
Central portuguesa é titular do conjunto rossonero, que esta época apostou no feminino. Milan é a única equipa sem derrotas e já houve brincadeiras por causa de Ronaldo...
Ao longo de toda a carreira, Mónica Mendes tem feito escolhas acertadas e, esta época, a opção de rumar ao Milan não foge à regra. No primeiro ano do projeto no futebol feminino, o emblema rossonero, único ainda sem derrotas, ocupa a segunda posição da liga italiana, a um ponto da Juventus.
A luta pelo título está, naturalmente, em aberto e em conversa com O JOGO, a defesa-central portuguesa partilha a satisfação pela evolução sentida individual e coletivamente. "Temos uma equipa totalmente nova, apesar de algumas jogadoras terem transitado do Brescia comigo. Estamos a treinar muito e bem e os resultados estão a aparecer. Estivemos em primeiro até à penúltima jornada da primeira fase do campeonato e este segundo lugar deve-se simplesmente a culpa própria, porque nos deixámos empatar contra duas equipas que estavam ao nosso alcance", analisa Mónica Mendes, em vésperas da deslocação ao terreno da Fiorentina (este sábado), terceira classificada e melhor ataque da prova e que disputa o título com Milan e Juventus. "Esperamos um grande jogo, emotivo. Será um jogo muito importante", aponta.
A jogar do lado esquerdo do eixo defensivo, no habitual 4x3x3 do Milan, Mónica tem jogado com regularidade e sente diferenças em relação ao ano anterior no Brescia. "A camisola do Milan, um clube conceituado em termos internacionais, pesa muito mais e qualquer equipa que venha a nossa casa joga fechada atrás. É muito complicado fazer golo, o que acontece mais com as equipas de meio/baixo da tabela que usam o contra-ataque como arma. Mas trabalhamos o ataque e a defesa da mesma maneira", sublinha.
Treinos físicos diferenciados
"Este ano sinto que estou a melhorar bastante. A nossa treinadora [Carolina Morace] é muito competente, como todo o staff técnico e o planeamento dos treinos é muito bom. Há sessões de ginásio estruturadas e aqui não há nenhum dia em que não tenhamos de correr, fazer mudanças de direção, ou sprints, isto para chegarmos ao fim de semana na melhor forma possível. Trabalhamos a componente tática e há um planeamento de treino completamente diferente em relação a outros clubes onde estive. Vê-se a diferença de estar num clube muito conceituado", explica, lembrando que Carolina Morace foi a primeira mulher a treinar uma equipa profissional masculina e venceu a CONCACAF pelo Canadá. "Aprendemos muito com ela, trabalha muito bem e dá-nos muita confiança. Também pelo passado como jogadora é idolatrada aqui em Itália e sabe como gerir um balneário feminino, o que não é fácil", completa.
O apoio de Maldini e da estrutura
Campeã pelo 1.º Dezembro e pelas suíças do Neunkirch, Mónica sente-se "muito feliz" e em Milão, já teve oportunidade de se cruzar com Maldini, antigo defesa de renome mundial, hoje com funções diretivas no clube.
"Já falámos no meu italiano, que já não é assim tão mau [risos]. Antes do jogo com a Fiorentina veio ter connosco para dar-nos força e uma mensagem de apoio. Também o Leonardo [diretor desportivo] já esteve connosco. Eles acompanham-nos e acho que eles próprios estão muito surpreendidos com o nosso desempenho. É uma nova aposta para eles e até nossa festa de Natal, em que estivemos com a equipa masculina, o presidente falou de nós de maneira orgulhosa à frente deles. O clube tem promovido iniciativas conjuntas com elementos das duas equipas, o que é bom e o projeto tem tudo para dar frutos. Em Itália começa a sentir-se muito respeito pela nossa equipa e isso é algo que se ganha com muito trabalho", assevera.
Clima de brincadeira devido a CR7
Com a mudança de Cristiano Ronaldo para a Juventus, Mónica admite que há brincadeiras também por ser portuguesa. "Uma vez aconteceu um episódio giro. Em jeito de brincadeira, uma senhora que integra a parte médica disse-me 'ah a Juventus contratou o Ronaldo, mas nós não ficámos nada atrás. Contratámos uma portuguesa também. Brincamos e eles aqui também gostam do André Silva [emprestado ao Sevilha]", conta, sempre bem disposta, algo que lhe é inato.
Um jogo que resvalou para a agressividade
No passado fim de semana, o Milan goleou o Bari por 8-0, resultado mais dilatado da época, mas o encontro ficou marcado pela excessiva agressividade das adversárias, como conta a jogadora de 25 anos.
"Foi um jogo bastante atípico. É uma equipa do sul, tem fogo no sangue e é bastante agressiva. Neste jogo, agrediram uma colega minha, que foi pontapeada, houve muitas entradas duras, agrediram verbalmente a minha treinadora e o mais engraçado é que não houve vermelhos, mas não quero falar de arbitragem", diz. "O que se passou é algo inaceitável seja a nível amador ou profissional. Quando a ética desportiva não existe, ninguém fica a ganhar. E nós preservamos muito o fair play e as amizades. Por exemplo, tenho ex-colegas na Juventus e falamos muito bem antes dos jogos. Na hora da competição é para competir e que ganhe melhor, mas quando o jogo acaba impera o respeito e a amizade", diz a internacional portuguesa, que também pode jogar a lateral e tem passagens pelos Estados Unidos, Noruega, Chipre e Suíça.
Na época passada, pelo Brescia, Mónica disputou campeonato e taça até ao fim, mas o triunfo não sorriu. Daqui a alguns meses, ambiciona que o desfecho seja outro.
