Pinto da Costa recorda os sete títulos internacionais para rebater as teorias de que o clube tinha o domínio dos bastidores do futebol: "Quem tinha Hulk, Falcao e James tem muitas probabilidades de ganhar". Sobre as críticas externas, justifica o direito de flar com as absolvições no Apito Dourado.
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Hegemonia portista nos últimos 30 anos justificada com a escolha dos jogadores e dos treinadores e não por uma guerra de bastidores ou por preocupação com a arbitragem e a disciplina.
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A grande desculpa para isto tudo tem sido o domínio de 30 anos do FC Porto. Quer explicar, nessa lógica de guerra de bastidores, como foram esses 30 anos?
-Esses 30 anos de possível domínio do FC Porto são domínio que existiu, porque o FC Porto tinha as melhores equipas, os melhores jogadores e os melhores treinadores. Porque o FC Porto não tem no seu currículo finais perdidas - tem uma final perdida com a Juventus em 1984 e depois tem sete títulos internacionais. Não são um, nem dois, são sete, mais do dobro dos clubes de Lisboa juntos, porque tinha as melhores equipas, e lá fora sempre reconheceram que o FC Porto vencia com todo o mérito qualquer equipa, senão não tinha vencido as provas, e nunca ninguém contestou nada, porque foi sempre dado o seu mérito. Agora, o FC Porto tinha os melhores jogadores e os melhores treinadores. Em 2011, o FC Porto ganhou tudo. É evidente que os que perdiam queriam justificar isso, mas o FC Porto tinha um ataque que era Hulk, Falcao e James Rodríguez. É evidente que quem se der ao luxo de ter estes três jogadores tem muitas probabilidades de ganhar qualquer jogo. Só que, por incapacidade, inventaram que o FC Porto tinha o domínio, mas o domínio de quê?
"FC Porto não tem no seu currículo finais perdidas"
Como era a relação de forças entre Conselho de Arbitragem, Conselho de Disciplina?...
-Não havia nada, porque ninguém estava preocupado com isso. Se for derrotado, por exemplo com o Liverpool, tenho de reconhecer a derrota, mas se tivesse aqueles três avançados ganhava ao Liverpool. Mas nunca o quiseram reconhecer, encobertos pela comunicação social, que não esqueço. O FC Porto foi campeão mundial, que é o troféu que a FIFA reconhece a quem venceu a Taça Intercontinental, e nesse dia o jornal "A Bola" trazia em rodapé que o FC Porto ganhou a Intercontinental; toda a primeira página era uma entrevista ao Trapattoni, que tinha perdido no Restelo. Essa é que era a notícia! Isto reflete bem que a comunicação social de Lisboa pretende esconder os êxitos do FC Porto, pretende minimizar os seus méritos e lançar foguetes. O Benfica ganhou ontem [anteontem] e é ver os títulos dos jornais. Parece que o Benfica fez uma exibição fantástica.
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"MORAL PARA FALAR? FUI SEMPRE ABSOLVIDO"
O processo do Apito Dourado é assunto resolvido em tribunal e, na opinião de Pinto da Costa, não pode ser usado como desculpa para descredibilizar as suas opiniões sobre arbitragem.
Já defendeu várias vezes os SuperDragões, mas algumas das atitudes da claque serviram de base a uma tese construída pelo Benfica na defesa dos emails, de que o FC Porto age em permanente coação sobre os árbitros através da claque...
