ENTREVISTA, PARTE II - Antigo lateral elogia o filho pela forma como encontrou o seu perfil e se libertou da pressão do apelido, expondo-se aos centrais e ao jogo. Michel Salgado admite que má época do Paços na Liga traiu a pretensão da família de ver Miguel ganhar os primeiros minutos na elite. Agradecido a todo o trabalho que o clube fez com o filho.
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Michel Salgado tem na filha e no filho pilares da sua vida, que cruza vários países, de Espanha ao Dubai, passando pelo Chipre, e, agora, Portugal. Com currículo impressionante ao serviço do Real Madrid, onde apanhou Figo, Ronaldo e Pepe, o antigo lateral cuida da carreira de um descendente que ambiciona caber numa idêntica galeria de estrelas. O pai disse presente e viu Miguel abraçar grande registo goleador nos juniores do Paços, faturando 13 golos em 32 jogos.
"Estou mesmo muito agradecido ao Paços pela oportunidade. Foi o local indicado para Miguel mudar de ares. Encontrou o seu perfil. Vi vários jogos e fez uma época muito completa. Acho que teve um excelente treinador que fez o adaptar-se à Liga sub-19. Aprendeu muito a jogar de costas, a buscar a vida sozinho em campo, a enfrentar centrais que batiam nele. Passou a saber o que é competitividade", ilustra Michel Salgado, que ainda imaginou possível uma estreia na Liga pelos castores, mas tal cenário perdeu força pela trajetória sofrida do clube que redundou numa despromoção.
"É natural que ele tenha ganho algumas expectativas, eu próprio achei possível. Mas temos de ver que o Paços passou por uma temporada muito difícil, sempre nos lugares de baixo. Nestes casos é muito complicado um treinador arriscar jovens, aposta sempre pelos mais experientes. Houve muitas mudanças no comando, mas sei que César Peixoto, que depois voltou, sempre gostou do Miguel. Isso levou-me a crer que talvez fosse estrear-se porque a sua segunda metade de temporada foi muito boa nos juniores", confidencia.
"Sei como o futebol é, não era momento para jovens. Eu, acima de tudo, estou agradecido ao Paços pela forma como desenvolveu o meu filho. O seu treinador, a sua equipa e o clube deram-lhe tudo o que necessitava."
Não se perde tempo na formação
Michel está por dentro da realidade do futebol português e entende a atração pelo jogador espanhol, tão em voga nos últimos anos, augurando-se novo recorde de nuestros hermanos. "Portugal procurava, antes, jogadores africanos mais fortes. Agora prioriza jogadores de sistema, de posição, matriz de Espanha", sustenta. "Aconselhei o Miguel, claro! Portugal tem projetos de formação claros e a ideia é sempre colocar um jogador na primeira equipa. Como é um país vendedor, não se perde tempo, busca-se o máximo rendimento e o mais rápido possível", enaltece. "O Miguel percebeu que tinha grandes opções. Ficou cómodo e feliz em pouco tempo. Tem casa em Vigo, estamos na fronteira. Adora jogar e treinar em Portugal. Em Espanha não era assim!"
Aguero, o farol de Miguel
De um pai que fez carreira de muitos anos como defesa-direito, impondo-se no Salamanca e Celta antes de passar uma vida no Real Madrid, a um filho ponta-de-lança vão muitas diferenças de estilo e comportamento. As referências de Miguel são outras, mesmo que por influência do primogénito.
"Nada se assemelhou a mim, é verdade! Eu ainda joguei de ala direito, na sua idade, talvez os meus dois primeiros anos como profissional, e também na seleção espanhola de sub-21. Mas passei a lateral e foi a melhor posição que podia ter encontrado para as minhas características", recorda Michel, tocando na inspiração do filho. "O Miguel já se sente como um avançado de referência desde os 11/12 anos. Porque teve sempre esse gosto de receber a bola de costas e lutar contra os defesas. Quem o marca, efetivamente, é Kun Aguero, o seu ídolo de menino. Ajudou também o facto de termos vivido em Manchester algum tempo. Introduziu-o no balneário do City e ele ficou encantado. Tem semelhanças com Aguero porque é forte de pernas, a jogar de costas, faz-se incómodo na busca de espaço e também sabe recuar para jogar na segunda linha", retrata.