O dinamarquês Morten Hjulmand chegou ao Sporting no mercado de verão e rapidamente tornou-se num jogador essencial para o sistema dos leões. Mas o que faz o médio defensivo ser tão bom no sistema de Rúben Amorim?
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A chegada de Morten Hjulmand ao Sporting é, hoje, a prova de que o scouting do clube é por estes dias extremamente competente. Mas, há um ano ainda havia dúvidas se o dinamarquês conseguiria suprimir a falta que Ugarte faria à equipa de Rúben Amorim. O preço não ajudava a aliviar a pressão da contratação: foram 18 milhões de euros gastos num jogador....
Em janeiro de 2023 já havia rumores de que o então capitão do Lecce, da Serie A, estivesse pronto para dar o próximo passo. Na janela de verão, o médio era apontado a gigantes italianos como Inter, Roma e Lázio. Mas, a sua escolha foi o Sporting.
O dinamarquês não escondeu o entusiasmo e a ambição na apresentação em Alvalade: "Quero continuar a desenvolver-me como pessoa e como jogador. O Sporting é um clube conhecido pelo seu trabalho com jovens jogadores. É um clube muito grande na Europa”, disse, na altura.
Agora, após 41 jogos pelos leões e garantido o título de campeão da I Liga, é seguro dizer que a contratação de Hjulmand foi um sucesso. O antigo capitão do Lecce revela ser um líder em campo e é quase omnipresente nas escolhas de Rúben Amorim.
Hjulmand é um médio moderno que apresenta muita flexibilidade tática. O porte físico e leitura de jogo fazem com que seja natural que jogue como um médio mais defensivo, mas na verdade mostra também sentir-se confortável com a bola em posições mais avançadas.
Embora Hjulmand atue mais como um “âncora” aquando da saída apoiada, agindo com a ligação entre defesa e ataque, passa a ser ele quem dita o ritmo dos jogos assim que a bola passa do meio de campo: oferece-se como opção de passe quando os alas precisam, cobre o espaço para os centrais quando sobem para o ataque e tem um alcance de passe crucial para a forma com que o Sporting joga. Hjulmand é o verdadeiro motor dos leões em campo.
O curioso é que seu estilo de jogo físico e técnico é um sintoma da evolução do sistema do Sporting ao longo dos anos. Aquando do título de campeão em 2020/2, ainda havia um ar de indefinição no plantel de Amorim e o estilo de jogo não era ainda dominante como é hoje.
Palhinha vs Hjulmand? No mapa de calor acima, é possível ver dois médios defensivos com funções muito diferentes. A responsabilidade principal de Palhinha era recuperar a bola e, em seguida, fazer a reciclagem da posse. Isso é representado por uma menor diversidade posicional no seu mapa de calor, em que praticamente só recebe passes na direita do campo. Na prática, a bola praticamente não passava por Palhinha em comparação aos outros jogadores: tirando os centrais, Palhinha era apenas o sétimo jogador com maior média de passes recebidos por 90 minutos no plantel do Sporting.
O mapa de calor de Hjulmand é muito mais diversificado e mostra a proatividade tanto do médio quanto do Sporting. Hjulmand costuma receber a bola mais centralizado e em posições mais recuadas justamente para fazer a distribuição, mas não se sente desconfortável em receber passes em posições muito mais avançadas. Isso também se reflete na prática, sendo o jogador que mais recebe passes depois dos centrais. A sua capacidade técnica permite que o Sporting jogue de forma muito mais proativa em campo, impondo-se sobre os seus adversários.
O gráfico acima mostra a capacidade que Hjulmand tem de ocupar espaços de perigo mesmo com sua função mais conservadora. Ao ocupar os meios-espaços de ataque, cruciais para a criação de oportunidades, Hjulmand agrega muito ao jogo dos leões: força o adversário a correr riscos ou a recuar e ceder a posse. O dinamarquês pode até não ser o mais proativo em termos de passes, mas mantém a bola a circular e sua mera presença nesses espaços permite que os colegas de equipa ocupem espaços ainda mais perigosos para o adversário.
Claro, Hjulmand ainda pode melhorar. Houve vários momentos nesta época em que houve um lapso de julgamento do médio e o adversário conseguiu ter transições perigosas, algumas que até resultaram em golos. Mesmo assim, o próprio médio já disse que chegou aos leões para se desenvolver como jogador e nesta temporada já demonstrou maior maturidade.
Ainda não é possível determinar se o dinamarquês fica muito tempo no Sporting. O interesse na janela de verão será enorme, mas se as coisas continuarem como estão, Hjulmand vai competir na Liga dos Campeões e aproveitar mais uma temporada no Sportin, quem sabe com Rúben Amorim e, quem sabe, conquistar o primeiro bicampeonato do Sporting desde a década de 1950 50. Só uma coisa é certa: os 18 milhões foram uma pechincha.