"Marítimo não se pode contentar com a II Liga, ainda para mais vendo que o grande rival subiu"
Danilo Dias e José Sá falaram com O JOGO sobre a atualidade dos insulares, caídos na II Liga e numa luta titânica para subir. Distante, mas com o coração nos Barreiros, o antigo avançado sente-se “incomodado” com a realidade Marítimo. Apesar de tudo, acredita que o clube vai dar a volta à situação.
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Vai custando ver o Marítimo na II Liga com todo o seu peso entre os melhores, a falta do estímulo no Caldeirão, que tantas vezes desafiava os grandes e engolia os seus craques. Os insulares foram uma força declarada no futebol português a partir dos noventas e até 2017/18 não deixaram de fazer campanhas interessantes, espreitando a Europa e, tantas vezes, entrando na UEFA. Depois da subida falhada, na época passada, os maritimistas esperam que não fuja novamente o reencontro com a casa de tanta história e glória, caminhos saudosos que levaram a equipa a cinco quintos lugares na I Liga, a melhor classificação somada pelos ilhéus. Foram 44 presenças na divisão maior, 39 de forma consecutiva, e os verde-rubros não podem ficar reféns do tempo e da incerteza do seu lugar. Recuando a protagonistas do último quinto lugar, alcançado em 2011/12, ligação ao Brasil para uma conversa com Danilo Dias, 39 jogos, nove golos e oito assistências. Hoje é comentador desportivo em Goiânia, fazendo a voz chegar com autoridade.
“É verdade que o clube vive uma situação diferente, era uma equipa habituada a jogar por acessos europeus, lutar pelo quinto lugar. Estamos a falar de um emblema centenário, qualquer um dos grandes sentia a pressão de jogar no Caldeirão. Foi pena a época passada, dependia de si para entrar no play-off. Esses dias difíceis vão passar e o Marítimo vai voltar ao lugar de onde nunca devia ter saído. Incomoda-me a mim, aos adeptos mais ainda, porque se habituaram a ver jogos grandes, ver a equipa na UEFA, ver grandes jogadores. Não se podem contentar com a II Liga, ainda para mais vendo que o grande rival subiu. Tem de dar a volta depressa e vai dar”, destaca Danilo Dias, avançado móvel do emblema insular entre 2010 e 2014.
“Dói-me a atualidade do clube”
Invadido pelo prazer de cada janela que abre para respirar o passado, Danilo sai a jogar, indiferente a qualquer toque ou pancada. “Os brasileiros divertiam o grupo, Roberto Sousa conseguia ser engraçado e sério, mas o mais brincalhão era o Heldon, fazia rir toda a gente pela forma como conduzia as danças de Cabo Verde. Tudo foi bom, retirámos bons frutos do grupo e do balneário”, recorda sobre os bons tempos. A realidade agora é outra, mas Danilo, sábio e enérgico nas palavras, mantém “esperança grande” sobre o futuro.
“Na época passada a subida esteve perto. Há uma adaptação de um clube que viveu anos sucessivos na liga principal, a jogar para outros objetivos. Demorou a entender a nova competição. Mas atenção, o Marítimo é de primeira, é assim que falo do clube a todos os meus amigos. Dói-me a atualidade do clube, porque joguei pelo Marítimo contra Brugge, Bordéus, Eintracht Frankfurt... Mesmo assim ainda é o maior das ilhas. Haja força e fé dos nossos adeptos, essa camisa é muito grande”.
“Fico triste pelo presente”
José Sá faz parte do núcleo de jogadores que o Marítimo ainda projetou para maiores palcos, chegando ao FC Porto na mesma fase de Danilo e Marega. O guarda-redes do Wolverhampton, da Premier League, em curtas palavras com O JOGO, também lembrou os tempos na Madeira, várias épocas em que viajou da equipa B ao plantel principal.
“Fico triste pelo presente de um clube pelo qual mantenho o carinho, que me lançou na I Liga por empurrão do Pedro Martins. Ainda me zanguei com ele porque depois de me estrear, retirou-me da equipa. Só na Grécia é que falámos melhor e percebi o que se passou. Hoje temos uma ótima relação”, salienta o internacional português, 31 anos, olhando ao que viveu e ao destino sofrido dos funchalenses. “Culpou-se muita gente, mas a verdade foi aparecendo, até se chegar a este ponto. Havia uma energia boa, grupos ótimos, a malta dava-se muito bem. Havia um misto de jogadores trabalhadores, outros de maior qualidade”, sustenta. “Foi uma fase próspera do Marítimo e muitos jogadores davam o salto. Continua a ser um clube de primeira, é mais que sólido, só precisa das decisões certas”, conclui.
Pedro Martins foi o melhor
O trajeto de Danilo Dias no Marítimo ganhou visibilidade com a chegada ao banco de Pedro Martins, atual técnico do Al Gharafa, do Catar, e responsável pelo quinto lugar de 2011/12. “Vivi vários momentos incríveis. Era um menino de 23 anos quando cheguei, fui colocado num apartamento perto do hospital, onde vieram a nascer os meus dois filhos. Cheguei com a ideia de me projetar na Europa, consegui isso no Marítimo. Gostaram do meu talento mas ainda passei dificuldades com Van der Gaag. Não teve tanta paciência, não me punha a jogar, pedia uma adaptação rápida, tive de ir aprendendo. Mas quando chega Pedro Martins, oriundo da equipa B, tudo muda. Foi talvez o melhor treinador que apanhei na vida, pela pessoa, capacidade de gestão do grupo, paciência, soube extrair o melhor de todos”, documenta.
“Montou uma excelente equipa, corríamos pelos companheiros, era um ambiente saudável e um nível de treino e futebol elevado. Tínhamos esse meio-campo com Olberdam, Rafael Miranda e Benachour, eu, Babá e Sami, um tridente que deu muito que falar na frente, mais o Heldon que sempre entrava bem”, lembra, creditando a época vivida. “Foi um grupo cheio de sucesso, que chegou à fase de grupos da Liga Europa, fazendo história. Que saudades tenho de ouvir os adeptos gritar ‘mete o Danilo’. Só de falar estou aqui arrepiado”, conta.