Marco Pereira voltou a competir contra o Amarante, 671 dias depois de superar duas graves lesões. O guarda-redes, de 37 anos, foi operado há duas épocas ao menisco, quando o Santa Clara estava na I Liga. Teve uma recaída, fez nova cirurgia e agora quer reencontrar a felicidade perto de casa.
Corpo do artigo
Marco Pereira era o titular da baliza do Santa Clara quando o azar lhe bateu à porta, obrigando-o a ficar sem jogar durante quase duas épocas. O guarda-redes falhou toda a temporada anterior, que culminou com o regresso dos açorianos à I Liga, e grande parte de 2022/23, quando desceram ao segundo escalão. Ultrapassadas as duas lesões graves, o guardião natural de Castelo de Paiva voltou a jogar diante do Amarante, com a Sanjoanense a sair derrotada por 1-0. O deslize não assusta e Marco entende que é necessário dar tempo a um plantel totalmente novo e no qual os adeptos depositam confiança.
Qual a sensação de voltar a jogar 671 dias depois?
-Foi uma sensação boa, só foi pena não termos conseguido a vitória. Não foi fácil estar tanto tempo sem jogar. Foi uma fase complicada, passei por duas cirurgias e as recuperações nunca são fáceis, mas felizmente voltei a fazer o que mais gosto, que é jogar à bola. Tive uma lesão em 2022, a seguir ao jogo com o Rio Ave, num treino antes do jogo contra o Sporting. Senti um desconforto no joelho, acabei por ser operado ao menisco em janeiro de 2023. Fiz a recuperação normal, mas quando voltei a treinar continuava com os mesmos sintomas. Em agosto de 2023 voltei a ser operado ao ligamento cruzado anterior. Foi um processo difícil durante o qual duvidei de muita coisa, até se ia voltar a jogar.
Nesta estreia, o que faltou para ter outro resultado?
-Acabámos por ter muitas oportunidades contra o Amarante, mas não concretizámos. Faz parte do processo, a equipa é toda nova, a estrutura também, mas estamos no bom caminho. Os adeptos gostaram do jogo, da equipa, e é importante sentir o apoio deles. Nem quando se ganha está tudo bem, nem quando se perde está tudo mal. Agora é dar uma boa resposta contra o Vilaverdense.
Não ficou nenhum jogador da época passada, isso é uma desvantagem?
-Não é uma desvantagem. A administração mudou em maio, o clube está a reestruturar-se e as pessoas vêm com muita força, dinâmica, estando a devolver o clube à cidade e aos adeptos. Isso viu-se no jogo, com o estádio bem composto e os adeptos com a equipa, mas isto é um processo que demorar a assimilar. A equipa é toda nova e é normal que no primeiro jogo não seja tudo perfeito…
Que ideias vos tem transmitido o Filipe Gonçalves?
-Pensar jogo a jogo, desfrutar, ter prazer em ter bola, sermos agressivos quando não a temos, procurar recuperar o mais rápido possível e tirar proveito de cada jogo. Vamos ficar com as coisas positivas deste jogo e corrigir as negativas contra o Vilaverdense.
Por que razão escolheu a Sanjoanense para prosseguir a carreira?
-Primeiro pelas pessoas que estão à frente do clube. Acreditaram sempre em mim numa fase que não é fácil, pois muitos duvidavam se estaria bem para jogar futebol. Demonstraram vontade em ter-me aqui e eu acredito no projeto do clube. O estar mais perto da família e dos filhos, depois de muitos anos nos Açores, também pesou.
Que objetivos propôs a Direção para esta época?
-A Direção não propôs nenhum objetivo em concreto. É dar tudo pelo clube em cada jogo e deixar tudo em campo por este símbolo. Se o fizermos, estaremos mais perto da vitória.
Sente-se com capacidade para jogar até que idade?
-Não estipulei nenhuma meta. Sinto-me bem fisicamente. Houve uma fase em que tinha dúvidas, mas já não as tenho. Agora é treinar e jogar, isso é que me vai ajudar a estar cada dia melhor para ajudar o clube a atingir os objetivos.
Ronaldo e Pepe são exemplos de longevidade. Que cuidados é necessário para estar nesse nível?
-O Pepe e o Ronaldo estão num patamar muito acima. O que demonstram em campo é fantástico para a idade que têm e isso não está ao nível de qualquer jogador. Ainda agora no Europeu foi fantástica a condição física dos dois. São um exemplo que toda a gente deve seguir. No meu caso tento ter sempre cuidados, nomeadamente com a alimentação.
Os guarda-redes perdem ou ganham qualidades com o tempo?
-O guarda-redes vai ganhando sempre qualidades com o tempo. Agora penso o jogo de maneira diferente, a idade vai-nos dando isso. Sempre adorei o Buffon e em Portugal tive o Vítor Baía como referência.
Agradecimento a Serrão, o paraíso dos Açores e os sonhos falhados
Marco Pereira esteve durante as últimas sete épocas ligado ao Santa Clara, onde viveu num contexto inesquecível. “Nos Açores tudo é fantástico, é um paraíso autêntico. As pessoas sempre me receberam de braços abertos, são mais tranquilas. Aqui a vida é mais stressante, há mais trânsito…”, compara o guarda-redes, destacando que o Santa Clara foi o ponto mais alto que teve na carreira. “Joguei durante quatro épocas na I Liga, mais outra pelo Trofense. Sonhava ter atingido outras coisas, como ir à Seleção ou estar num patamar mais acima, mas nem sempre atingimos o que sonhámos”, expões, explicando que o treinador de guarda-redes José Serrão ajudou-o a não desistir do futebol. “Após este ano e meio parado, ele mostrou-se disponível para me ajudar numa fase de dúvida e desconfiança”.