Fase negativa dos dragões pode ser explicada, em parte, por efeitos a longo prazo do Mundial, com Taremi como exemplo mais evidente
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Após o nulo de domingo em Braga, Sérgio Conceição fez questão de vincar que no FC Porto "nunca se atira a toalha ao chão" - Pinto da Costa já concordou com o treinador - e referiu que as contas "são feitas em maio", reconhecendo, no entanto, que o cenário é complicado. A forma recente - apenas duas vitórias nos últimos seis jogos - não ajuda o caso azul e branco: além de ter visto o fosso para o Benfica crescer para 10 pontos, o campeão nacional tombou nos oitavos de final da Liga dos Campeões, frente ao Inter. Mas o que ajuda a justificar esta quebra refletida em vários parâmetros, desde a falta de eficácia ao subrendimento de vários jogadores?
Ricardo Gomes Porém aponta, a O JOGO, a "mudança de chip" requerida pelo Mundial como fator desestabilizador. Já João Henriques desconfia de nova paragem para jogos de seleções.
Ora, após consultar o psicólogo desportivo Ricardo Gomes Porém e o treinador João Henriques, a conclusão é que o FC Porto estará a sentir os efeitos a longo prazo da participação de alguns dos principais jogadores no Mundial"2022. Algo que, aliado a alguns resultados menos positivos e à necessidade constante de responder a um contexto de exigência máxima, resultou numa fatura pesada.
No que toca a repercussões imediatas do Mundial, a equipa de Conceição não teve vida fácil. Pepe e Eustáquio voltaram lesionados do Catar, enquanto Otávio acabaria por ceder a problemas físicos no início de fevereiro. Taremi, por sua vez, registou uma quebra acentuada nos registos goleadores: desde a viragem do ano, o iraniano anotou apenas quatro golos em 17 partidas - até final de dezembro, tinha 18 tentos em 23 encontros. Pegando no exemplo de Mehdi, Ricardo Gomes Porém foi claro.
"Em primeiro lugar, este Mundial foi disputado num contexto atípico, a fechar o primeiro terço da época. É uma prova que sempre foi jogada no final das temporadas", começou por assinalar. "Claro que houve impacto. Uma coisa é trabalhar com determinado tipo de filosofia e preparar os chamados microciclos com o clube, outra é um jogador ir parar às mãos de um departamento completamente diferente, com objetivos competitivos diferentes. É uma mudança de chip que pode gerar quebras", prosseguiu o psicólogo, que lembrou que a disputa de um campeonato do Mundo em novembro e dezembro implicou "mudar as rotinas sabendo que, depois, têm mais de meia-época pela frente". Tudo isso, referiu, dá origem a "ansiedade e stresse", fatores potenciados pelos... resultados. "Quando tudo corre bem, há motivação em toda a linha, uma dor ou outra é superada... Nesta altura, o contexto do FC Porto não é o mais agradável", acrescentou.
"Há muitas coisas que pesam em termos anímicos: as lesões, o desgaste, a eliminação da Champions e a pressão"
João Henriques foi de encontro a este último ponto, olhando para o momento atual do FC Porto como uma junção de ingredientes. "A qualidade está lá, mas há muitas coisas que pesam em termos anímicos: as lesões, o desgaste acumulado, a eliminação injusta na Champions e a pressão de responder sempre à exigência máxima que é inerente ao clube", afiançou o técnico. Sobre a pausa de seleções, Henriques mostrou-se dividido sobre os dividendos que os dragões podem retirar. "É o chamado pau de dois bicos. Os jogadores que ficam no Olival podem recarregar baterias, mas os internacionais, e falamos de algumas das peças mais importantes, vão viajar, jogar e acumular desgaste psicológico e físico", rematou.
Caberá a Sérgio Conceição, "um dos melhores a motivar", segundo João Henriques, reunir as tropas e atacar o que resta da época. Até porque no campeonato ainda há uma faísca de esperança e a Taça de Portugal é um objetivo ao alcance.
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"RADIOGRAFIA"
Menos nove pontos e oito golos marcados do que há um ano
A comparação é inevitável. O FC porto tem, neste momento, menos nove pontos conquistados - fruto de menos três vitórias - do que nas mesmas 25 jornadas do campeonato da época passada, o que explica, basicamente, a distância para o primeiro lugar. O número de golos marcados também ajuda a justificar a quebra: são menos oito golos. Melhor mesmo só nos golos sofridos, já que são menos dois.
Recorde negativo e o golo 100 que não está caro... está caríssimo
"Não podemos ter dois jogos a zero seguidos", o desabafo foi de Sérgio Conceição na sequência dos nulos com o Inter e o Braga. O FC Porto está há mais de 180 minutos à procura do golo 100 na época, mas ainda não conseguiu atingir a fasquia que ultrapassou sempre com o atual treinador. Nos últimos dois jogos foram 24 remates e nem um golo. A maioria, diga-se, frente aos italianos já que em Braga a equipa bateu um recorde negativo da época: cinco remates (dois deles enquadrados) tornou-se no pior registo do FC Porto neste campeonato. Bem longe da média de 14,9.
"Boa notícia" é que três seguidos em branco nunca aconteceu
Sem marcar a Inter de Milão e Braga, o FC Porto igualou os piores registos na era Sérgio Conceição. É preciso recuar até janeiro e março de 2018 para encontrar uma "pólvora seca" como a atual. A boa notícia para os portistas é que ao terceiro jogo, a equipa venceu: 2-0 ao Boavista numa e 3-1 ao Braga na outra. Se à terceira for de vez, novamente, o golo 100 da época acontecerá frente ao Portimonense, quando o campeonato regressar.
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Ressacas europeias com reflexo negativo no campeonato
O FC Porto disputou oito jogos na Liga dos Campeões - seis na fase de grupos e dois nos oitavos - e só conseguiu vencer metade das vezes na "ressaca" europeia. E uma delas foi ao Anadia, para a Taça de Portugal. Após os encontros com o Brugge, os dragões empataram com o Estoril e o Santa Clara e depois da eliminatória com o Inter perdeu com o Gil Vicente e empatou em Braga. Tudo somado, nove pontos desperdiçados, praticamente a diferença para o Benfica.
Quebras individuais na sequência do Mundial fora de época
A fatura paga pelo FC Porto na sequência do Mundial do Catar foi alta. Os reflexos ainda se fazem sentir no momento de forma dos internacionais. Desde logo, importa recordar que Eustáquio e Pepe voltaram lesionados; Otávio esteve 24 dias de fora em fevereiro na sequência de problemas musculares e Taremi, embora não tenha parado, viu o seu rendimento cair a pique: de uma média de 0,78 golos por jogo antes do certame para 0,23 desde que voltou. Só Diogo Costa e Grujic passaram incólumes, mas o sérvio quase não jogou.