basten ou Ibrahimovic. Bujanda, com nove golos em oito jogos, não os faz por acaso. Tem calibre forte na chuteira e mira apurada.
"Foi uma decisão, daquelas que temos de tomar em milésimos de segundos. Não havia tempo para pensar, foi uma reação instantânea depois de ter dominado a bola de peito e ter preparado o remate em volley para fazer um golo daqueles!", exulta e partilha a sensação de realização, consciente da obra firmada. Tão rara como bela.
"Quem me conhece sabe que uso muito esse gesto para fazer passes longos, mas nunca o tinha feito a dar em golo. No momento, senti que fiz um grande golo, mas depois de ver o vídeo fiquei melhor com a noção do que realmente fiz. Até porque acontece tudo muito rápido e parece que não ficamos com a total perceção das coisas. A ideia que tinha era que tinha dominado de peito e chutado logo", desfia, completando. "Só depois de ter visto o vídeo é que percebi que ainda tinha dado um toque para ajeitar a bola, foi muito bom! É o golo de uma vida, não é só por ter sido eu a marcar, mas acho que é dos melhores golos do mundo!", confessa Bujanda, nome herdado do negócio de família, onde trabalha, uma peixaria.
No que toca a comparações, João António consegue aproximar-se de um dos maiores. "Acho que foi um golo a fazer lembrar o de Zidane pelo Real Madrid contra o Bayer Leverkusen na final da Champions. Entre os meus colegas vi sorrisos, caras de espantos e mãos na cabeça que diziam tudo! De todos recebi os parabéns", documenta o craque do Aparecida, equipa do concelho de Lousada, também guiada por um apoio ferrenho da sua claque. Os números também dizem tratar-se de um jogador muito acima da média na prova.
"Está a ser um excelente início, só temos vitórias e eu já levo nove golos em oito jogos. Já fiz mais golos que na época passada. Isto acontece porque a equipa está muito bem e temos um treinador que nunca nos deixa desligar a ficha. Exige muito e nunca podemos relaxar", conta João António, surpreendente homem-golo. "A minha posição é de médio-centro, marcar tantos golos nunca é objetivo. Mas agora quero continuar com este registo e, quiçá, posso ser o melhor mercador do campeonato", justifica Bujanda, agradado com a viralização de um momento grandioso e com a campanha para que seja encarado como prémio Puskás.
"Nunca imaginei esta repercussão. Começou com a partilha de muitos amigos, chegou a várias páginas ligadas ao futebol. Têm sido imensas mensagens e notificações. Nem quando faço anos recebo metade desta atenção", ironiza o médio do Aparecida, formado no FC Porto...mas entregue a uma luta para sair do anonimato.
"Tenho qualidade para estar a outros níveis, tive algumas oportunidades, mas como não era uma certeza acabou por nunca ter acontecido. Gostava de estar noutros patamares, mas não acontecendo, resta-me ter paciência. Importante é ser feliz a fazer o que gosto e senti-me bem onde estou!", clarifica este ídolo dos Ultra 1931.
"É um clube com muitos adeptos nos jogos em casa e fora. Apoiam imenso e não só quando as coisas correm bem. Temos uma claque espetacular, que protagoniza ambientes fantásticos. Cantam o jogo todo, são muito apaixonados e fazem o Aparecida um clube diferente. Dentro do futebol não profissional, isto é o mais próximo que temos de nos sentirmos realmente jogadores!", elogia o médio, fazendo-nos viajar ainda pela magia da distrital.
"Como sempre houve direito a festejar com os adeptos. No final de cada jogo vamos ao bar do clube e aí ficamos a confraternizar com eles . A cerveja faz sempre parte", garante Bujanda, fã de Ronaldinho e Cristiano Ronaldo. "Não gostava do nome mas desde que sou sénior meti o nome na camisola e já não passo sem ele!", finaliza.
Veja o golo: