Conversa com Scott Minto, que aos 52 anos é respeitado comentador desportivo. Foi ele o primeiro britânico da era Souness e Vale e Azevedo. Mas não.... lembra que foi trazido por Toni para Manuel José
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Scott Minto chega a Portugal em 1997 como o primeiro britânico a fazer parte das fileiras do Benfica. Com Souness ao comando a aposta intensificou-se com selo de Vale e Azevedo. Ninguém se esquecerá de Deane e Saunders, de Pembridge e Thomas ou até de Harkness e Gary Charles. Minto chega do Chelsea, disputa 42 jogos em época e meia, cumpridor, muito ofensivo.
Entre Chelsea e West Ham, ex-defesa fez época e meia no Benfica, convivendo com tempos conturbados de Vale e Azevedo e Souness. Mas adorou tudo na Luz
“Foi uma honra absoluta e vesti a camisola com imenso orgulho, sabia que estava num dos clubes historicamente mais fortes da Europa. Vinha com toda essa curiosidade por Eusébio, um dos maiores de sempre, e foi um prazer conhecê-lo quando Souness o trouxe de volta para o clube”, recupera, partilhando momentos da realização.
“Recordo o primeiro jogo e o primeiro treino da pré-temporada. Perante cinco mil pessoas. E quando se dá o jogo de apresentação com autêntico dilúvio, frente à Lázio, foram 80 000, a aplaudir-nos no tapete vermelho. Apresentavam os nomes e a multidão ovacionava. Isso obrigou-me a jogar bem”, salienta.
“Tive de levar muito a sério o Benfica e adorei a experiência. Só posso falar de coisas positivas. Estávamos em primeiro quando saí em janeiro na segunda época. Não posso esquecer que joguei a Liga dos Campeões. Depois há o resto, o clima, a comida, as pessoas”, saliva. Atira perentório:
“Acho que estou a querer morar em Portugal novamente! Na verdade, tenho uma esposa colombiana. Se estivesse com ela nessa altura acho que teria ficado muito mais tempo”, relata Minto, pondo-se à margem dos focos de contestação que existiram sobre a colónia britânica na Luz.
“Posso-me lembrar de se falar de alguma divisão, um jornal fez algo com uma bandeira portuguesa e outra britânica, mas a mim não me tocou viver essa pressão. Trouxe-me Toni, comecei por ser treinado por Manuel José e, ao fim de pouco tempo, já aprendia português. Sempre fui entusiasta das línguas e hoje falo fluentemente espanhol. Senti que encaixei muito bem, fui o primeiro, vem o Deane em janeiro, já sob as ordens de Souness. Deixei marca antes, nunca me senti visado nas críticas sobre os britânicos, porque fui trazido no regime português”, argumenta Minto, apalpando o tempo passado em conjunto com outros jogadores vindos da Premier League.
“Encontrávamo-nos algumas vezes mas não me sentia como um britânico, mesmo com orgulho em sê-lo. Pembridge e Thomas estavam com as suas famílias, lembro-me mais de me juntar com alguns jovens portugueses que vieram na segunda época e almoçávamos em Cascais. Era um Benfica multicultural, para mim era igual lidar com um britânico ou um sul-americano”, explica Minto, reconhecendo a forte afinidade que ficou com Souness.
“Adorei-o e mantenho um relacionamento ótimo com ele, com contacto regular. Era uma personagem muito forte, adorei trabalhar com ele, respeito-o muito como pessoa e profissional”, sustenta, saindo ainda em defesa de Michael Thomas, patinho feio na Luz, apesar de ter chegado com currículo de médio influente no Arsenal e Liverpool. “De Thomas recordo-me de sofrer um tratamento difícil. Foi injusto, foi vítima de adeptos que andavam infelizes e, por aí, tento entender. O Michael era um jogador incrível e uma pessoa adorável, todos se davam bem com ele, mas os adeptos talvez não o tenham aceitado fruto de frustrações que carregavam e de faltarem títulos”, evidencia, explicando com quem mantém conversas regulares. “Perdi o contacto com ele, bem como com Pembridge e Deane, que moram em diferentes zonas do país ou até de Londres. Mantenho ligação a Dean Saunders, que também é comentador. É engraçado e brilhante nas análises que faz”, explica.
A delirante era de Gullit e o “incrível Vialli”
Do Chelsea que encontrou, e dava indicações da busca de um caminho para chegar à elite, ficam memórias:
“Fiz parte do projeto de Glenn Hoddle, trouxe Petrescu e Gullit e também me trouxe a mim, embora não tivesse eu a mesma categoria. Depois, assume o Gullit e foi uma fase muito divertida. Era um ex-jogador de topo que queria fugir dos holofotes mediáticos de Itália e começar do zero a partir de Londres. E conseguiu porque era uma cidade muito cosmopolita. Treinava e era um pouco empresário, trouxe Vialli, um homem incrível e um jogador inacreditável, Di Matteo, Zola, Lebouef, campeão do mundo pela França, Vivemos momentos maravilhosos e infinitas histórias”.