-Isso é uma estupidez. O que acho engraçado é que aquilo que foi conhecido dos emails é gravíssimo. E a primeira tese do Benfica é de que aquilo era falso; era inventado. Entretanto acabou essa tese. É tudo verdadeiro, mas ninguém se preocupa em analisar e em julgar. É quem foi que inventou, quem é que disse aquele... Eu tenho a certeza de que, ainda hoje, porque ele não disse quem foi, no FC Porto não se sabe quem nos mandou [os emails]. Agora, ninguém veio dizer que aquilo não existia ou era inventado. É verdade. Só estão preocupados com quem é que revelou. Se eu for avisar a polícia de que está ali um indivíduo para o matar, eles querem lá saber se você morre; ficam é preocupados sobre quem me avisou que o vão matar. Isto diz tudo. E há a hipocrisia do secretário de Estado do Desporto [João Paulo Rebelo], que sabe que há claques, porque o Benfica tem o campo interdito por causa do comportamento das claques - que nunca cumpre por causa de habilidades -, e continua como se nada fosse. Não tem uma atitude, não tem nada?
"Só estão preocupados com quem é que revelou os emails"
A resposta que vão dando é que o sr. Pinto da Costa não tem moral para falar...
-Tenho moral para falar. E por ter, é que estou a responder a tudo o que me perguntam.
Sim, mas acha que o passado ficou esclarecido?
-Não tenho a mínima dúvida. Se fala do Apito Dourado, fui dez vezes a tribunal e em cinco fui totalmente absolvido. O Ministério Público, creio que por indicação da dra. Maria José Morgado ou do anterior procurador, tinha ordens para recorrer, com razão ou sem ela. Recorreram sempre e sempre fui ilibado. Se for acusado de me roubar a carteira, for julgado e ficar provado que não, fica complexado com isso? Tive o caso dos seguranças, por suposta segurança ilegal... Alguma vez me viu com um segurança? Não, não viu. Nem ninguém. Até em Lisboa ando sozinho e dizem-me que não o deveria fazer. E, no entanto, fui a tribunal porque andava com seguranças. Fui absolvido, o MP recorreu. Sabe o que disse o tribunal? Que estavam a agir de má-fé e absolveram-me novamente. Vou ficar complexado, eu que nunca andei com segurança, por ter sido acusado de ter andado com seguranças? Era o que faltava. Por isso é que falo e estou à vontade para dizer que daqui a 20 anos, tal como nós ainda falamos no Calabote, vamos falar de Vila da Feira, Braga e Vila do Conde - este campeonato será conhecido como o campeonato de Vila da Feira, de Braga e de Vila do Conde.
"PORTUGAL É AINDA MAIS CENTRALISTA"
Depois de tudo o que disse, vale a pena competir?
-Vale a pena e nós tentamos. Mas estamos dispostos a denunciar tudo aquilo que acontece. Não nos podemos esquecer de que Portugal é um país centralista. Hoje somos mais centralistas do que éramos antes do 25 de Abril, mas muito mais. Aparecem uns inteligentes a querer enganar-nos com a palavra descentralização, mas é uma mentira. Toda a gente sabe que tudo se passa em Lisboa. No outro dia contaram-me, e não tem nada a ver com o futebol, que um indivíduo foi a uma instituição com sede no Porto para resolver uns problemas e disseram-lhe que era com a administração, que estava em Lisboa. Vemos um primeiro-ministro referir-se ao Benfica, quando o Benfica está em causa, como "o meu querido Benfica". Temos um ministro das Finanças que discute o orçamento no Parlamento, que é a coisa mais importante numa assembleia, e pede para acelerar porque tem de ir ver o Benfica! Isto é um país de Terceiro Mundo. Por isso fico muito contente quando os vejo lá nas bancadas misturados uns com os outros e vejo aqui o nosso camarote e não está nenhum, porque eles sabem que não têm moral para vir aqui. Sabem que não os queremos aqui. Agora, esse centralismo vai de uma ponta abaixo em todos os organismos e ministérios.
Essa atitude de não os querer cá não facilita a vida aos governantes...
-Eles não querem vir, nem nunca pediram para vir. Eles ignoram-nos e nós ignoramo-los. Sabe em quem é que vou votar? Em ninguém.
Não vai votar no PCP?
-Se votasse, se calhar era aí que votava. Mas nestas nem vou votar, porque entendo que é estarem-nos a fazer de palermas, porque é tudo em Lisboa.