Clássico entre Sporting e FC Porto visto em Leiria por um homem que defendeu, literalmente, as duas camisolas. Costinha passou por um museu com história e agarrou um desafio com memória
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A viver em Leiria, fruto de uma carreira que acabou no Lis e de um casamento que se forjou na cidade, tudo potenciado por uma etapa longa no União, atravessando épocas de Manuel José e Mourinho, Costinha é um espectador atento de qualquer Sporting-FC Porto pela ligação que teve a ambos os clubes, como promessa leonina que conheceu afirmação durante três épocas, chegando às Antas para duas épocas de pouca utilização, mas saborosas por terem valido o tetra e o penta. O cruzamento com este olímpico português de 1996 deu-se no MLP8, um museu que é uma construção pessoal de culto ao futebol de Luís Paiva, leiriense que nos brindou com memórias de um tempo em que jogavam Fernando Nélson no FC Porto, Moutinho no Sporting, sem esquecer talentos mais recentes como Bruno Fernandes no Sporting, Lucho e Galeno no FC Porto, ou o toque magrebino de Hadji nos leões, ou Brahimi nos dragões. Camisolas que desfilaram no meio de uma conversa animada, antecipando um jogo que ameaça quebrar o estado de graça de alguém, após três vitórias consecutivas nas três rondas inaugurais para ambos.
“São dois grandes que representei e que vejo fiéis à sua história. Vão lutar por objetivos altos. Um Sporting bicampeão, que segue forte. Mas não quer dizer que o volte a ser, porque há um FC Porto jovem e já a mostrar outra capacidade, a começar na atitude, num certo reencontrar da mística. Vai ser um bom jogo, conto com muita qualidade dos dois lados”, aprecia Costinha, esquivando-se a qualquer prognóstico. “O futebol é o momento, os jogos são sempre diferentes, uma equipa destas ganha, normalmente, pelo detalhe. Não há significativas diferenças, um pormenor pode modificar a história do encontro. Era isso que acontecia e isso ainda é regra nestes clássicos”, avalia o antigo guarda-redes.
Apenas envolvido em clássicos pelo lado do Sporting, um total de nove, num período em que mandou na baliza leonina três épocas, Costinha rebobina algumas dessas emoções. “Lembro-me de um Sporting-FC Porto, em Alvalade, no qual estávamos muito bem, estávamos em cima e, depois, fomos derrotados por um golo do Domingos, já perto do final. Ele, habitualmente, decidia os jogos”, conta. “As equipas competiam muito entre elas e era o detalhe que determinava o resultado. Depois há outro jogo, que dá empate nas Antas. Foi apitado pelo António Rola e eu acabei expulso, sem nada fazer. Eu faço um movimento ao saltar, mas é o Naybet que acerta no Domingos, que faz o papel dele e cai no chão. Eu, claro, era um miúdo de 20 anos, senti-me injustiçado e fiquei revoltado. Saí a chorar e todo nervoso. E ainda levei com três jogos de castigo. Volto num jogo em Faro e quem apita é o Rola. Já estava tudo bem, são aqueles momentos quentes, a tendência é discutir e tudo passa”, recua.
Formado em Braga, com subida a sénior no Boavista, afirmação no Sporting, consolidação de experiência no FC Porto, papel decisivo durante anos na baliza do Leiria, Costinha alimentou-se de bagagem suficiente dentro do futebol para intuir estados de espírito e possíveis comportamentos. Não embandeira em arco com teses de favoritismo nesta altura. “Acho que ainda é muito cedo para prever o que quer que seja. Estou certo de que será um jogo onde ambos vão entrar para ganhar. Há muita confiança de um lado e do outro. Vejo o Sporting com esses níveis bem reforçados, não só por ser campeão em título, mas pelo atual nível de jogo. Teve poucas mudanças e há essa estabilidade. Sofreram um bocadinho no último jogo, mas deram a volta com autoridade”, regista, avaliando quem viaja da Invicta. “Do outro lado, está um FC Porto que recuperou toda a autoestima, está muito diferente com uma atitude que não se via há muito tempo. Olhas para duas ou três peças que vieram e vês que meteram qualidade e mudaram a mentalidade. É uma equipa que está pronta para lutar, fazendo jus à sua história. Que seja um excelente jogo e, no final da época, já se verá quem pode ser campeão”, pontua o antigo guarda-redes.
A força de Suárez e Victor Froholdt
Lendo os primeiros sinais da época, o aroma dos reforços, que são capazes de mascarar debilidades ou potencializar virtudes coletivas, Costinha foca-se mesmo no que são as caras novas de leões e dragões, no seu olhar a papéis decisivos em Alvalade. “Prefiro falar dos novos, de jogadores de que estou a gostar muito, mesmo que possam ter momentos em que podem ir abaixo. Eu adoro este miúdo que chegou ao FC Porto, o dinamarquês, o Froholdt, nota-se que tem uma garra incrível, além da qualidade. É super inteligente no que faz por todo o campo, está sempre a ler bem o jogo”, evidencia. “Pelo Sporting destaco o avançado, o Suárez, que já marcou uma posição, não sendo nenhum Gyokeres, pois não é aquele jogador de corrida desenfreada. É um avançado que suporta o jogo da equipa, móvel, bom tecnicamente e inteligente. Estes dois têm-me impressionado, é lógico que há outros, aqueles que melhor conhecemos. Acredito que estes podem ser decisivos na temporada”, argumenta, desvalorizando qualquer ditadura tática na resolução da contenda. “A tática conta muito, mas estes jogos decidem-se mais pela intensidade, quem for mais competente nisso. O sistema é sempre subjetivo, os jogadores, com a sua mobilidade... Aponto mais para a atitude dos atletas como fator a definir o jogo”, conclui.
"Balizas bem entregues"
Internacional olímpico por Portugal, Costinha tem uma folha de serviços vasta e uma escola de guarda-redes que o mantém como alguém atento a quem se faz referência na posição, dando nota alta a quem guardará a sete chaves as balizas no clássico. “Estão muito bem entregues! O Rui Silva entrou muito bem no Sporting. O Diogo é um guarda-redes de exceção, tem feito excelentes épocas, assumiu a baliza muito jovem e continua jovem. Mas não se trata da idade, trata-se das oportunidades e do momento. Ele agarrou sempre e segue aí com um bocadinho mais de experiência. Está nas bocas do mundo e desejo-lhe mais sucesso”, atira, reconhecendo que também os leões se acautelaram bem na operação de Rui Silva. “Teve um trajeto diferente, teve de ir por fora para voltar pela porta grande. Conseguiu vencer todas as etapas e está num clube de referência. Mesmo os grandes guarda-redes nem sempre estão a cem por cento, mas o importante é sentirem que o clube deposita inteira confiança neles.”