Investigação visa Peter Lim e as comissões nas contratações de Rodrigo Moreno e André Gomes, mas Jorge Mendes também está envolvido, em negócios que remontam à gestão de Luís Filipe Vieira
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O Ministério Público está a investigar as transferências de Rodrigo Moreno e André Gomes do Benfica para o Valência, revela o jornal valenciano "Levante - El Mercantil Valenciano". A investigação, que visa Peter Lim, envolve ainda Jorge Mendes, e os negócios remontam à gestão de Luís Filipe Vieira no Benfica. Em causa alegados crimes de administração danosa, corrupção empresarial, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Miguel Zorío, ex-vice do Valência, revelou à publicação que entregou documentação sobre o caso ao Ministério Público português numa reunião em Lisboa no dia 11 de julho com dois procuradores da DCIAP e dois polícias especializados em delitos económicos. "Estão a investigar possíveis delitos de corrupção internacional cometido por Peter Lim [dono do Valência], Jorge Mendes, Layhoon [ex-presidente do Valência] e os executivos do clube valenciano, nas contratações dos jogadores do Benfica que chegaram ao Valência com um preço desorbitado e comissões absolutamente ilegais", afirmou Zorío à publicação espanhola. Segundo Zorío, grande parte desses montantes, segundo as informações prestadas pelo Benfica à CMVM, "nunca chegou ao clube de Lisboa".
Peter Lim é dono do Valência através da Meriton Holdings, empresa de Singapura, envolvida no alegado esquema fraudulento. Segundo Zorío, uma sentença do TAS, de 2021, "não só condenou a Meriton pela contratação de Rodrigo Moreno e André Gomes ao Benfica, como também demonstrou que a empresa tinha uma posição monopolista na dupla operação Benfica/Meriton e Meriton/Valência/Benfica". "A Meriton cobrou ao Benfica 5% ao ano do valor das contratações de Rodrigo Moreno e André Gomes, que no total custaram 45 milhões de euros mais 10 milhões em variáveis. O Valência pagou 85 milhões de euros pelos quatro jogadores [Cancelo, Rodrigo, André Gomes e Enzo Pérez], mais 10 milhões em variáveis por Rodrigo. O Benfica ficou com uma percentagem significativa da venda posterior dos mesmos e, desses 85 + 10 milhões de euros, apenas 52 milhões chegaram a Lisboa. Vemos que a operação serviu para injetar dinheiro nos delicados cofres do Benfica e nas importantes contas da Meriton, roubando o Valência. Todos esses detalhes foram o foco da reunião de quase duas horas na sede central do DCIAP da Procuradoria-Geral de Portugal. Peter Lim sempre teve uma posição de força: dominava o clube vendedor (SL Benfica), também o clube comprador (Valência CF) e, presumivelmente, cobrava dos dois. Pode constituir um presumível crime societário por falsificação contabilística, tanto no Benfica como no Valência, e um presumível crime de corrupção internacional entre particulares e crime contra as duas administrações fiscais", expõe Miguel Zorío, que vai mais longe.
"A PGR de Portugal investiga a conexão entre as empresas de Jorge Mendes, Peter Lim, o fundo de investimento do Benfica e os dois clubes afetados, juntamente com os administradores dessas sociedades, com as Ilhas Caimão como pano de fundo. Jorge Mendes já teve que prestar depoimento sobre esses fatos", frisou, destacando que se investigam "as compras e vendas de jogadores realizadas por Peter Lim e pelo clube português, ao qual o empresário de Singapura tinha previamente emprestado dinheiro para o salvar da ruína, ficando, no entanto, com os direitos dos principais jogadores do Benfica por um preço irrisório". Zorío insiste que Peter Lim e Jorge Mendes ajudaram a salvar financeiramente o Benfica "às custas do Valência". Os fundos a que se refere Zorío são o Benfica Stars Fund e o Quality Sports Investments.