Memórias à boleia da Taça: "Fui muito criticado e não estava habituado à exposição"
Bruno Conceição foi titular na última vez que os alvinegros eliminaram uma equipa de I Liga, escalão onde se estreou pela mão... do Paços.
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Ser tomba-gigantes diante do Paços de Ferreira é o desejo da Sanjoanense. A última vez que os alvinegros eliminaram um clube da I Liga foi a 23 de novembro de 2003, quando a Sanjoanense, então na extinta II Divisão B, foi a Barcelos ganhar ao Gil por 2-0. Bruno Conceição era o guarda-redes e, em 2008, a porta da I Liga abriu-se pela mão do... Paços de Ferreira. O JOGO promoveu o regresso do guardião à Capital do Móvel para desfiar memórias dos clubes que se defrontam no domingo.
Bruno, natural de São João da Madeira, saboreou uma das maiores alegrias pela Sanjoanense naquela tarde de outono de 2003. "Poucos acreditavam, mas fizemos um excelente jogo", recorda o ex-guardião, que era orientado por Luís Castro. "Na altura, até tivemos o Vítor Pereira depois de o Luís Castro sair para o Penafiel. Foram os primeiros treinadores que tive e que passavam muita informação sobre os adversários", lembra. Os dias que se seguiram à surpresa romperam a acalmia do clube: "Fizemos várias reportagens, inclusive no centro da cidade." Depois, o sorteio colocou o Moreirense no caminho dos alvinegros e o inesperado esteve quase a repetir-se. "Estivemos a ganhar por 2-0 e acabámos por perder por 3-2. Pagámos o preço da inexperiência", explica.
Bruno Conceição saiu da Sanjoanense em 2005 e em 2008 teve o convite com que sempre sonhou: jogar na I Liga. O guarda-redes começou a época a titular no Paços, mas perdeu o estatuto à quarta jornada e terminou a temporada só com seis jogos efetuados, saindo no final desse ano e nunca mais voltando a alinhar entre os grandes. "Acusei a pressão. Lembro-me de um Paços de Ferreira-Braga em que o jogo estava 0-0, acabámos por perder 2-0 e tive responsabilidades num golo. Fui muito criticado e não estava habituado à exposição", reconhece. Bruno não brilhou, mas deixou uma humildade reconhecida por todos. Tanto é que Jaime Sousa, vice-presidente para o futebol, o convidou para assistir à partida. Porém, Bruno não vai estar dividido. "Tenho muito respeito pelo Paços; fui bem tratado e deixei amigos. Contudo, quero que ganhe o clube da minha terra, da cidade onde moro e onde me formei", refere. Prognóstico? "Aposto num 2-1 para a Sanjoanense", concluiu.
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O mieloma que abriu outras portas
Um mieloma múltiplo, doença que afeta a medula óssea, trouxe, em 2014, uma atenção indesejada a Bruno Conceição. O guarda-redes teve de antecipar o fim da carreira, procurou um dador compatível, que até chegou a encontrar, mas o problema estabilizou antes de ser necessário um transplante. Sem o futebol, Bruno teve de se reinventar. "Comecei por trabalhar na indústria automóvel, mas não gostei. Entretanto fui para um armazém de calçado e passado um ano abri um negócio. Está a correr bem e sinto-me realizado", revelou.