Martim Águas é peça nuclear do Lusitano de Évora, carregando o sonho de novo capítulo de tomba-gigantes. Reencontra o Braga, onde já jogou
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Após ter sido promessa na formação, sobretudo nos últimos anos em que defendeu o Benfica, após passagens por Braga, Marítimo e Sporting, muitas vezes acompanhando o percurso do pai, Rui Águas, quando este era adjunto de Jesualdo Ferreira, Martim Águas é agora, aos 31 anos, um fruto maduro do Lusitano de Évora, que será rival do Braga na Pedreira.
Com quatro golos em 16 jogos, o criativo dos alentejanos tem assumido destaque, tendo sido peça influente nos feitos já somados na Taça de Portugal, diante de Académico, Estoril e Aves SAD, e o embate no Minho será especial, podendo recordar-se dos anos de menino na cidade, quando era sub-13 dos guerreiros.
Martim absorve estímulos de diferentes frentes, alimentando o sonho de mais uma gracinha na Taça de Portugal. “Vai ser, sem sombra de dúvida, um jogo entre dois grandes clubes. É gratificante fazer parte de um jogo destes pelo Lusitano, que merece, desde há muito tempo, voltar a jogar contra as equipas do mais alto patamar do nosso futebol”, documenta, reportando-se à grandeza de um emblema que jogou 14 épocas consecutivas na I Divisão, entre 1952 e 1966. “Pessoalmente, é também especial, porque vivi três anos muito bons com a minha família em Braga, e a vestir aquela camisola”, acrescenta Martim Águas, sentindo a proximidade do jogo e o encanto de uma prova em que o Lusitano tem espalhado magia e descaramento.
“A nossa campanha tem superado as expectativas, mas foi realmente precioso jogar os três jogos com Académico, Estoril e Aves SAD em nossa casa, o fervor do nosso público tornou o difícil um pouco menos difícil. O ambiente no campo da Estrela, nesses jogos, é difícil de descrever. Só vivendo mesmo!”, destaca, consciente de que ir a Braga perante um adversário de alto calibre, que compete três escalões acima, tem um peso extraordinário. “O grau de dificuldade é máximo. O Braga está no topo do nosso futebol, e estando numa fase menos boa ou não, não muda nada a respeito do favoritismo. Jogar fora vai ser um desafio ainda mais complicado; por outro lado, é merecido para o Lusitano e para os nossos adeptos. Assim vão ver a equipa medir forças num estádio da dimensão da Pedreira”, enfatiza Martim Águas, recusando individualizar figuras no rival. “O plantel do Braga é, à imagem de outras épocas, muito completo. O onze até pode mudar todos os fins de semana, que a capacidade da equipa não se altera”, ilustra, puxando galões dos argumentos que o Lusitano levará para o campo. “A nossa equipa, acima de tudo, é muito completa, temos um plantel com muita qualidade em todos os setores e com um espírito forte. Uma mistura de juventude e experiência, que se equilibra muito bem dentro e fora do campo”, avalia.
Golo a Ederson nas credenciais
Apesar de muito ter prometido, a carreira de Martim Águas distanciou-se do topo e, após deixar o Benfica, foi conhecendo clubes como Casa Pia, Sernache, 1.º Dezembro, Pinhalnovense, Sintrense Orientar Dragon, União de Santarém e, agora, o Lusitano de Évora. Introspetivo, é crítico da mentalidade que o dominou numa fase decisiva da carreira. “É difícil fazer um balanço resumido. O que ficou por fazer foi entregar-me a 100 por cento, como faço de há cinco/seis anos para cá. Demorei alguns anos a focar-me totalmente naquilo que é preciso para se dar um salto maior. Não tenho ressentimentos, nem desconsolos; felizmente, sou uma pessoa resolvida no que ao futebol diz respeito”, afirma, reconhecido ao desporto que abraçou também por herança familiar de um pai craque e de um avô que foi monstro do Benfica: José Aguas.
“O mais importante é que sou feliz a jogar e o futebol, dentro dos azares e sacrifícios, sempre me deu muito mais do que me tirou”, argumenta, identificando um episódio especial, que até aconteceu na Taça de Portugal, quando o 1.º Dezembro deu luta ao Benfica, perdendo apenas por 1-2. Martim marcou de penálti a Ederson, que tinha sido seu colega na formação das águias. “Foi algo muito marcante, porque fiz um golo e esse jogo foi disputado até ao último minuto. As emoções foram indescritíveis, quem me conhece sabe bem o que senti e o que vivi nesse dia com os meus companheiros”, atira, recuando a memória à época 2016/17.
Alegria e saudade dos anos em Braga
Numa viagem à infância, concretamente à etapa Braga, Martim Águas ainda sente esse tempo com nostalgia. Era então um menino com predicados, enfeitiçado com o esplendor de um novo Braga que nascia. “Recordo com muita alegria e saudade. Esses três anos da minha vida em Braga foram, sem dúvida, dos melhores. Guardo a experiência tanto a nível familiar como futebolística. E ainda conservo alguns amigos com quem joguei e amigos da família que se mantêm até hoje. O Andrés Madrid é um exemplo de jogador da altura com quem foi criada uma ligação muito forte”, destaca, dissecando o potencial que se vislumbrava naquele período. “Já era um clube com muita ambição e estava a evoluir imenso na formação. As condições não eram as mesmas de hoje, mas já se notava um crescimento acelerado e contínuo. A equipa A já era habitual nas competições europeias e lugares cimeiros da liga, com jogadores marcantes. Nessa altura, Wender e João Tomás, por exemplo”, reflete.